As pessoas eventualmente modificam-se. Em síntese esse evento deveria ser triunfal, porém, não se adveio dessa forma com ele. Sou Lira, a princesa do país de Byakko. Presenciei a letal cena da eliminação dos meus pais — cruelmente —, por quem eu costumava desejar.
O amor é o sentimento mais puro já experimentado pelo homem, no entanto, assim como o vidro, um só deslize é capaz de destruí-lo. Meu coração sofreu esse doloroso desilude, restando apenas cacos.
Destino? Sempre acreditei em contos de fadas, entretanto, ser destinado a uma passagem sagrada é uma interpretação forte demais. ‘O amanhecer vermelho e branco’ era o título da história de como surgira o país.
Existente a séculos, foi passada de geração a geração. Dois amantes, uma humana de cabelos rubros e seu poderoso aliado, o tigre branco. Apenas um olhar, e a conexão fiel entre o esbranquiçado com a estranha de mechas incomuns era estabelecida. Segundo a lenda, constituíam designados de outras vidas, protegendo essa terra de qualquer mal proeminente da ganância, luxúria, egoísmo, maldade, e o ego que encobria a verdadeira essência humana.
Assim como o Yin e Yang: Yin designado ao princípio passivo, noturno e gélido, e o Yang designado ao princípio ativo, diurno e quente. Representavam o equilíbrio, do mesmo modo como Naiya e Kim, respectivamente o tigre alvo e sua dama das fábulas. Juntos, lutaram lado a lado para restaurar o balanceamento de Byakko, e conduziram por anos um país puro.
Havia uma coincidência neste contexto, meu cabelo. Os fios avermelhados eram distintos, assim como a senhorita do mito. Esse fato jamais me incomodou. Até agora.
1 dia atrás - Floresta Oeste, 200 km do Castelo Real Naiya; Byakko.
Meus nervos permaneciam rígidos há dias. A lembrança do sangue transitando da garganta — de quem eu mais amava —, para o chão, em grande escala, e rigidamente, assombrava-me. Adjunto se enxergara os minúsculos espasmos pertencentes aos músculos que gritavam por ajuda. Era tarde, era tarde demais.
As lágrimas não possuíam poder para salvá-los, nem mesmo alcançara mudar o destino sombrio ali traçado. Por quê? Eu o amava. Sonhava em construir uma família ao seu lado, por quê ele? Por quê Leon?
Catherine solicitou minha presença ao seu lado. A floresta escondia sua glória sobe os cadáveres devorados. Eu a obedeci, permaneci ao seu lado, o tempo todo. Porém, o arranhão em minha garganta era um incômodo, o ar transbordava, mas, ainda assim, parecia escassear.
Somente uma volta. Só. O lago Shiro era beirado ao pequeno acampamento que nos aconchegávamos. Fugíamos há semanas, não me lembrava mais da última vez em que adormeci na confortável cama real. Minhas memórias tornavam-se anêmicas, junto ao meu físico.
Sentia-me dopada, nem mesmo a amargura atingia-me mais. Entrava num lento transe, advindo através dos traumas vividos. Um estado de choque que se agravava para uma letal dormência do meu cérebro. Tornando-me um robô, abandonando toda e qualquer humanidade.
Apesar de apreciar minha salvadora, eu precisei fazer tal ação. Catherine fora a única família que me restou. Ela se deparava abatida, entretanto, seu apelido ‘Trovão Branco’ era violento o bastante para nos proteger. Sua destreza e força extraiu-nos do castelo, quando a ordem era absoluta, sermos executadas.
A mulher alta e magra, com curtos cabelos brancos e olhos verde esmeralda, incumbia o título de guardiã da princesa.
A nobre escudeira, e também líder do exercício real, resguardava-me desde pequena. Porém, os cacos de vidro decorrentes da chacina no castelo significavam o máximo para ela. O homem que amei, e que nos traiu, era ninguém menos do que seu irmão mais novo, Leon.
Ser abrigado por alguém que está em estilhas, assim como você, é humilhante. Eu... eu, queria acudi-la. Carecia me desenvolver, virar alguém mais forte, estava cansada de tornar o fardo dela maior. Mas como? Meus sentidos não contestavam, a abertura emocional se voltava mais idêntica a um abismo, e meus olhos insistiam em cerrar e pesar, a cada novo dia os motivos para sobreviver esvaeciam mais e mais com os sopros violentos de vento.
Não passava de covardia, tudo que continuamente signifiquei se resumia em fraqueza. Abrir os olhos em um amanhecer avermelhado, e crer que seus conceitos não bastam mais, que seu caráter continua a ser o de uma princesa mimada, pesa.
A percepção de ser como um imã e o chão puxar-te para ele como outro imã. Pendi-me ao lago, ajoelhando-me para observar o mesmo. Pude notar o reflexo do meu rosto. Os olhos azuis refletidos ali, estavam sem vida. Era irreconhecível. O que deveria fazer? Quem deveria procurar? Minha mente abafava tantas dúvidas, em tal grau, que nem mesmo um matemático poderia definir.
Infundi o máximo de ar possível, dando a minha corporação uma distração. Ao analisar o redor, intuí que a floresta reprimia uma formosura extraordinária a noite, mas, o homem tomado por medos inexistentes não sabia aproveita-la.
Quem sabe eu estivesse com medo, amedrontada demais para seguir adiante. A aversão impedia-me de moldar meu novo caráter. Sorri, genuinamente, depois de tantos dias. A resposta estava clara, entretanto, apresentei dificuldade em vê-la.
“Não vou desistir.” Cochichei.
Apanhei uma encurtada pedra, ao lado do meu polegar. Meus pais expunham que, improvisar um pedido antes de jogar uma pedra enunciava sorte. Caso ela atravessasse uma grande distância saltando esse pedido se realizaria.
Eu desejei apenas rir novamente, e tornar-me alguém que leve sorrisos para outros indivíduos também. Queria orgulhar mamãe e papai, onde quer que estivessem. Movimentei os braços com vontade, e arremessei o mais longe que pude, ressaltando seus saltos na água.
“Consegui!”
Aquele limitado ato originou um impulso de alegria ao meu cérebro, o suficiente para incitar meu corpo a reagir, todavia, não foi precisamente em uma boa hora. A terra estava úmida, fazendo meus pés deslizarem a caminho da água. Caso fosse meu fim, ao menos eu sorri.
“Não deveria se conformar tão depressa.” Dois braços musculosos envolveram-se em minha cintura, trazendo-me de volta. “Você sempre foi descuidada, Lira.”
Aquela voz, eu reconhecia aquela fala. Estava amadurecida pelo tempo. O cheiro da corporação que me rodeava, e o toque, era ele.
“Dante!” Contornei-o para rodeá-lo num abraço.
“Calma Lira, sei que faz alguns anos, mas te ver me abraçando é assustador.” Seu sorriso era o mesmo, assim como os olhos azul piscina.
Dante, Leon e eu, éramos amigos de infância inseparáveis. Se ele soubesse o que houve com Leon. Dante o travava como um irmão, admirava-o. Nossos destinos sempre se cruzaram, jamais havia abrangido. Como poderia idealizar que o acaso é tão atroz? Três inocentes crianças, com um único ideal, sempre estarem juntas. Entretanto, uma antiga lenda nos amaldiçoa e assim nossa jornada se inicia.