Ato IV I
Elliot e Kate estavam muito felizes juntos, e Elliot não parava de se alegrar por ela ser sua namorada, os poemas eram mais românticos, e estava mais dedicado em ter um emprego e faculdade para que ela não o achasse um fracasso, ele tentava ter um diálogo com ela durante o dia mas ela demorava para responder e Elliot ficava ansioso, a noite ia para a faculdade e ligava para ele antes de dormir e tudo ficava bem, saiam finais de semana, e ela ia na célula na sexta à noite junto com ele, porém ela gostava de baladas e ele não.
— Por que você não vem comigo amor?
— Por que você não sai comigo anjo?
— É noite das garotas!
— E porque tem que ser em uma balada?
— Não tem nada demais Elliot!
— Só bebidas e danças sensuais com caras por perto!
— E o que que tem? Devo eu parar de me divertir por sua causa?
— Minha diversão não é ir a um lugar e dançar sensualmente para mulheres me verem Kate!
— Vê se cresce Elliot, você não manda em mim! Fica fazendo o que você faz todo dia, o que é nada! — Kate entrou no carro e o deixou na cidade sozinho após tomarem café no sábado à tarde, era a segunda semana de namoro e era a primeira briga, o pensamento e as diferenças começaram a aparecer e o preocupar, voltou para casa e ao abrir sua rede social se deparou com algo, Thalia estava namorando, ficou chocado e ofendido, não por ela estar namorando mas por ela não confiar nada a ele, percebeu que era melhor não falar com ela sobre a discussão, o que sobrou apenas Maya, Suzana e Alcides e queria a opinião de todos, Alcides estava com sua nova namorada e demoraria para chegar, então tentou primeiro Suzana:
— Oi, tudo bem?
— Oi, está sumido, o que aconteceu com você?
— Eu comecei a namorar!!
— Aí sim, com a Jennifer?
— Não! As coisas não deram certo entre eu e ela!
— Ah! Entendo, mas parabéns!
— Obrigado, faz duas semanas e ela é incrível, linda e me adora, meus poemas tem sido para ela.
— Finalmente encontrou sua musa, eu vi seus poemas mais apaixonados na Assembleia.
— E estava indo ótimo, mas tivemos nossa primeira briga hoje!
— Eita! Porque?
— Ela quer ir em uma balada com as amigas invés de ficar comigo.
— Mas qual o problema?
— Outros caras olhando para ela, e mal passo tempo com ela, e agora ela saí para um ambiente cercado por outros homens.
— Você confia nela Elliot?
— Não sei, faz pouco tempo que nos conhecemos e estamos juntos.
— Entendo, complica mas dê um voto de confiança, afinal não tem nada demais.
— É que mal passamos tempo juntos.
— Calma Elliot, fique calmo e tente dialogar com ela e tenha paciência, você não é dono dela.
— Eu sei... — E achou melhor não render a conversa e não disse mais nada, tentou falar com Maya:
— Oi.
— Finalmente decidiu falar comigo, como você está?
— Estou bem, você mereceu!
— Desculpa, eu só quero te ajudar a ficar bem!
— Eu ficaria melhor se não ofendesse o que acredito o tempo todo!
— Entendi, me desculpa. O que conta de novo?
— Eu estou namorando há duas semanas, e já tive uma briga.
— Eita! Não esperava por isso, parabéns. Qual o motivo da briga?
— Ela vai a uma balada com as amigas invés de ficar comigo.
— E qual o problema?
— É um ambiente cercado de homens solteiros com danças sensuais.
— E o que tem Elliot? Ia com ela.
— Não gosto desses lugares, muito superficiais, com músicas degradantes para danças sensuais para seduzirem e manifestarem seus prazeres carnais sem responsabilidade em uma tentativa de matar o vazio que carregam, seja de solidão ou carência ou até mesmo hormônios a loucura. O ambiente deixa as pessoas com corações acelerados, pupilas dilatadas, musculatura tensa e uma alta descarga de adrenalina no sangue, o que na dose certa pode deixar os jovens viciados, pois quando mais se frequenta mais o corpo vai pedir o mesmo, sem contar o fato de trocarem beijos com estranhos ou praticarem coito sem nem se conhecerem, quer que eu continue? — Ela digitou e digitou até enviar:
— Entendi, mas não é dono dela, e precisam se respeitar.
— Nós quase não nos vemos poxa.
— Ela e você precisam de um tempo sozinhos, não podem ficar grudados, então relaxa.
— Vou tentar.
— E baladas são apenas lugar de diversão, ela pode ir apenas para se divertir.
— Então está bem, da próxima vez vou a um a boate de strip ou prostíbulo.
— Se ela deixar, portanto que não traía ela. — Elliot ficou irritado, novamente ninguém entendia o lado dele.
Foi para seu quarto frustrado, e viu as fotos que Kate postava com as amigas, e mandou uma mensagem:
“Oi, me desculpa por hoje á noite, me liga quando você chegar? Não quero ficar brigado com você. ” E esperou a noite toda enquanto escrevia:
“Não quero sua raiva
Ou sua fúria
Apenas seu amor
Sinto ciúmes
E quero sua atenção
Sentir seu coração
Desejo teu olhar
Por mim
E novamente
As chaves do paraíso tocar
Viajante do Tempo”
Elliot depois de escrever adormeceu no sofá esperando pela ligação de Kate, do qual não aconteceu, ela mandou mensagem no outro dia:
— Oi amor, está tudo bem! Amei o poema, o que acha de nós passarmos o dia juntos?
— Que bom, fico feliz! Vou me trocar!
— Ótimo, logo passo aí.
E eles passaram o dia juntos, Elliot nem foi para a igreja e passou a noite com ela, ela o levou ao apartamento que ela morava sozinha, e os dois assistiram um filme juntos, até que ela sentou em seu colo e começou a beijar ele, aos poucos ele foi se entregando, ele a queria, mas se conteve, ela não ficou chateada apenas estranhou, e ele decidiu ir embora para o apartamento dele, ela o levou, se beijaram e voltaram a rotina da semana. Elliot falava pouco com Kate, e a noite foi para a Assembleia recitou um poema mais apaixonante:
“Eu sou todo teu
Quando me seguras
Quando me olhas
Sou todo seu
Quando me deito
E sonho contigo
Sou todo seu
Quando morro de ciúmes
E quero continuar sendo
Todo seu
Viajante do Tempo”
Aplaudido, a assembleia continuou, até que avistou Thalia, ela o avistou quando ele tentou desviar o olhar, e foi até ele:
— Oi, faz tempo que não nos falamos seu sumido.
— Bom, faz tempo que você não me ouve, porque você nunca conta nada. — Falou olhando fixamente nos olhos de Thalia.
— Como assim?
— Eu sempre falo tudo de mim, mas você não fala de si, descobri que estava namorando pelo Facebook!
— O que tem?
— Eu sou seu amigo, ou pensei que era, você não confia em mim? Ou apenas não me vê da mesma forma que eu te vejo?
— Nossa, não é nada disso!
— Então porque me deixou de fora? Eu confio em você, mas não sei se você confia.
— É complicado.
— A meu ver não, era só dizer mas você esconde tudo de mim.
— Claro que não Elliot, eu apenas sou uma boa ouvinte.
— Então ouça meus passos saindo, não quero desperdiçar seu tempo ouvindo para que possa procurar alguém que possa falar. — Elliot saiu e deixou Thalia sozinha, e abriu as mensagens e viu que Kate queria se encontrar com ele após sair da faculdade, e ele concordou. Ela o encontrou na assembleia e foram para o apartamento dela, começaram a se beijar e as coisas iam esquentando, mas Elliot parava, e quando ele disse que queria ir embora:
— Dorme aqui comigo? — A voz fofa e a cara doce era um convite que nem mesmo Elliot conseguiu recusar, ele a beijou e a levou ao quarto onde continuavam os amasso, até que ele cessava, e começava a conversar e logo dormiram, Elliot dormiu mal e ela também. No dia seguinte ela o deixou na casa dele e foi para o trabalho, ele simplesmente dormiu até de tarde. Ao acordar não tinha mensagem de Kate. Essa rotina seguiu até o fim do mês.
E chegou o dia de um mês de namoro, e Elliot preparou tudo da forma mais romântica possível, um belo poema:
“Um mês que nos conhecemos
Um mês que tudo me levou até ti
Que mesmo com desavenças
Me entrego
As noites quentes
Os dias sem você são frios
A todo segundo
Minha poesia
É apenas para ti
Viajante do Tempo”
Vestiu de forma social, algo que não fazia a tempos desde que se mudou e comprou roupas novas com Thalia, as roupas eram sempre de referência nerd, comprou rosas e descobriu onde ela trabalhava, e quando deu o horário de almoço foi até lá entregar a surpresa, mesmo tímido foi, bem vestido, estava ansioso e nervoso, ao chegar na loja, havia alguns vendedores que o olharam e pensaram que fosse alguém com bastante dinheiro mas ele apenas pediu para falar com a Kate, eles indicaram o escritório no final da vasta garagem com todos os tipos de carro e venderes de fala mansa e lábia. E quando chegou ao escritório pediu licença e se deparou com Kate desligando um telefone:
— Su-Surpresa! — Tentou falar animado, mas devido à grande atenção que chamava acabou gaguejando e falou com voz fraca. Kate se levantou mas não ficou feliz em vê-lo, apenas andou e o abraçou, agradecendo, pegou o buquê e beijou sua bochecha?
— Obrigado amor!
