Suspensos em um sonho passageiro, presos pelo luto, pelo arrependimento, choque e negação. Os desejos dos outros nos prenderam aqui, com ele.
Afundados em melancolia e no esquecimento, esperamos o momento em que voltaremos como uma folha em branco, sem nos dar conta da natureza trágica de nossa existência. Somos ecos do passado, somos o fardo e o trauma daqueles desafortunados da classe 3-3. Éramos a classe 3-3. E mais uma vez veremos o sangue escorrer, as lágrimas caírem como chuva e nossas mãos geladas envolverem aqueles ainda vivos.
Somos os vultos nas fotos, aqueles que observam do escuro, aqueles que não estão mais mortos, o som da respiração no silêncio, a negação ecoando no futuro. Ou talvez apenas um de nós.
Ele está preso a este mundo e, como se fosse a própria gravidade, nos mantém orbitando, esperando, arrastando mais e mais pessoas com o passar dos anos. E ele não percebe, ele não sofre, ele não se entristece, porque o que ele representou aos poucos começa a desaparecer, como a memória de sua existência. Ele apenas está lá, segurando a mão de cada um de seus colegas de classe na passagem, desejando embarcar com um deles para o outro lado, mas não se dá conta disso, pois tudo está tão desvanecido que ele apenas aguarda. E ele já não sabe pelo que aguarda.
Entretanto, sorri. Um sorriso melancólico, torto e chamuscado. Seus olhos ainda guardam o medo e a dor, a sede por viver. Ou quem sabe por ter companhia em sua própria tragédia.
O último sinal do dia do colégio ressoa pelos corredores banhados pela luz do crepúsculo, o laranja vazio e sombrio. Nós andamos, como memórias borradas de quando existimos e, de repente, um de nós se infiltra. O outro.
Mais um ano, mais uma calamidade injusta.
Quem é o morto?