O festival começou, mas a magia da noite não está ao nosso favor, nossas mãos não se tocam nos extremos, nem mesmo os espinhos longos e afiados entre nós dois. O vaso vazio e empoeirado sobre a minha mesa conta uma história frágil, que murcha e é levada por cada estação que passa. Por ele, várias flores passaram enquanto florescíamos no coração um do outro, das rosas brancas e vermelhas, sempre lindas e dolorosas sob a luz do luar nas noites que nos víamos, até as gérberas, jacintos, margaridas e miosótis.
As cinzas das hortênsias azuis que você me deu, as últimas que adornaram o meu vaso, estão flutuando eternamente no rio no qual eu as joguei, cada pétala abundante me lembrava você, a cor não me trazia mais calma e tranquilidade, a devoção que você me prometeu desapareceu quando nosso amor tornou-se fugaz, sufocante e solitário. Por tantas vezes eu quis gritar ‘’fique comigo’’ enquanto os grãos de poeira caíam sobre nós dois, mas nada nos salvaria das chamas da indiferença. Logo, o ‘’fique comigo’’ tornou-se o desejo de que você chore por mim. Se não posso tê-lo, se me machuco com esse amor, desejo que eu não seja o único. Nesse jogo, nós não jogamos pelas regras, portanto, derrame-se por mim.
À meia noite, quando as palavras cruéis e levianas forem apagadas das páginas de nossa história e a solidão escorrer entre as frestas dos cacos dos nossos corações, mostre-me suas pétalas azuis chamuscadas, sua exuberância desbotada, e eu te mostrarei a minha devoção no altar dessas mentiras belas. Os fogos de artifício não iluminarão o céu, mas as chamas da solidão iluminarão a noite.
Venha, pegue a minha mão, sinta as faíscas que irão nos queimar sob a noite sem magia. Apenas nos repetimos neste mesmo cenário e nos machucamos novamente, ignorando covardemente o vaso empoeirado sobre a minha mesa e nossa história egoísta. E quando tudo acabar, sorrindo eu te darei um beijo de despedida, diferentemente das hortênsias que você me deu, não poderemos ser elegantes e puros em nossos sentimentos.
Está tudo bem, agora que chegamos ao fim. Eu florescerei em abundância, preencherei o vaso vazio e assombrado por sentimentos desmoronados.
Agora, as luzes apagam-se, as flores murcham e o mundo sussurra enquanto andamos em direções diferentes. No festival que não tivemos, sequer somos uma memória distante.