— De nada anjo, quer almoçar comigo? — Elliot não percebeu que ela não estava feliz, e ele estava nos céus achando que ela gostou.
— Não posso amor!! A noite nos falamos está bem? — Ela já soltou uma ênfase grande no “amor” com tom brava.
— Está bem! — Tentou beija-la, mas ela virou o rosto. Saiu da revendedora e andou pela cidade, distribuiu alguns currículos, e voltou para casa feliz apenas para no final da tarde ela ligar e quando ele atendeu:
— Alô anjo!
— Elliot! Que vergonha! Como você vai no meu local de trabalho desse jeito? Eu nem te falei onde eu trabalho!
— Eu queria fazer uma surpresa por um mês de namoro.
— Não podia ter feito isso á noite?
— Era para demonstrar o quanto eu tenho orgulho de estar com você!
— Eu sinto o mesmo, mas isso foi desagradável, algumas pessoas acharam estranho você ter aparecido sem eu ter mostrado o lugar em que trabalho à você.
— Mas não é nada demais.
— Para mim sim! Invadiu minha privacidade, você é muito carente Elliot, meu Deus! Me deixa em paz por hoje e alguns dias!
— Mas.... — E ela desligou na cara dele, sentindo-se culpado, ele se jogou para trás no sofá, os olhos marejavam, sentindo-se insuficiente e indesejado, foi para o quarto e preferiu não falar com ninguém apenas o papel:
“Cada dia que passa
As minhas dúvidas aumentam
Será que realmente
O mesmo sente?
Nunca estamos em sintonia
Apenas quando trocamos carícias
Caso contrário
Todas as minhas ações
Dão completamente errado
Por que é tão doloroso
Por ti estar apaixonado?
Viajante do Tempo”
Tomou banho e ficou recluso em seu quarto, até adormecer incrivelmente cedo já que dormia tarde todos os dias, acordou 03:00 da manhã com a ligação de Kate:
— Alô? Amor. — Falou com voz manhosa
— O que é?
— Desce aqui, estou em frente a seu prédio, me desculpa!
— Está desculpada mas não vou descer, queria um tempo de mim agora você tem. — Elliot desligou na cara dela, mesmo se sentindo mal e voltou a dormir, ficaram sem se falar por uma semana praticamente. Elliot estava deprimido e ansioso mas decidiu tentar voltar a falar com ela:
— Oi, como você está? — E ela demorou a responder, e Elliot focava em suas coisas.
— Oi, estou bem e você?
— Bem, podemos conversar?
— Sim, estou no horário de almoço!
— Me desculpa! Eu só quero demonstrar o quanto gosto de você, mas você parece que não gosta!
— Eu gosto, mas você é excessivo demais, tem que arranjar outras coisas para fazer.
— Eu faço, mas gosto de estar com você.
— Eu também, mas não vou largar as coisas que faço sozinha ou com minhas amigas por você.
— Nós passamos quase todos os dias sem se falar, e a noite você me levava para seu apartamento como se eu fosse um “prostituto” e depois me deixava em casa.
— Porque prostituto?
— Você não fala comigo! Parece que nosso maior diálogo foi no dia em que nos conhecemos, depois ou brigamos ou sou apenas sua companhia da noite!
— Você que é carente demais, eu tenho uma vida além de você Elliot, talvez se você tivesse também não me enxeria o saco! Vou voltar a trabalhar.
As dúvidas de seu relacionamento continuavam, mas estava cansado de pedir conselhos, e decidiu ir na célula da assembleia, fazia tempo que não ia e talvez seria melhor, mas estava enganado. Ao chegar se deparou com Maitê novamente com seus problemas fúteis, e com grande esforço conseguiu recitar:
“Sinto-me insuficiente
Nunca bom o bastante
Para um emprego
Para amizade
E até para você
Pensei ser cheio
Mas parece que sou
Completamente vazio
Viajante do Tempo”
Maya foi o cumprimentar, ele agradeceu e decidiu ir embora não havia palavras que podiam expressar o quão melancólico e triste ele se sentia. Pegou o ônibus ouvindo músicas tristes de Air Supply e chegando em casa apenas ligou o vídeo game e jogava em uma tentativa inútil de se distrair, mas depois de uma hora morrendo por não conseguir focar no jogo rendeu-se e foi para a cama, onde Kate enviou uma mensagem:
— Oi, eu preciso te pedir desculpa, eu exagerei.
— OK! Desculpada!
— É que eu gosto de você, mas não esperava que fosse ser tudo tão rápido...
— Eu entendo, me desculpe também, é meu primeiro namoro.
— Tudo bem, vamos esquecer isso amor?
— Claro Anjo!
— Vou dormir, amanhã nos falamos amor! Durma bem, beijos!
— Durma bem, beijos!
Kate foi dormir mas Elliot não, ficou mexendo no celular até que Jennifer mandou mensagem, deixando-o sem saber o que fazer ou se devia até mesmo responder mas acabou respondendo por educação:
— Oi, estou bem! E você?
— Estou bem, acho que preciso te pedir desculpas.
— Tudo bem, podemos esquecer tudo e voltarmos nossa amizade?
— Ah! Eu pensei melhor e acho que me equivoquei sobre nós dois!
— Eita! Eu não sei o que dizer Jennifer.
— Sim ou não poxa! — Elliot começou a sentir-se mal pois a magoaria novamente.
— Acho melhor sermos apenas amigos, eu me machuquei quando gostava de você, depois você se machucou, então eu me machuquei e agora eu estou machucando você, e eu estou namorando. Sinto Muito, de verdade nunca quis magoar você! — Ela digitou bastante apenas para três palavras:
— Entendo! Amigos então.
Logo após, Kate manda uma mensagem:
— O que está fazendo acordado? Vai dormir!!
— Como assim? Quem você pensa que é?
— Sua namorada!! Vai dormir, porque está acordado?
— Você não dá satisfação para mim mas eu devo a você?!
— Você me deu boa noite, era para ter ido dormir?
— Você não manda em mim! Se enxerga Kate! — Ela continuou mandando mensagens, mas Elliot não respondia e silenciou o celular caso ela ligasse. Na outra manhã ele ainda não queria falar com ela, estava irritado e seria noite da célula da Caverna do poeta, onde havia chance de Kate aparecer, estava pensando em terminar com ela, mas gostava demais e que aquilo era apenas uma fase, seguiu sua rotina até ir para o campo de futebol onde iria ver Kate e pensou o dia todo no que iria dizer.
II
O caminho para o campo de futebol, parecia não ter fim e meus pensamentos eram uma nuvem pesada da qual não se dissipava, como eu gosto da Kate, ela consegue ser gentil, é ótimo quando ela está bem comigo, as últimas semanas é um caos e ela parece estar querendo que eu transe com ela e eu não sou assim, embora isso é o menor dos problemas, ela pensou que podia mandar em mim, isso foi horrível sem contar eu querendo agradar ela no aniversário de um mês juntos e ela sendo grossa daquele jeito, vai ver isso é até acostumarmos um com outro, e ela pediu desculpas. Ah! Deus como isso é confuso. Até chegar ao lugar relembrei mil vezes os acontecimentos e tentei prever várias formas de como iria ser a conversa com Kate, mas ao chegar ao lugar me deparo com um público maior que o das últimas vezes e Jennifer!! O que ela fazia ali, ela não aparecia faz tempos, Meu Deus!!! Ah não!! Ela me viu!!! Ela está vindo para cá, eu tenho que manter a calma. Ela veio animada e de repente parou na minha frente:
— Oi, quanto tempo?
— Sim, há quanto tempo.
— É bom te ver.
— Igualmente. — Ela me abraçou e eu retribuí, ela foi e era uma grande amiga, eu vacilei com ela.
— Deve estar se perguntando porque estou aqui, e a resposta é que faz tempo que não sei sobre seus poemas encantadores e não fui na última reunião mensal da caverna então achei melhor ver se você vinha nessa célula, colocar o papo em dia.
— Ah sim! Que bom, vai ser ótimo. — Eu estava sendo sincero, porém o poema que eu havia preparado foi o que escrevi quando Jennifer mandou mensagem para mim ontem. Eu acompanhei Jennifer até o início da reunião e depois de duas pessoas recitarem poesias foi minha vez, e até então Kate não havia chegado até o momento em que comecei a recitar:
“Somos como relógios
Não sincronizados
Nos machucando
Fora de hora
Eu sempre retornava a você
Mas seu ponteiro não estava em mim
Da forma que eu estava em você
O relógio continuou
E em nenhum momento
Nossos corações
Se encontraram
Agora o seu ponteiro
Para em mim
Mas não volto a você
Para este amor
O relógio
Já não roda mais
Viajante do Tempo”
Fui aplaudido e Kate logo grudou ao meu lado, puxando para falar comigo e Jennifer também foi falar comigo:
— Oi amor! — O tom de Kate era nervoso.
— Oi, Kate, essa é minha amiga Jennifer.
— Prazer Kate, sou amiga de Elliot, Jennifer.
— Prazer, sou a namorada dele se me dá licença, preciso sair com meu amor, faz tempo que não passo tempo com ele... Cuide-se. — Havia um cinismo em sua voz e me levando para longe de todos perguntou:
— Quem era essa? E esse poema é para quem?
— Ela é minha amiga, e por que quer saber? Para me encher mais o saco?
— Eu mereço saber, sou sua namorada!!
