Eu olho no espelho e enxergo você em cada curva torta que meu corpo faz. Vejo os seus olhos cansados em mim, as mesmas linhas de expressão do lado da boca, uma marca quase invisível dos sorrisos — falsos. Daí vejo o cabelo, o lugar onde a gente mais difere, e começo a perceber os erros cada vez mais aparentes. Não, eu não sou como você.
É como se eu fosse uma pintura falsa, na verdade. Se chegar perto o suficiente, vai ver os erros.
E ainda assim, eu esperava que você me amasse. Esperava que dissesse que ‘tava tudo bem, que você me aceitava; mas você não aceita. Não há margem pra erro ou redenção.
E no fim só me resta a tranca do quarto, protegendo vocês da minha impureza. Libertando suas consciências de pesar com meu choro mudo.
Não importa o quanto a gente se parece, ou o quanto eu me esforço pra você me amar. Você só ama o seu reflexo refletido em mim, nada mais.