Ramificações de um Poeta (Terminado)
Lobo Negro Johny
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 10/01/24 03:39
Editado: 07/04/24 14:51
Qtd. de Capítulos: 9
Cap. Postado: 07/04/24 14:51
Cap. Editado: 07/04/24 14:51
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 47min a 63min
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Ramificações de um Poeta
Capítulo 9 Ato IX

Ato IX

I

Elliot e Catarina estavam muito abalados com a morte de Dona Lourdes, Catarina passou a trabalhar sem folgar para esquecer os problemas, e já que não a via por trabalhar sem parar, foi ao orfanato para ajudar Marcos com Valentin, ao chegar o orfanato parecia estar pior, o local estava sempre nublado, achou irônico pois era como sentia-se por dentro. O local estava tão vazio que mesmo no último andar Marcos conseguiu ouvir o barulho da porta se abrindo.

— Ele chegou.

— Dessa vez espero que dê certo. — Falou Valentin, antes de dormir, um médico estava no escritório ao lado esperando Marcos deixa-lo entrar, ao entrar, examinou Valentin e o diagnosticou com poucas horas de vida. Marcos desceu para conversar com Elliot e o encontrou no meio do caminho, e o abraçou passando a notícia. Foram para a antiga biblioteca, Elliot sentiu-se completamente triste por não ter mais livro nenhum, estava vazia, apenas estantes empeiradas, e duas poltronas, onde sentaram-se um de frente para o outro.

— Eu não estou pronto para outra perda.

— Ninguém está, não fomos feitos para encarar a morte.

— É muito recente.

— Embora tentemos, não podemos controlar as coisas.

— Acho que ser órfão, ou ser eu, significa estar aprisionado a perda desde que nascemos, pois nasci e já fui abandonado ou perdi minha família.

— Eu sinto muito Elliot. Você é um diferencial porque mesmo com tudo que viu e passou, você ainda é essa pessoa boa, Valentin te considera o melhor.

— Sério?

— Sim, ele diz que por alguém como você, mesmo que todos os outros não sigam o que aprenderam, que não mudam uma vírgula no mundo, você é capaz de transformar um final ruim em um mero prefácio.

— Não sei como.

— Seus poemas, seu livro, você só está começando.

— Obrigado.

— Nada é fácil para quem quer fazer o certo. E estarei aqui para te ajudar, e ver o incrível caminho que irá trilhar. — Elliot se emocionou. — Dona Lourdes ficará orgulhosa, e Valentin também.

— Obrigado professor.

— Não deixe isso subir à cabeça, seja humilde.

— Claro.

O médico desceu as escadas chamando por Marcos, os dois foram até eles, o rosto dizia tudo, Valentin faleceu. O velório seria no outro dia, Elliot mandou mensagem para Catarina avisando e a única mensagem que ela mandou foi “sinto muito”. O velório foi Marcos, Elliot, alguns funcionários, e alguns órfãos mais velhos. Valentin foi enterrado ao lado de seus pais no terreno do orfanato, ele não tinha mais parentes, era o último da família dele. Marcos e Elliot ficaram mais alguns dias para tirar as coisas dele, Marcos iria levar para sua casa o que podia e arrumar o resto da papelada depois, demorou uma semana só para encaixotar as coisas, Marcos e Elliot desceram devagar as escadas pela última vez, o carro de Marcos estava em frente à entrada, colocaram as coisas no carro e olharam para o orfanato:

— Há dois anos eu pensei que não pisaria mais aqui.

— Eu nunca pensei que veria isso acontecer.

— É triste.

— É, sei que não o conhecia tão bem Elliot.

— Eu não gosto de ver dor, perda e de magoar pessoas, ver alguém morrer é tudo isso.

— É, vamos, eu te deixo na sua casa.

— Catarina deve estar se matando de trabalhar, ela não gosta de confrontar as situações, e eu tive que vir...

— Porque ela não veio?

— Ela não gostava do Valentin, ela dizia que ele escondia coisas.

— Mas escondia, dela, porque ela não precisava saber. Ele fez sacrifícios por este orfanato, a família dele Valerius...

— Esse era o sobrenome dele?

— Sim!

— Não sabia.

— Claro, vocês não conviviam com ele.

— Eu que era professor e confiava foi difícil dele falar tudo.

— Eita.

— É, sua namorada queria saber de coisas que não era da alçada dela.

— Entendo.

— Não briga com ela por isso.

— Não vou, não preciso brigar, e detesto brigas, não quero magoar ela.

— Vocês já brigaram?

— Não, e acho que eu ficaria bem quieto ou evitaria o máximo, detesto magoar pessoas, ela pode ir e não voltar.

— Entendo.

Depois Elliot acabou adormecendo, e acordou quando chegou na casa, se despediu de Marcos com um abraço, e pediu para manter contato, não o veria tão cedo. Ao entrar em casa, estava sozinho, foi para o quarto onde se encontrou Dona Lourdes, e chorou pela falta dela “Valentin está tomando café com a senhora”. Viu várias mensagens no celular da editora, as vendas do livro estavam melhores que o esperado, ele estava ganhando mais dinheiro que previam. Tentou ligar para Catarina, mas ela não atendeu. Apenas deitou e dormiu novamente. Ao acordar tarde, recebeu uma mensagem de Catarina:

“Não surta, mas não tem como darmos certo, estou voltando a minha religião, senti em meu coração e procurei em Deus, e como somos diferentes nisso, acho melhor terminarmos, provavelmente irá me odiar, não quero conversar, só espero que entenda, estive ansiosa sobre isso esse tempo todo e é o melhor para mim, obrigado por tudo que vivemos com intensidade, não se preocupe com a casa, vovó deixou ela para você”.