— Você não age como minha namorada, age como se fosse dona minha mas não é! Eu vou embora, quem sabe se parar de reclamar e brigar eu consiga ver a minha namorada de verdade, e não esse ser que “devorou” ela. — Eu saí andando e fui ao ponto de ônibus, estava cansado disso e dela, e descobri outra coisa, as pessoas não entendem que para poetas o tempo não importa, algo feito há dez anos pode virar poema hoje e ser como se fosse ontem, e as pessoas não entenderão, e....
— Elliot, espera!! — Kate gritou de dentro do carro enquanto eu estava chegando ao ponto de ônibus, ela parou o carro e desceu correndo e me abraçou de repente:
— Me desculpa amor, me desculpa, não quero ficar brigada com você! — A voz dela estava fofa e eu queria ser mais duro, mas não consegui:
— Tudo bem, vamos deixar tudo isso para trás e não cometermos os mesmos erros. — Falei de forma firme e carinhosa, ou pelo menos tentei e beijei a testa dela, me pegando pela mão pedindo para eu entrar no carro, eu entrei e ela me levou ao apartamento dela. Ao chegar lá tivemos ótimos momentos, carinhos, amasso e eu pude adormecer no colo dela, uma sensação de paz, dizem que a paz antecede uma tempestade e era verdade.
Acordei com ela gritando comigo:
— Acorda e vai embora!! — Estava sonolento e acredito que ainda não era nem seis horas da manhã.
— Levanta e vai embora, vai ficar com a Jennifer vocês dois se merecem!
— Do que está falando? — Eu estava me levantando da cama, aquilo parecia um pesadelo.
— Eu peguei seu celular, e li suas conversas com ela, vocês se merecem! Saí daqui!
— Aquilo é passado, eu escolho estar com você, não faz isso!
— Saí daqui Elliot! — Como lidar com a perda? Eu magoei Jennifer, e estava com alguém que gostava profundamente, alguém que gostou de mim e não teve rodeios para se envolver ou dúvidas.
— Olha aqui Kate, não aguento mais essas coisas, o que é passado já foi, e eu não tenho nada com ela, estou com você, e porque você pegou meu celular?
— Eu queria saber! Eu não quero mais gostar de você! — Eu estava sendo atingido por tantas emoções, tristeza, amor, medo, angústia, abandono. Eu só consegui lembrar de todas as coisas que passávamos juntos e para manter ela em minha vida então eu disse, precocemente algo que não devia ser dito naquelas circunstâncias, podia ser verdadeiro? Sim, mas não era o momento:
— Eu amo você Kate, não quero perder você também! — Meu medo foi maior, e eu disse algo que sentia mas em partes.
— Eu preciso pensar, vá embora Elliot. — Eu fui embora, consegui ver o sol nascer, o ônibus estava começando a ficar lotado de pessoas que indo para trabalhar, eu era o estranho ali, o não natural, não tinha emprego, faculdade, e agora estava prestes a ficar sem Kate, eu cheguei e fui deitar em meu quarto, por segundos ouvi Alcides saindo para se arrumar enquanto eu dormia com lágrimas regadas.
Acordei 13:00 e havia uma mensagem de Thalia “Oi, podemos conversar? É importante! ” Naquele momento eu estava péssimo, não sabia se continuaria com Kate, e naquele momento em que eu estava esquentando meu almoço, alguém bateu a minha porta e eu fui atender, quando vi que era, meu professor Marcos:
— Falaaaaa Elliot! — Eu apenas o abracei, e ele retribuiu apertando minhas costas.
— O que faz aqui!? — Fazendo um gesto para entrar e se sentar.
— Dia de trazer os meninos ao cinema, e como fiquei com os mais velhos deixei eles e vim ver você!
— Obrigado! E como está o orfanato?
— Está ótimo, o doador anônimo realmente continua ajudando, então as aulas estão melhores, materiais, tudo melhorado!
— Isso é ótimo! Agradeço a ele por toda bondade, e por me manter também.
— Relaxa Elliot, todos têm seu tempo, sei que está se esforçando ao máximo! Me conte as novidades! — E assim eu contei tudo, desde Thalia a Kate, e ele ouviu atentamente, e em determinados momentos soltava um famoso “humm” com sua voz grossa, quando terminei ele ficou um tempo pensando e eu aguardando ansiosamente por uma resposta:
— Não vou dizer o que deve fazer, mas a meu ver essa garota está sugando você, e se sente culpado por coisas que não deveria, Jennifer estava grávida, você não estava pronto para algo desse tipo e sei que não é algo que você quer, agora essa Kate, ela te faz mal, ela não entende você, talvez são coisas que possam se ajeitar, mas pensa bem porque se ela fez tudo isso e ainda está no começo, pense no que pode ser no futuro, além disso você procura algo que não teve, uma família sua, é compreensivo isso, mas as pessoas não entendem pela visão que criaram pós-modernidade, não se cobre demais, antigamente pessoas mentiam para ter sexo, hoje elas mentem para terem amor. A ideia de que apenas homens são cruéis é ridícula e vice-versa, a crueldade não está em um gênero, raça ou religião está no ser humano em si. Você é um bom rapaz Elliot, não se culpe pelas ações dos outros e sei que faz o possível para não magoar os outros, mas isso não deve significar que podem magoar você. — Eu estava um tanto sem o que dizer para tais palavras. — E outra coisa que me trouxe aqui, vamos receber por 3 meses no orfanato um reitor de faculdade, da faculdade Jacip, e se você estivesse por lá poderíamos conseguir que você entrasse para o ano que vem, você tem duas semanas para decidir. E pense sobre o que eu disse, tenho que ir. — Ele se levantou, e entregou um papel com o número de telefone dele, e me abraçou.
— Obrigado, eu te aviso. — Eu abri a porta e ele saiu. Quando vi meu celular tinha uma mensagem de Thalia.
III
A mensagem era “Oi, me desculpa, eu gosto da sua amizade e eu só não contei de meu namorado para não magoar você, podemos voltar como era antes? ” Eu respondi:
— Eu entendo, mas somos amigos então não tem porque esconder as coisas de mim poxa.
— Eu entendo, como você está?
— Atribulado!
Contei tudo que acontecera, e a depois de muito tempo:
— Nossa, complicado, eu penso que deveria ir nestes três meses e dar um tempo entre você e Kate, isso pode ajudar!
— Realmente! Obrigado pela ajuda!
Ela me mandou um emoji feliz. Então Kate ligou para mim:
— Alô!
— Alô Elliot!
— Então...
— Eu pensei e eu também te amo! — Aquilo me alegrou, uma enorme energia espalhava pelo meu corpo, e não conseguia pensar em nada do que Marcos disse para mim, e eu a queria naquele momento...
— Mas para resolver tudo isso, eu não quero que você seja amigo dela, eu falei com ela e pedi para ficar longe de você!
— Mas Kate! Você tem que confiar em mim!
— Eu já fui traída, e por isso seria melhor se não falasse mais com ela, por favor!
— Ela é minha amiga!
— Eu sei, mas nós nos amamos! E isso me leva a outra pergunta! Quando você vai tirar minha virgindade? — Eu fiquei sem reação.
— Eu não sou assim Kate!
— Porque?
— Kate, eu quero me casar primeiro, caso não dê certo é um “se” — (que eu estava começando a achar que seria real) — porque se não der não quero ter me entregado a alguém e depois a pessoa não estar comigo.
— Entendi. Tudo bem, mas se afaste de Jennifer por favor! — Hesitei mas concordei.
— Está bem!
Depois daquilo voltamos a uma normalidade, logo seria o mês de maio e eu não sabia como contaria a ela que passaria três meses fora. O final de semana foi ótimo, na segunda feira tentei falar com ela durante o dia e discutimos, a noite ela me buscava e nos amávamos, durante o dia nós discutíamos isso foi uma semana inteira, no final da outra semana, enviei mensagem a Marcos dizendo que iria para o orfanato, e pensava nas palavras dele decidi escrever algo:
“Esse amor doído
Que me faz bem
Depois deixa meu coração
Dolorido
Me controlando
Com amor
E ameaças
Eu realmente te amo
Mas não a ponto
De querer sofrer tanto
Viajante do Tempo”
Eu decidi ligar para Kate e isso era 23:30, ela atendeu:
— Alô amor!
— Oi, Kate precisamos conversar.
— O que foi amor? — A voz fofa e amável tornava tudo difícil.
— Não está dando certo, acho melhor terminarmos.
— Como assim? Porquê?
— A nossa rotina agora é brigarmos de dia, e ficar bem de noite, isso não é saudável. E todas as vezes que você me manipula e me afastou de uma amiga minha.
— Então é isso! Fica com ela então!
— Se quiser ser minha amiga eu entendo, se não quiser eu lamento, e não é por ela. Eu vou ficar fora por três meses, nunca quis te magoar.
— Vai se... — Eu deliguei o celular. E me senti mal, mas depois fiquei tranquilo. Decidi conversar com Maya, Suzana e Thalia, talvez com Jennifer, um grande talvez. Thalia quis almoçar comigo. Então só Suzana e Maya seriam por mensagens:
— Oi! Tudo bem?
— OII! Tudo sim e você?
— Eu estou bem, alguma novidade?
— Não nenhuma, e você Elliot?
— Eu tenho duas na verdade Suzana.
— Diga!
— Eu terminei meu namoro com a Kate, e eu vou ficar fora por três meses.
— Eita! O que aconteceu com o namoro? E vai para onde?
— O namoro teve seu fim depois de muitas brigas e manipulações, eu não era perfeito, mas ela brigava comigo queria escolher quem eu tinha amizade e brigou comigo por ter feito uma surpresa por um mês de namoro no trabalho dela, não dava, não estava sendo saudável. E vou ajudar o orfanato para ajuda-los e eles vão me ajudar com faculdade.
