❝Acho que a única razão de sermos tão apegados às memórias, é que elas não mudam, mesmo que as pessoas tenham mudado.”
“ Anos atrás...
Os olhos escuros fitavam o Sol se pondo, sentindo a leve brisa ir de encontro a sua face pálida e balançar graciosamente seus longos cabelos ruivos. Ela conseguia ver o Sol esvaindo-se no horizonte e dando lugar para o anoitecer. Por um momento perguntou-se quanto tempo estava ali sem que ninguém desse a sua falta.
Abraçada aos seus joelhos magros e ossudos, a pequena garota permitiu-se deixar uma lágrima, silente, descer por sua face tão delicada quanto a mais fina porcelana. Tudo bem, ela era somente uma pré-adolescente de apenas onze anos e que tinha muito o que viver ainda, mas isso não a impedia de sentir-se daquele jeito; não a impedia de sentir-se triste. No entanto, deixaria somente aquela lágrima sair, somente ela.
Sentindo o seu peito queimar, levou seus dedos magros e pálidos em direção a sua fina blusa de algodão, apertando-a; desejando sufocar aquele sentimento esmagador. Por breves segundos, fechou os seus olhos escuros, olhos esses que haviam perdido por completo o seu brilho encantador, tanto que outrora poderia ser comparado com os pequenos pontos cintilantes que enfeitavam o firmamento. Mas logo tratou de abri-los, fitando a escuridão noturna.
— Todas as coisas cooperam para o bem… Mas que bem isso está me trazendo? — questionou ao vazio. — Eu não entendo…
Fitando o firmamento mais uma vez, sentiu os seus olhos arderem devido às novas lágrimas que se acomulavam, mas ela não as liberaria. Contudo, tudo o que recebia de volta era o som do vento ricocheteando as árvores e o cantarolar dos grilos em sua festa noturna.
— Por quê? — questionou mais uma vez, em um sussurro melancólico. — É tudo o que eu desejo saber…
Mais uma vez recebeu o silêncio como resposta, deixando-a desolada. Aquilo não era justo, pois ela queria uma resposta, desejava entender. Aquele silêncio era longo e torturante.
Até que ela ouviu o som das folhas serem esmagadas atrás de si, denunciando a pessoa ao qual se aproximava. A ruiva tratou de recompor-se rapidamente.
— Você sabe que se ficar aí vai acabar pegando um resfriado — disse uma voz feminina atrás de si.
— Você sabe que eu não me importo — falou, mas fez uma careta de desgosto ao notar que a sua voz saiu mais rouca do que desejava.
Então, ela sentiu a presença da pessoa atrás de si, envolvendo-a em uma manta quentinha.
— Mas eu me importo. Somos amigas, não é mesmo? — Então a ruiva olhou-a, deparando-se com os olhos esmeraldinos da garota loira. — Vem aqui! — Ela acrescentou, envolvendo a ruiva em um abraço. — Você sabe que não está sozinha, nunca estará — sussurrou a garota em seu ouvido. Então, a ruiva sentiu um novo par de braços envolvendo-a também, ela não precisou olhar para saber quem estava ali com elas, ela sabia…
Ela ficaria bem, enquanto estivesse as suas amigas ao seu lado, tudo ficaria bem. Então, aquela era a resposta ao seu questionamento que assolava o seu ferido coração, ela não estava sozinha. A ruiva permitiu-se chorar nos braços de suas melhores amigas. Tudo ficaria bem… ”
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