Um homem olha pela janela de casa e vê sua filha sentada na grama do jardim, sozinha.
Intrigado e preocupado com o "por que" dela não estar brincando com as outras meninas da rua, como uma criança normal. Vai até está...Com a desculpa de levar um doce.
-Olha, Filha ..!? Chocolate.
A menina olha e sorri, ao mesmo tempo que já esta erguendo seus finos braços para pegar a guloseima, que sem demorar muito lhe é entregue. Seus cabelos ondulados, parecem recém cortados de um jeitinho errado. O homem, que pouco sabe, pergunta com pingos de aflição: -Minha princesa, o que aconteceu com o seu cabelinho?
Ela tira o açucarado doce da boca miúda e respondeu, simples e inocente, ao vivido ser: -As meninas disseram que eu era má, e que para ser boazinha de novo elas deviam cortar o meu cabelo -seus olhos grandes e verde-azulado tremulavam, mas não deixaram cair uma lágrima se quer. Em vez disso, voltaram a olhar uma roseira maquiada de rosas brancas, imaculadas.
-Eu vou falar com a sua mãe sobre isso... -antes que ele sai-se ela fala, quase que em um suspiro. -Mamãe, já sabe! -respirou fundo e deixou finalmente repousar os ombros firmes.
O pai vendo isso, não pensa duas vezes e senta ao lado do projeto de mulher.
-Vamos conversar? -Sorriu, olhando a pequena criatura.
-Papai? Você e Mamãe, vão me deixar. Só por que elas não gostam de mim? Pode dizer, vou mudar...Mas, não me deixem! Tá? -agora, uma lágrima alto permite-se escorrer. Porém, os graúdos olhinhos juvenis nunca deixam a planta.
-Claro que não, jamais a deixaríamos para trás -obviamente, a emoção do momento trona o rosto do homem triste e choroso. -Por que essa dúvida, minha princesa?
-Ouvi a Mamãe dizendo ao telefone: "-Nos não vão mais permitir a entrada dela aqui nessa casa."
-Sua Mãe devia estar falando de outra coisa. Nós te amamos muito...
-Muito? -olho para o mais velho.
-Muito, o amor que sentimos por você é grandão, assim... -abre os braços demonstrando. -Não! Espera, é muito maior... -a mais nova interrompe.
-É maior que o céu? -aponta seu dedinho longo e magrelo para o imenso céu azul-alaranjado.
-Muito maior -começa a rir do momento vivido.
Um silêncio, um tanto quanto assustador, toma o local e ambos observam a formosa roseira.
-Pai?
-Diga, Princesa.
-De qual cor é aquela rosa, ali? –indica a filhinha.
-Branca! Ora!? Que pergunta é essa? -revoltasse.
A menina não diz nada e prepara outra pergunta: -Pai?
-Diga!
-De que cor é o branco?
-Branco é branco! -rápido, responde.
-Pai! -chama indignada.
-O que foi, Boneca? -irritasse um pouquinho por não entender.
-Essa resposta está errada...Mas eu vou mudar de pergunta, tá? -o ser velho, concede com a cabeça. -O que é o branco?
-O oposto do preto –pensa ter acertado dessa vez.
-Quase. Talvez, assim, fique fácil. O que é o preto, então?
-A escuridão, o nada.
-Então, o que é o branco?
-A luz, o...tudo?!
-Sim, quer um pedaço? -oferece, enfim, o doce ao homem. Este, por sua vez nega. -Pai, de que cor é o branco?
-Filha, o branco é branco.
-Não, Pai. Pense melhor, veja as outras perguntas –morde o chocolate, quase no fim.
Minutos se vão, tudo na busca de uma resposta satisfatória.
-Eu desisto! -entrega os pontos, cruzando os braços.
-Okay –desanima.
-Qual a resposta certa? -olha, curioso para pequena.
Que responde com uma nova pergunta: -Pai, qual a cor , você acha, que vai se sobrepor se agente misturar todas elas?
-Não sei... Mas, o que as cores tem haver com aquela historia de antes? -demonstra estar confuso.
-TUDO! -explode sua teoria. -Eu sou como essa roseira, Pai –alevanta. -Dou ao mundo flores brancas, aquelas garotas não devem gostar de mim...porque eu me dou bem com todos! -fica na frete do senhor. -Branco é a mistura de todas as cores, Pai –bate o pé. -Eu fico bem com qualquer outra cor! Não importa se é vermelho, rosa, carmim, marrom ou, até mesmo, preto. -ofega de exaltação. -É o que eu acho... -intimidasse.
O homem fica de boca aberta, sem dizer nenhuma uma palavra. Contudo, ele tem que voltar a si.
-Caralho! -começa a rir. -Eu sou muito burro! -gargalha, a quase chorar. -Eu concordo com você, Princesa.
Os dois se olham por alguns instantes, que são interrompidos por uma chuva repentina. Quando entram na casa a mulher está ao telefone: -Olha, Carla! Eu não quero mais a sua filha na minha casa, entendeu? Vá dar modos a ela! -desliga com força.
Os dois molhados se olham e sorriem de canto juntos, nada é dito. E para que?