— Entendo, sinto muito sobre seu relacionamento, e boa sorte no orfanato!
— Obrigado! — Suzana se distanciava cada vez mais de mim, e eu não sabia o que fazer, era incrível como pessoa, mas as vezes em que ficava bêbada ou afrontava a mim, é difícil de lidar e sempre me traz aquela sensação de não pertencer a lugar algum.
Logo mandei mensagem a Maya:
— Oi Maya como está?
— Oi, nada bem, eu estou quase querendo terminar com meu namorado!
— Sinto muito, eu terminei com a minha.
— Que droga, se tivesse falado comigo poderíamos ter combinado de fazer isso juntos. — Mandou emojis rindo.
— Acontece que eu gostava dela, e eu sinto saudade dela.
— Eu sei, é que estou para fazer a mesma coisa.
— Entendo, e eu passarei três meses fora.
— Uau, porque?
— Vou ajudar o orfanato e isso pode me ajudar a entrar na faculdade que eu quero.
— Que legal, espero que dê tudo certo.
— Obrigado!
Naquela noite expliquei tudo a Alcides, e ele pediu uma pizza e conversamos bastante, foi como os velhos dias do orfanato, ele foi dormir e eu também. Na manhã seguinte preparei minhas roupas, o computador e me arrumei para almoçar com Thalia, e foi ótimo como no ano anterior, porém chegou o momento em que ela falou algo que não tinha como não ser tocado no assunto:
— Eu não quis contar a você sobre meu namorado para não te magoar, você se apegou tão rápido a mim que fiquei preocupada.
— Eu agradeço a intenção, mas de qualquer forma eu iria descobrir, e eu preferia que você tivesse me contado, não é legal ficar de fora da vida de alguém que se gosta, uma amiga.
— Entendo, me perdoe!
— Está tudo bem!
— E você como está lidando com o término?
— Eu podia dizer que amava ela, mesmo sabendo que era cedo demais, mas amava e queria ela perto mas não tem como ficar perto de alguém que mais machuca do que dá amor.
— Compreendo.
— Eu me sinto péssimo por ter magoado a Jennifer e Kate.
— Se perdoe, e você fez o que podia certo?
— Sim!
— Então fique com a consciência limpa.
Ela estava certa, depois daquilo conversamos sobre filmes, poemas e todas as nerdices possíveis, ela era muito linda, não gostaria de vê-la sofrendo. Nos despedimos e no outro dia eu iria pegar o ônibus no fim da tarde, fiquei tranquilo e escrevi algo para Jennifer:
“Eu errei várias vezes
Nunca pensei que seria
Tão difícil
Acertar com quem se gosta
E até como amigo
Estou tentando aprender
Mas é doloroso porque
O aprender
Causa dores em mim
E até em quem gosto muito
Me perdoe
Se um dia eu poder
Tudo isso consertar
Assim o farei
E comigo pode
Sempre contar”
Elliot.
Esperei pela resposta e veio:
— Eita!! Ela conversou comigo! E disse coisas horríveis.
— Me desculpa, eu não sabia que ela era assim!
— Eu te desculpo, você pode contar comigo, mas como amiga e vai demorar para eu confiar em você completamente depois disso.
— Eu entendo, eu vou passar três meses fora, para tentar entrar na universidade.
— Entendo, espero que dê tudo certo, torço por você.
— Obrigado!
A caminho da rodoviária recebi uma mensagem de Kate: “Eu gosto de você, e espero que possamos conversar novamente, e quero que saiba que ninguém vai amar você a não ser eu!” Aquilo me deixou assustado, apenas ignorei e entrei no ônibus e decidi ir embora para meu lar. IV
Ao chegar no orfanato fui recebido por Marcos e Dona Lourdes que fez meu bolo favorito, floresta negra, eles prepararam um quarto vago na torre em frente a mansão, conversei por horas com Marcos, e depois dormi, eu desinstalei todos os aplicativos de redes sociais, antigamente não tinha nem celular, e queria aproveitar bem esses três meses aqui com as pessoas que tanto amava. Acordei cedo e fui para a mansão tomar café e os alunos se espantaram comigo no refeitório, enquanto os professores me chamaram para a mesa deles, me senti estranhamente privilegiado, mas não havia nada demais, apenas eu esquecendo de que não era mais um aluno, depois do café fui para a biblioteca e o diretor Valentin me chamou:
— Elliot, venha comigo, ajude este velho a andar por este orfanato! — Eu nem havia sentado em algum lugar e me apressei para chegar até ele, subi a escada e ele se apoiou em mim:
— Obrigado meu jovem, como está se sentindo?
— Estou bem, senhor.
— Está agitado como quando criança e se entupia de café!
— Você se lembra?
— Claro, faço questão de lembrar de meus alunos, e agora que estou bem avançado em idade tento anotar o que acontece para poder ler e me deliciar com as memórias.
— Não sabia disso.
— Ninguém sabe, mas estou torcendo por você Elliot, realmente, sei que as coisas estão sendo difíceis para você, mais do que para os outros meninos. — Estávamos na escada para o terceiro andar, ainda teria muito a andar e ele estava bem devagar. Quando criança sempre via essa mansão como um castelo e algo gigante, me dava a sensação de ser um príncipe independente em minhas brincadeiras, e ao crescer esse lugar não era gigante mas ainda sim enorme.
— Eu agradeço a preocupação e a torcida, mas porque o senhor acha que para mim é mais difícil do que para os outros?
— Oh! Eu não acho, tenho plena certeza meu jovem, sei disso porque você é muito emocional, lembro-me que você tinha 10 anos quando questionou sobre seus pais e porque você não os conheceu, e o que Deus havia feito com eles.
— Diretor, eu não tinha 10 anos, eu tinha 5.
— Não, eu lembro você tinha 10 e lembro da conversa.
— Acho que está se confundindo, eu tinha 5, e não foi bem uma conversa. — Ele parou para pensar enquanto estávamos andando pelo terceiro andar tentando chegar a alguma escada:
— É verdade, eu me confundi, perdoe este velho senhor.
— Está tudo bem, não foi nada, agradeço por tudo o que o senhor fez por mim, meus amigos e as crianças.
— Não é nada meu filho, Deus me deu esse trabalho, e assim o faço, Por Ele e para Ele. Mas voltando ao assunto principal, você é muito emocional, e é algo que o mundo não mais tolera, e um amigo meu é o reitor da faculdade Jacip, e ele tem um projeto que precisa de ajuda, e recomendei você, não ficará três meses no orfanato, mas com o reitor Rafael em viagens pelo Brasil, e tenho certeza que dará tudo certo, ele vai gostar de você, só não vou explicar o que vai ser porque é melhor ele o fazer.
— Uau, eu viajando? Não esperava por essa.
— Vai fazer bem para você.
— Obrigado, Diretor.
— Não sou mais seu diretor. — E quando me deparei estávamos na sala dele, eu abri a porta, ele entrou, o reitor Rafael já estava sentado, era um homem que acredito estar na faixa entre 35 a 40 anos, cabelo grisalhos, olhos claros e terno bege, nariz um pouco acentuado, mas incrivelmente bem vestido, e até seu porte era elegante.
— Diretor Valentin e acredito que o espirituoso jovem Elliot. — Apertou nossas mãos e sentou-se. A sala do diretor tinha vários livros em estantes, e várias fotos de todos que passaram por lá, era impressionante, e todos emoldurados na parede, a parede com um tom branco e detalhes azuis davam uma sala calma, no teto um lustre antigo, e do lado direito uma grande porta que estava fechada, talvez seja o quarto dele, não sei.
— Muito prazer, Sou Elliot sim.
— Que ótimo, o diretor Valentin disse que você é um ótimo escritor.
— Ah! Eu não diria isso, estou apenas começando.
— Mas tem um futuro promissor filho, não precisa negar isso!! — Falou isso sentando em sua cadeira que parecia extremamente confortável.
— Obrigado!
— Bom, ele me falou que você está tendo dificuldade para conseguir o curso de letras, e na minha faculdade tem, e para ajudar você, apenas vou querer sua ajuda como meu assistente nas viagens.
— Tudo bem! Vou adorar.
— Ótimo, amanhã iremos partir cedo.
— Combinado. — E apertei as mãos do Reitor.
Passei o resto do dia entediado, e tentava ficar perto de Marcos, Dona Lourdes, mas todos estavam ocupados, apenas a noite que puderam me dar atenção, e me despedi agradecendo a todos e conversando com o diretor.
V
Elliot e o reitor saíram do orfanato bem cedo, e foram Belo Horizonte, o que foi apenas duas horas e meia de viagem, e ao chegar em uma das várias instituições o reitor falou com Elliot dentro do próprio carro, que era uma BMW:
— Eu preciso te pedir desculpas agora Elliot.
— Porquê?
— Eu não posso levar você nas viagens, e não queria chatear o diretor, mas ainda ajudarei você, vai trabalhar conosco aqui nessa cidade, e depois de três meses volta a JaciPolo e no ano que vem poderá cursar letras, você concorda?
— Claro. — Afinal não tinha como recusar com essa situação.
O trabalho era simples, digitar tudo que era pedido em uma sala dividida com mais três pessoas, dois rapazes contando com Elliot e duas meninas. Ele apenas digitava o dia todo, e não podia conversar com ninguém. Havia um apartamento sendo alugado para Elliot no nome do reitor.
Elliot não conseguia fazer amizades, então apenas trabalhava e voltava para casa, sem vontade alguma de falar com alguém, e seu celular roubado no final do primeiro mês, sentindo-se cada vez mais sozinho, e sem direção.
Não parava de pensar nas palavras de Kate “apenas eu vou amar você”, não conseguia se conectar com alguém, só esperava para poder voltar a JaciPolo, rever seus amigos talvez Kate. O tempo ia passando e Elliot não sentia-se bem, começava a sentir o que ele não sabia, mas era um início de depressão, perdeu a vontade de escrever, a vontade de fazer contato se perdia, as lágrimas desciam todas as noites. Foram três meses infernais, mesmo comprando outro celular, perdeu o número de Kate, que não tinha redes sociais sem ser o “WhatsApp”. Cada dia que passava começou a lembrar apenas dos bons momentos com Kate, e como era bom no final do dia quando deixavam as brigas de lado sentir-se amado, com o tempo que ia passando só pensava na chance de rever ela, e tentar se relacionar com ela novamente. Já é difícil o rompimento por si só, sempre lembramos das coisas boas apenas e esquecemos as coisas ruins que levam ao término, naquela situação isolado, ansioso e entrando em depressão só queria retornar aos braços de Kate para sentir-se amado novamente.
Na noite anterior forçou-se a escrever:
“Arrependo-me de ter magoado
A única que poderia ter me amado
Completamente isolado
E sozinho
Eu deveria ter viajado
Mas as coisas mudaram
Deixei
Para poder
Apenas uma coisa ter sucesso
Sinto falta de ser amado
Me equivoquei
E sem amor
Fiquei
Viajante do Tempo”
No outro dia o reitor Rafael o buscou e o deixou em JaciPolo, o que o deixou feliz, apenas entrou em seu apartamento e dormiu. VI
Alcides me acordou quando chegou do serviço, eu dormi o dia todo, ele pediu uma pizza e me contou as novidades, não tinha, apenas o fato de que ele estava solteiro de novo, um motivo um tanto diferente do outro, eu julguei ser apenas uma variação diferente do que já aconteceu com ele, instalei com certa força Facebook, e WhatsApp em meu novo celular, novo número e procurei e consegui falar com Thalia, Suzana, Maya e Jennifer sendo assim consegui o número de telefone de cada uma delas, e logo me informei sobre a assembleia e a caverna. Na semana seguinte seria a reunião mensal, e logo me animei um pouco para ter uma normalidade de volta, e na célula da caverna quem sabe reencontrar Kate, sabia que a probabilidade dela estar namorando era alta, mas teria que arriscar.
Na segunda-feira já fui para a Assembleia, e revi Thalia e a abracei, foi bom, não recitei nenhum poema, afinal não tinha nada novo que era bom, eu vi Suzana mas ela não recitou nada, apenas esperei tudo acabar para finalmente conversar com as duas.
— E como foram os três meses fora? — Perguntou Thalia.
— Péssimos, não quero falar sobre isso.
— Nossa, o que houve?
— Era para eu ter viajado, porém apenas fiquei três meses sozinho em um apartamento e o dia digitando sem parar.
— Eita. — Falou Suzana.
— E Suzana porque não recitou poema?
— Eu parei de divulgar por aqui, pois foquei mais em contos e achei um lugar que tenho mais liberdade para isso, deveria ir um dia.
— Entendo, quem sabe um dia.
— Espero que vá, você é um ótimo poeta.
Fomos embora, e não tinham muitas coisas a me contar, e no fundo achei melhor não falar sobre a minha decisão de voltar a namorar Kate, ou até mesmo procura-la. Apenas conversamos, Thalia estava trabalhando com a mãe e continuava namorando. Voltei para casa e recebi mensagens de Maya, estava solteira, me contou sobre o término e que o ex-namorado tentava reatar com ela, Jennifer não tinha me respondido. Apenas dormi.
No outro dia procurei por emprego e tive o mesmo resultado de antes, e esperei um dia para ir a célula de poesia, e resolvi tentar voltar a escrever:
“A vida parece estagnada para mim
E não nasci para ser isolado
E sozinho
Creio que nenhum ser humano
Mas eu definitivamente
Preciso de contato
Ser ouvido
E definitivamente
Amado
Viajante do Tempo”
Os dias se passaram e lá fui eu na esperança de que a célula teria melhorado, apenas para estar mais enganado, os dois poetas que estavam lá haviam saído, Maitê tinha um grupo específico de meninas para falar dos mesmos problemas, e agora tinha um menino que parecia ser escravo dela, pois concordava com tudo que ela falava, recitei o poema que havia escrito, aplausos e logo voltaram as futilidades, Maya apareceu depois:
— Quanto tempo! Como você está?
— Eu estou bem, e você?
— Estou ótima, livre de meu ex-namorado, finalmente.
— Entendi.
— E como foi esse tempo fora?
— Péssimo, três meses sozinho digitando sem parar, e ainda fui assaltado, péssimo.
— Entendi, então o que acha de sairmos numa sexta-feira?
— Não dá, irei para a caverna do poeta amanhã e na célula deles na sexta.
— Ah entendo. — Ia ser legal sua companhia. Ela me disse sorrindo.
— Quem sabe na próxima, eu vou para casa, foi bom te ver Maya.
Eu fui embora depois de abraçar ela, apenas dormi e logo voltei a minha rotina, esperando que sexta-feira Kate esteja lá. Enfim era sexta-feira e eu estava animado, a esperança de reencontrar Kate, e tentava não criar expectativas, podia não encontrar ela como ela poderia estar namorando. Cheguei ao local e ela não estava lá, a reunião acabou e no outro dia decidi ser mais ousado e a procurar na casa dela, e para minha tristeza ela havia se mudado, felizmente quem me atendeu no prédio dela foi a síndica:
— Oi meu jovem, está procurando por alguém?
— Sim mas ela se mudou, o nome dela é Kate.
— Ah sim, realmente, baixinha carioca um pouco nervosa?
— Ela mesmo!
— Ela se mudou há um mês.
— É que eu fui assaltado e perdi o número dela quando estava trabalhando fora.
— Acho que eu ainda tenho o número dela. Mas vocês eram conhecidos?
— Eu namorei com ela, preciso falar com ela. — A síndica olhou nos olhos de Elliot e não viu maldade.
— Bom, olhe aqui no meu celular, espero que dê tudo certo para vocês. — Anotei em meu celular e fui para casa pensando no que iria dizer, se ela iria querer falar comigo, o que ela iria dizer, ou até mesmo o que faria se ela estivesse com outro, que era algo que não estava preparado, afinal ela foi a única que me amou, eu que acredito tanto no amor o joguei fora por dificuldades, eu deveria ter insistido mais.
Ao chegar em casa no horário da tarde, fiquei encarando o número antes de discar, valia a pena? Não queria ficar sozinho, queria ser amado, queria ama-la novamente e construir algo melhor, tomei coragem e liguei:
— Alô?
— Alô?!
— Quem fala é a Kate?
— Quero saber com quem estou falando?
— Aqui é o Elliot!
— Elliot!!! Meu Deus, você sumiu, o que aconteceu com você?
— Eu estava em Belo Horizonte trabalhando e fui assaltado, e como você só tem o WhatsApp decidi procurar você, mas havia se mudado para outro lugar e a síndica me passou seu número, não fique brava comigo, me desculpa.
— Tudo bem! É bom falar com você!
— Você por acaso está solteira?
— Sim, e você?
— Também, gostaria de voltar comigo? — O silêncio era gritante, e os mínimos segundos eram uma eternidade.
— Sim, eu quero!
Eu estava feliz novamente, e saímos, nos beijamos, era o paraíso. Ela me falou que a faculdade e o serviço deixaram tudo mais difícil, mas que poderíamos tentar novamente, o domingo foi maravilhoso, e segunda-feira eu continuaria minha rotina e ela a dela. Eu estava animado e feliz, então decidi fazer uma surpresa para ela, acordei mais cedo e esperei ela de manhã antes de ir ao trabalho, apenas para passar um tempo a mais com ela. Cheguei muito cedo na segunda-feira e quando ela estava saindo com o carro, e me viu, não teve a expressão que eu esperava, ela apenas desceu a janela do carro, colocou a mão na cara e simplesmente perguntou:
— O que está fazendo aqui Elliot?
— Eu vim entregar estas rosas para você....
— Vai dormir Elliot! — E antes que eu pudesse dizer algo, ela partiu para o serviço, e as rosas ficaram, apenas voltei para casa, as pessoas no ônibus olhavam as rosas, e eu escondia com grande esforço toda a agonia que eu sentia ao segurar elas, cheguei em casa apenas para escrever e depois dormir:
“As rosas sem espinhos
E suas palavras
Como flechas
Que ferem
E me fazem sangrar
O que há de novo
Em eu te amar?
Viajante do Tempo”
Dormi pouco depois, e passei o resto do dia tentando conversar com Kate, e nada, ela só brigou por exagerar, e assim foi a semana toda. No final de semana Kate preferiu sair com as amigas invés de passar tempo comigo, não quis discutir apenas pedi para que ela me ligasse ao chegar eu decidi escrever:
“Outra noite se passa
Eu espero você chegar
Enquanto estou
A me questionar
Eu deveria te amar?
Se tu me amas
Como consegue me ferir?
Esse é o que mereço?
Se tu me amas
Tenho medo
Daqueles que não amam
Viajante do Tempo”
A noite chegou ao fim, e dormi sem nenhum aviso dela, no domingo ela mandou mensagem dizendo que queria passar o dia comigo, fiquei feliz e saímos, conversamos, retratei como foi horrível a experiência de passar o dia todo trabalhando sem poder conversar com ninguém, ela ouviu e segurou minha mão e disse que as coisas eram assim, e que logo iriam melhorar, senti conforto e logo andamos em um shopping e voltamos para minha casa onde ela me deixou e foi embora.
As outras semanas foi mais do mesmo, não houve diferenças, ela não parecia estar feliz comigo, e isso me incomodava, era minha insegurança ou real? Era o final de agosto, e eu precisava continuar para que desse tudo certo. Apenas dois dias para acabar o mês, ela decidiu mandar uma mensagem à noite, quando estava assistindo um filme:
— Oi, podemos conversar?
— Oi, está tudo bem amor?
— Não, não está dando certo Elliot!
— Porquê? Como assim?
— Você é muito dependente do orfanato e de pessoas, não dá cara, podemos ser amigos, se você quiser.
— Mas isso é questão de tempo, logo as coisas melhoram.
— Elliot, você não consegue emprego, não dá, desculpa mas não tem como dar certo. Vou entender se quiser distância de mim, mas não quero conversar mais com você... Por um tempo, consegue entender?
— Sim. Me desculpe por decepcionar você, eu te amo. — Ela não respondeu mais, e a essa altura eu estava em prantos, apenas fui para meu quarto, e decidi mandar mensagem para Thalia:
— Oi, podemos conversar?
— Oi, posso sim, você está bem?
— Não, Kate terminou comigo.
— Nossa, porquê?
— Ela disse que é porque eu sou muito dependente do orfanato e das pessoas, e que ela não consegue se relacionar comigo por causa disso.
— Nossa, sinto muito mas é complicado.
— Eu vou conseguir evoluir, eu sei que vou só precisava de paciência, parece que ela não me ama como disse.
— Talvez sim, mas eu entendo ela Elliot.
— Eu também, mas se fosse o contrário eu não faria isso.
— Sinceramente Elliot no lugar dela, eu faria a mesma coisa.
— Como assim? Porquê!!? — Eu estava tentando me controlar, me acalmar.
— Poxa, ela faz faculdade, e trabalha, você não. Eu não gostaria de me relacionar com alguém que não vai chegar em lugar algum. — Eu li aquelas palavras, e foram como engolir cacos de vidro rasgando e cortando minha garganta e todo meu ser, no peito pareciam que haviam surgidos espinhos que tentavam sair, mas eram barrados por toda minha pele, e me fazendo sentir uma agonia horrível, insuficiência misturada com fracasso e ela ainda continuou:
— Eu não gostaria de me relacionar com alguém quando estou crescendo na vida e o cara não muda ou evolui.
— Entendi, vou tentar dormir. Obrigado. — Aquilo doeu, me sentindo incapaz, insuficiente e usado, só consegui escrever:
“Colocaram preço no amor
Não é quem eu sou
Mas o que eu faço
E o que tenho
O que sou não é o bastante
No momento nada tenho
E parece que para quem amo
Nunca vou ter
Foram cruéis
Palavras servidas
Como vidro
E espinhos vindo de dentro
Das pessoas queridas
Viajante do Tempo”
Eu postei o poema, em um ato desesperado para que alguém me perguntasse, e amparasse, acabei dormindo em meio ao choro depois que a angústia cedeu espaço para dormir. Acordei e estava completamente deprimido, não tinha vontade de fazer nada, tomei meu café e logo comecei a preparar meu almoço, quando recebi uma mensagem de Thalia:
— Você não é homem Elliot, é um menino, uma criança e um covarde!!
— Porquê está dizendo isso? — Perguntei com os olhos marejados.
— Porque você escreveu algo sobre o que eu falei com você
— Eu sempre escrevo sobre tudo que sinto.
— Eu cansei Elliot, tentei ajudar você e ser sincera mas basta você ouvir alguma coisa que não gosta e me faz de vilã.
— Você não entende Thalia.... — Ela me interrompeu com várias mensagens...
— Eu cansei de tentar entender, eu quis o seu bem, mas eu estou chateada e brava com você, sem contar que você precisa amadurecer.
— Você não me entende Thalia, pensei que entendia mas não tem ideia de como foi crescer... — Ela novamente me cortou e estava pronto para vomitar tantos sentimentos guardados e suprimidos.
— Não quero entender Elliot, dane-se você, e dane-se sua dor. — Os espinhos tentavam sair e era como engolir vidro, cortando todo meu ser, ela não me responderia mais e eu achei melhor nem tentar.
VII
Eu parei de ir nas células e encontros de poesias, estava destruído, tentei falar com Maya, mas ela queria sair comigo e eu não estava com nenhuma vontade do tipo, Jennifer ainda não me respondeu desde que voltei de Belo Horizonte, e Suzana bom, ela só repetia as mesmas coisas, eu tentei desabafar com ela, porém quando chegou no momento em que citei minha estranheza para o mundo atual e como diz Bauman “líquido”, Suzana apenas mandou as palavras “E daí? Qual o problema em ficar e curtir com qualquer um? Já fiz isso bêbada na adolescência em festas. Não tem nada demais, você precisa se soltar, aí você esquece essa sua ex-namorada, e quem sabe encontra um trabalho! Estas palavras pareciam maus um soco no estômago feito para me tirar o ar do qual era tão difícil de segurar em meus pulmões.
Os dias se passavam, eu tive coragem para conversar com Kate e deixar bem claro que iria melhorar em tudo e me tornar alguém para poder ficar junto com ela, a resposta dela não foi a mais animadora, porém pelo fato de ela não ter brigado era um começo, uma fagulha de esperança para eu poder provar que eu sou alguém.
As semanas passavam, e de forma sútil eu sempre tentava indicar que eu e Kate daríamos certo, eu tinha que insistir, a única pessoa a me amar, e eu não cometeria o mesmo erro de deixar tudo acabar tão rápido. Eu me empenhei em arranjar algum emprego, enquanto Alcides já estava em seu terceiro repor coisas em vários supermercados pela cidade. Já era a segunda semana de setembro, e Alcides ao chegar decide conversar comigo animado:
— Eae, sei que você anda para baixo, mas seu aniversário está chegando! E ano passado esquecemos de comemorar, mas não vamos deixar passar desta vez. — Embora, como ano passado não tive vontade de comemorar meu aniversário, novamente isso se repetia.
— Não sei cara, não estou com vontade, e quem eu iria chamar?
— Não se preocupe com isso, eu cuido dos convidados, você apenas tem que estar aqui!
— Portanto que seus convidados não sejam seus amigos estranhos...
— Ok! Mas confia em mim!
— Está bem! — Eu concordei por que de um lado eu poderia dizer não e ele fazer uma surpresa, por outro lado isso poderia fazer eu ficar melhor.
Os dias foram passando, não quis convidar Suzana, muito menos Maya que tinha o ex-namorado insistindo em voltar com ela, enquanto ela tentava seguir em frente e aproveitar a vida de solteira, acho eu, não tenho certeza sobre a última afirmação. As semanas iam passando enquanto eu tinha contato com Kate, como amigo apenas, as coisas fluíam, mas na terceira semana eu e ela discutimos, por ela me achar insistente demais, porém porque não insistir no amor? Logo voltamos a ser “amigos”, e eu decidi convidar ela para meu aniversário, ela era importante, ela decidiu ir e eu fiquei animado, ela perguntou se poderia levar uma amiga, eu disse que sim, a semana passou rápido e até agora Jennifer não me respondera desde que voltei a JaciPolo.
27 de setembro acordei cedo e algumas pessoas me deram parabéns pelo Facebook, mas nada incrível, eu estava ansioso e com um pouco de medo de quem Alcides convidou e por rever Kate, ela terminou comigo por mensagem, antes disso tivemos um final de semana maravilhoso, pelo menos para mim. A noite chegou, me arrumei e esperei o Alcides chegar com o bolo que deixei claro que era para ser de floresta negra, chocolate com chantilly e cereja. Quando deu 19:30 Alcides chegou com o bolo e com os “irmãos” do orfanato, Dona Lourdes e professor Marcos logo atrás, cada um deles trazia alguma coisa para comer, salgadinhos e refrigerantes, aos poucos cada um deles me cumprimentou, eu estava feliz. Comigo os rapazes conversavam sobre os velhos tempos, agora com Alcides a conversa era de festas e garotas, e meia hora depois uma mensagem de Kate dizendo que chegou ao lugar e estava subindo com a amiga, pedi licença chamei Alcides, e pedi para ele ficar perto para conversar com a amiga e eu conversar com Kate, em uma tentativa de conseguir me reaproximar e quem sabe até voltar com ela. Ela me abraçou e me deu parabéns e apresentou sua amiga, Bia, e eu apresentei Alcides, e começamos a conversar nós quatro, logo Bia estava pegando o contato de Alcides, e eu não encontrava brecha para ficar sozinho com Kate, ficamos fora do apartamento, mas com a porta aberta:
— Então Alcides, o que você faz? — Perguntou Kate.
— Eu trabalho na empresa que distribuí os mantimentos para os supermercados, e estou vendo alguns cursos, acho que vou tentar um de bombeiro.
— É isso que você quer mano? — Perguntei e Alcides estranhou o fato de eu ter usado uma gíria, algo que eu estranhei também.
— Ainda não sei, mas talvez seja algo legal.
— É você pode apagar fogos! — Falou Kate e a amiga apenas concordou com um “É”.
— Vai demorar para isso e não tenho certeza, mas depende do fogo.
— Eu posso apagar fogo sem ser um bombeiro. — Falei tentando fazer todos rirem mas apenas me encararam.
— Então tá né. — Falou Kate, a amiga dela apenas mexia no celular.
— Mas seria legal ter um amigo bombeiro sabe.
— É? — Perguntou Alcides. Eu estava começando a ficar de fora da conversa.
— Melhor é ser amigo de escritor, posso ajudar a qualquer momento.
— Claro, quando tiver fogo, você vai escrever sobre ele e morrer queimado! — Kate falou e todos riram, eu estava sendo deixado de lado, estava começando a dar risada. O resto da conversa foi só perguntando de nossa infância juntos, o orfanato e ela logo se despediu, dizendo que não iria ficar mais, ela me abraçou e foi embora, Alcides não conseguiu reforçar nenhuma ideia de que eu e ela conseguiríamos voltar, ao entrar no apartamento ele apenas me disse:
— Passou vergonha à toa, devia ter ficado quieto. — Eu apenas entrei e não disse nada, passei a noite rindo com professor Marcos e Dona Lourdes, cataram parabéns e aos poucos as pessoas se vão, o espaço começou a ficar cada vez mais vazio, assim como minha vida a festa chegou ao fim.
“Você ateou fogo
Em meu coração
Meu coração
Agora queima por ti
Mas agora
Você está fria
E gélida
Enquanto queimo
E sofro
Você não quer fogo
E se recusa a ajudar
Viajante do Tempo”
Já era outubro e eu decidi me dedicar em uma última investida crucial para reconquistar Kate, eu continuava tentando e pedi ajuda a Alcides para me aconselhar ou quem sabe a amiga dela influenciar para que me de outra chance, nas duas semanas de outubro além de me dedicar inutilmente a encontrar emprego porque não era contratado nunca, me sentia um completo inútil enquanto Alcides já estava no terceiro emprego em menos de um ano, mas me dediquei e fiz algo único, um poema e com um certo trabalho e cópia dos desenhos de um artista, um poema ilustrado, fiz os desenhos primeiro e usei eles como inspirações para os versos, isso seria minha maior “arma” para reconquistá-la.
Eu a convidei para comermos pizza no mesmo lugar que fomos quando a conheci, ela aceitou e foi marcado para o último sábado de outubro, me arrumei coloquei o poema ilustrado em um envelope e me arrumei de forma bem elegante, roupa social, iria fazer bonito seja conseguindo ou sendo rejeitado, mas estava otimista de que daria tudo certo, eu fui para a pizzaria, ela disse que me encontraria lá. Passou meia hora e ela me ligou:
— Alô, está tudo bem?
— Alô, está sim...
— É que você está atrasada...
— Eu pensei e acho melhor eu não ir... — Foi como um soco no estômago.
— Porquê? — Eu estava tentando segurar o choro, mas meus olhos já estavam alagados
— Eu estou gostando de outra pessoa. — Era uma chuva de facas cortando meu ser e meus olhos sangravam água salgada, não conseguia dizer nada, apenas desliguei na cara dela e saí da pizzaria.
Cheguei em casa o mais rápido possível, Alcides me viu e tentou falar comigo, mas eu não queria conversar. Apenas corri para o meu quarto, liguei o computador e escrevi, enquanto um rosto e teclado eram regados a lágrimas infindáveis:
“Meus olhos sangram
O que meu coração
Não consegue
Ouvir tais palavras
De forma cruel
A dor é excruciante
Queria não ter conhecido
Você a quem amei
E só fui ferido...”
Ela me ligou enquanto eu escrevia:
— O que você quer Kate?
— Eu não quis te magoar, mas você tem que ser mais independente, se arriscar, ter um futuro.
— Entendi, você sabe falar a solução, mas não ajudar a conseguir.
— Meu Deus vê se cresce Elliot, acho que isso é um adeus.
— Porque? — Eu não sei o motivo de eu ter perguntado, talvez o apego, ou o medo, medo de realmente perde-la.
— Porque você não vai mais falar comigo Elliot. — Eu cai na armadilha
— Vou sim.
— Ele disse que vai continuar a falar comigo, acredita nisso? — Perguntou para a amiga dela que estava ouvindo a conversa.
— Então tá bom. — Eu com muita coragem desliguei o telefone.
Eu não lembrei do que iria escrever depois, então simplesmente tentei dormir.
Acordei cedo por não conseguir dormir, porém havia uma mensagem de Jennifer, ela disse que estava sem celular e me perguntou se estava tudo bem comigo, e que estava com saudades:
— Oi, também estou com saudades, aconteceu tanta coisa.
— Vamos conversar então, me explica, você está bem? — Eu contei tudo, desabafei tudo desde eu indo para Belo Horizonte, até a noite anterior, minhas lágrimas caiam na tela do celular, ela não viu a mensagem, e tive que esperar.
Eu não queria ir nas células, eu passava o dia em casa, e tentava lembrar o que iria escrever o dia foi tentando me distrair e esquecer de Kate, era difícil, fiquei longe do celular para evitar lembrar de como não pertenço a este mundo. No fim da tarde Alcides chegou e me perguntou enquanto preparava para comer algo:
— Então, o que houve, você está bem? — Chegou horrível da pizzaria.
— Ela nem foi, mandou mensagem para dizer que gostava de outro, depois me ligou para dizer o que eu já sei sem apresentar solução e me envergonhar com uma amiga dela ouvindo a ligação.
— Eita, sinto muito, mas acho que agora é hora de você realmente seguir em frente. — Ele falou e começou a comer um lanche.
— Eu estou tentando, tem sido complicado demais para mim.
— Você consegue, e vai dar certo irmão.
Depois disso foi apenas conversas normais, sem algo específico sobre Kate. Os dias se passaram, logo seriam as festas de final de ano, e eu queria estar bem, quem sabe melhor, melhor acompanhado, Thalia, aquela amizade foi para o fim depois de dizer que eu não estava indo a lugar algum. Suzana não era nada amorosa como seu nome poético dizia, e Maya, eu não estava a fim de lidar com ela fugindo do ex-namorado, sobrando Jennifer que ainda não me respondeu sobre todas as situações.
Os dias se passaram, e sempre que eu começava a ficar melhor, sonhava com Kate, eu havia decidido não falar mais com ela mesmo, eu a excluí e bloqueei ela. O problema foi que no meio de novembro, enquanto eu estava começando a ficar melhor, e a procurar emprego, afinal ano que vem estaria finalmente fazendo faculdade, e por mais difícil que foi eu estava começando a me sentir bem até que a amiga dela me procurou em rede social:
— Oi, você é o Elliot, não é?
— Sim, você é a amiga da Kate, o que você quer?
— Eu queria saber se você está bem, não concordei muito com o que a Kate fez com você.
— Estou bem, e estou tentando achar um emprego é isso. Ela gosta de outro e eu bloqueei ela, ponto final.
— Tem um mês e pouco de que ela está conhecendo um cara.
— Obrigado por essa informação que eu não precisava.
— Mas ela me disse que está pensando em voltar com você. — Aquilo acendeu meu coração, mesmo que não querendo, mesmo lutando, ainda gostava dela entretanto precisava ser firme.
— Não acredito nisso.
— Foi o que ouvi, tenta falar com ela, uma última vez.
— Vou pensar. — Eu realmente estava em dúvida, precisava me libertar, porém o amor que eu tinha sobre ela sempre foi grande demais. E mesmo eu não querendo aquela sensação de otimismo era incontrolável. Quando Alcides chegou eu comentei com ele e a resposta dele foi:
— Bom, ela não me diz nada sobre você... — Minha reação era óbvia de surpresa e raiva.
— Vocês conversam?!!
— Sim, calma, é que ela pediu para eu não falar, nada, e eu tentei convencer ela a te dar outra chance, mas ela não quis, e é melhor você seguir em frente, foi o que ambos concordamos, eu e você falamos né. — Ele estava se afastando e falando na defensiva.
— E você não gosta dela?
— Não!!
— Ela gosta de você?!
— Não!
— Então, pode descobrir se ela realmente quer falar comigo e o que ela quer?
— Não dá né mano, se eu pergunto vai dar na cara que você pediu.
— Entendi, você está certo.
Eu pensei e pensei, até tomar a decisão de desbloquear e deixar ela falar o que quer que fosse.
— Oi, o que você quer?
— Oi, como você está?
— Estou bem, apenas diga o que você quer Kate!
— Está bem então, eu queria agradecer você pelo que tivemos, você foi especial, obrigado por tudo Elliot. — Eu não fiquei feliz, mas a tristeza se misturara com raiva e não iria mais segurar minha língua.
— Sério isso? Você não me deixa seguir em frente para dizer “obrigado”? Eu poderia viver sem seu obrigado, e estaria melhor agora!
— Nossa! Tudo você faz um drama!
— Você não consegue ficar sem me deixar seguir em frente não é?
— Eu só vim agradecer, e pelo que me lembre você me procurou lembra?
— Pois é, e me arrependo, pois você é uma mentirosa e manipuladora!
— E você só me sufocava! Só isso, eu esperei por você e me arrependo! — Ler que eu apenas sufocava e desde ela agradecendo ao resto é como estar amarrado a uma cadeira enquanto ela me esfaqueia e bate em todas as formas.
— Eu não pedi para você esperar! Porque você quis ficar comigo se eu apenas te sufoquei?
— Porque achei que você iria melhorar, mas só perdi meu tempo.
— Então para de desperdiçar o meu.
— Você é insistente demais Elliot, eu já estou gostando de outro, e eu só vim desejar que você seja feliz.
— Há quanto tempo você está com esse cara?
— Vai fazer um mês!
— Então foi só terminar comigo e você já partiu para outro? — Aquilo doía, era como arrancar a casca de uma ferida e espremer com uma faca quente.
— Ah! Não foi assim, meu Deus, não é da sua conta, se toca! — E eu a bloqueei, e chorei, cada vez que ela aparecia parecia uma tortura para a alma, e minha mente, e foi quando me toquei, há mais ou menos um mês antes ela conheceu Alcides, e eu percebi que ela estava gostando de Alcides. Eu dormi, até tarde do outro dia, e decidi sair para procurar emprego e procurar Alcides no supermercado encontrei Alcides repondo as coisas, eu parei e contei tudo para ele:
— Eita cara, sinto muito!
— Ela disse algo sobre mim depois?
— Não, foi mal cara.
— Ela gosta de você! — Enquanto colocava as coisas na estante do supermercado ele respondeu:
— Ela me disse isso ontem! — Aquilo doeu, e muito, era difícil controlar as lágrimas em público.
— E você? Gosta dela?
— Não. Não retribuo o sentimento. — Eu desconfiava, mas Alcides era meu amigo há anos, então se ele disse é verdade.
— Entendo, é loucura que eu ainda goste tanto dela?
— Não, isso é comum Elliot, mais do que imagina.
— Pois é, mais um final de ano horrível.
— As coisas vão melhorar.
— Espero. — Ele colocou a mão em meu ombro e nos despedimos, eu fui para casa, e fiquei tentando escrever.
“.... Eu fiquei amarrado
Amarrado a ti
Enquanto me torturas
E provei de toda minha insuficiência
Como dói
Como doeu
Amar você
Preferir meu irmão
Que a mim
É uma dor
Que não prevejo
Fim.
Viajante do Tempo”
Passei o pouco que restava do dia tentando esquecer tudo. Ao anoitecer, Alcides me manda uma mensagem:
— Preciso falar com você.
— Diga.
— Eu estou gostando da Kate! — Aquilo parecia não ter fim, o mundo parou e a sensação de traição, de meu irmão mentir para mim, insuficiente e burro, aquilo doeu, uma chuva de facas caía sobre mim, e me perfurava, eu comecei a chorar, e ficar ansioso, enquanto ele digitava e a mensagem chegava:
— Me desculpe, mas precisava te contar.
— Cara, você mentiu para mim, na minha cara!!
— Eu não sabia como te contar!
— E você sabia o quanto eu gosto dela!
— Ela veio atrás de mim, eu tentei convencer ela, mas simplesmente aconteceu, não se escolhe de quem se gosta.
Eu não podia ficar ali, aquilo doía, então me arrumei, preparei as malas e apenas avisei Marcos que estava indo ao orfanato. Praticamente joguei minhas roupas regadas a lágrimas, e socava minha cama ao mesmo tempo, saí do prédio o mais rápido possível, e na entrada, os dois juntos. Parados. Conversando. Era como estar em um pesadelo e não conseguir acordar, eles apenas conversavam, quando Alcides me viu e andaram até mim, eu queria sair, queria correr, queria socar Alcides e Kate, estava em um turbilhão de sentimentos:
— Aonde vai Elliot!!
— Fica longe de mim, seu mentiroso!!! — Eu não conseguia não gritar e chorar.
— Cara, apenas aconteceu.
— Você mentiu para mim, e não teve a CORAGEM DE DIZER NA MINHA CARA, POR MENSAGEM COMO UM COVARDE!!!!
— Elliot, isso acontece, nós só queremos que você seja feliz, não fiz, não fizemos nada de errado. — Kate falou calma, mas era visível que ela estava tentando se controlar.
— Não fizeram nada de errado?!
— Sim! — Os dois responderam ao mesmo tempo.
— Então desejo a vocês, o mesmo que fizeram comigo. — Eu disse com raiva, mas controlado, os dois pararam e não sabiam o que dizer, eu sorri e não pude deixar de dizer: — Não tem resposta não é, resposta não encontrada no Windows! — E comecei a rir.
— Ah!! Vai se.... — E antes que ela completasse a frase eu me virei e fui embora!
— Alguém ou eu voltarei para pegar o resto das minhas coisas.
Eu não quis ouvir nada, e coloquei meu fone de ouvido, caminhei até o ponto de ônibus e depois fui até a rodoviária, ainda tinha o último ônibus que passava até o orfanato, e ele só sairia 22:00, era muito tempo, decidi ver se Jennifer poderia conversar comigo, e mandei mensagem, liguei, mandei áudios controlados, mas a voz de choro é possível, fomos amigos, e ela disse que poderia contar com ela, e então ela respondeu:
— Deixa eu ouvir tudo e pensar no que te responder. — Eu estava inquieto, tentei comer doce para me acalmar, mas não adiantou. Então uma hora do ônibus chegar Jennifer respondeu “Elliot acho que você está confundindo as coisas”. E foi a última mensagem que recebi de Jennifer, na minha vida. O ônibus chegou, eu entrei e demoraria uma hora e meia para chegar ao orfanato, sentei na janela e pude ver a chuva que caía de mim.
VIII
No ônibus acabou pegando no sono enquanto, divagava as memórias e relembrou de quando tinha 5 anos e haviam chegado ao orfanato depois de passarem uns dias na cidade, não foi para dentro do orfanato, apenas sentou-se na escada sozinho enquanto todos os colegas passavam correndo, quando Marcos o viu:
— O que foi pequeno Elliot? Cansou-se de tanto correr? — Ele sorriu e fazendo um cafuné nos cabelos lisos e loiros da pequena criança.
— Porque eu não tenho pais? — Ele olhou para o professor que estava em pé e o sorriso se desfez virando uma expressão de surpresa, Marcos sentou-se ao lado dele e o abraçou:
— Eu não sei.
— Eles não me quiseram? É isso? Eu fiz algo a eles e não me quiseram? — O pequeno Elliot tentava segurar o choro, e fazia uma expressão de raiva, mas estava vermelho e era possível ver isso ao céu claro de verão as 16:00.
— Não!! Nós não sabemos o que aconteceu.
— Deus tirou eles de mim?
— Claro que não Elliot, você está olhando de maneira errada. Venha comigo pequeno. — Marcos o pegou no colo. E o levou até a cozinha. Enquanto caminhava Elliot continuava a falar:
— Então cadê meus pais? Deus me fez sem pais? O choro agora era visível e não tentava mais esconder.
— Não sei meu pequenino, mas por enquanto você precisa de algo. — Ao entrar na cozinha as “tias” estavam todas presentes, e viram o Elliot e perguntaram o que houve com ele?
— Ele precisa de um bolo de chocolate!! — Falou professor Marcos.
— Então faremos para o pequeno Elliot, um bolo de chocolate como ele gosta! — Falou Dona Lourdes o pegando no colo enquanto se entregava e a abraçava chorando. Dona Josefa, Dona Ângela e Dona Julieta preparavam as coisas, enquanto Dona Lourdes o abraçava, dava pequenas colheradas de chocolate para ele até o acalmar e brincaram até o menino sorrir, Marcos brincava sobre ele roubar o chocolate do bolo, o menino sorriu até o bolo ser colocado no forno e depois passou a ficar sério.
— O que houve pequeno Elliot? Porque estava chorando? — Perguntou o colocando em cima do balcão enquanto as outras senhoras limpavam a cozinha.
— Eu não tenho mãe nem pai, e Deus não me responde porquê!! — O choro já estava a caminho pois ele ficava vermelho como um pimentão!
— Você está olhando errado! Nós não sabemos Elliot, mas sabemos que Deus é bom, e tudo que Ele faz é bom, talvez eles não cuidaram de você, mas Deus ele sempre dá algo melhor para o que perdemos! — Dona Lourdes falou isso olhando e limpando as lágrimas dele enquanto olhava fixamente para ela.
— Porque Ele não me diz então?
— Porque você não precisa saber! — Marcos estava nas costas de Elliot quando falou:
— Preste atenção garoto ela é sábia! — Elliot olhou para ele e depois para dona Lourdes.
— Eu perdi meu filho quando ele era adulto, e me deixou minha neta Catarina, eu também perguntei a Deus mas Ele não me disse.
— Deus parece não responder eu e a senhora, estou bravo com Ele! — Disse cruzando os braços.
— E de que vai adiantar? Nada! — Falou Lourdes com uma calma e autoridade. — Eu também fiquei com raiva, mas sabe o que Deus fez? — Elliot balançou a cabeça dizendo não. — Deus me trouxe aqui, e agora tenho todos estes filhos e o mais especial, você! — Os olhos de Elliot brilharam.
— É campeão, se olhar para o que não tem ou teve ao invés de ver o que tem, vai sair triste, Deus te deu vários irmãos e todas essas mães e pais, e eu tenho você como um filho é bem parecido com a forma que eu penso, só não é careca como eu mas é bagunceiro como eu fui! — Fazendo um cafuné no cabelo com penteado surfista Elliot sorriu e agora chorava de alegria, Dona Lourdes e Marcos o abraçaram, e este sentiu-se seguro, em paz.
Elliot acordou na parada do orfanato e desceu, estava escuro, mas longe podia ver Marcos e Dona Lourdes esperando por ele, e quando chegou se entregou a braços que não sentia a tempos, lar, segurança, e o amor que tanto precisava.