“Mas como assim? Você me disse que estava bem, como você orou a Deus, mas é o que Ele quer para você?” A resposta cruel:

“Desculpas...”

Elliot apagou tudo dela que conseguiu na hora, e foi até o quarto vazio de Dona Lourdes, se agachou no chão chorando e disse em voz alta:

— Estou sozinho de novo... Todos me deixam... II

Três meses depois, Elliot havia passado a usar apenas seu segundo nome “Thomas”, ele escreveu um segundo livro sobre observações da sociedade, mais melancólico, e para espanto dele, um sucesso de vendas. Thomas estava tendo uma ótima vida financeira.

— Vou visitá-lo. — Falou Marcos a Sara.

— O que mais vai fazer na cidade?

— Documentação sobre a mansão, a prefeitura é dona da mansão.

— Ah sim, é triste que ele não conseguiu manter o orfanato.

— Eu sei, nem teve filhos. Eu vou indo, quero surpreender “Thomas”. — Marcos beijou Sara, e foi embora. Era uma longa viagem de carro.

Ao chegar no fim da tarde, foi direto para a nova casa de Thomas, era uma casa grande, e parecia que estava tendo uma festa, ou o fim dela, Marcos estacionou o carro, era uma parte da cidade de alta sociedade. A casa era de arquitetura moderna, tinha piscina e o portão estava aberto, ao entrar a casa estava vazia, com várias garrafas deixada de lado, havia algumas pessoas apagadas, e outras usando drogas, Marcos torcia para que estivesse na casa errada, ele começou a gritar “Thomas” em um tom sarcástico, ele subiu viu a escada em caracol, a decoração branca, lustres, a escada de madeira, ao subir encontrou uma moça abotoando a camisa branca, era muito atraente ele pediu licença e perguntou:

— Você pode me dizer se estou na casa do Thomas?

— Sim, essa é a casa do escritor estranho.

— Porque estranho?

— Já fui paga para muitas coisas... — Marcos ficou espantado porque Elliot havia contratado uma garota de programa. — Mas ser paga para conversar e fazer um cafuné! Primeira vez na vida e enquanto há uma festa na parte debaixo da casa.

— Obrigado. Onde eles está? Pode me dizer por favor?

— Sobe a escada último quarto.

— Obrigado. — Marcos passou a acelerar o passo, andou pelo corredor, e chegou no quarto, jamais pensou que isso fosse acontecer, suspeitava de algo para o Thomas não manter contato, mas isso o preocupava demais, começou a gritar:

— Thomas eu sei que está aí, estou preocupado, apareça por favor. — Chegou e a porta estava fechada, ele começou a forçar com o ombro, e a chutar, até que a porta cedeu. O quaro estava fétido, uma mistura de álcool e cigarro, garrafas vazias e pequenos pedaços de cigarro, andou pelo quarto, e tinha um banheiro, atrás da cama de casal havia manchas de sangue, ele começou a seguir, estava assustado e com medo, o banheiro estava fechado, mas havia um gemido de dor contido parecido com um grunhido e quando Marcos abriu a porta encontrou Thomas:

— Meu Deus Elliot! O que está fazendo? — Marcos começou a derramar lágrimas. Thomas estava sem camisa, o chão estava sujo de sangue, o peito do lado esquerdo estava cheio de cortes, como se ele estivesse esfolando sua própria pele, havia páginas esparramadas pelo banheiro com sangue.

— Eu não consigo fazer parar de sangrar. — Thomas respondeu chorando e avoado, como se estivesse desligado da realidade, tentando desesperadamente chegar até seu coração e curá-lo fisicamente sendo que a dor é emocional.

Marcos correu e tirou a faca da mão dele, pegou uma toalha e começou a limpar o sangue, o abraçou rapidamente e voltou a cuidar dele. Chamou a ambulância é expulsou o resto das pessoas que estava na casa. No hospital falaram que logo ficaria bem, que as feridas não foram tão profundas, Marcos sabia que eram profundas demais para que Elliot se tornasse outra pessoa ao usar seu segundo nome.

III

Thomas estava melhor, Marcos estava do lado dele, sentiu-se culpado, e controlou o choro por fazer isso a ele. Marcos acordou enquanto, Thomas estava no banheiro colocando suas roupas, Marcos colocou-se de pé e quando ele saiu do banheiro, o abraçou:

— O que aconteceu?

— Ela me deixou... No dia que você foi embora, ela me mandou mensagem, ia voltar para a religião dela, não queria conversar, disse para eu não a procurar... aqui leia. — Marcos leu a mensagem dela.

— Eu sinto muito...

— Eu tentei conversar com ela, fui ao serviço e ela quando me viu, fingiu não me conhecer e ameaçou tomar medidas drásticas. — Thomas estava ficando ansioso. — Então eu tomei coragem e escrevi para ela. Olha aqui.

Ele pegou o celular e mostrou, e foram andando para fora do hospital, Marcos leu enquanto andava:

“Eu só queria deixar claro, queria apenas conversar pessoalmente, é o mínimo que deveria ter acontecido, porque maturidade é olho no olho, mas parece que você não tem maturidade, não vou te procurar, não se preocupe, afinal você fez pouco de mim, e conseguiu ser como muita gente que sempre volta para onde ficava machucada. Nunca imaginei que iria esconder as coisas de mim, mentir que dizendo que estava tudo bem quando não estava, pensei que fosse sincera, pensei que o mínimo que poderíamos fazer é ter uma conversa para eu conseguir entender o que aconteceu, mas lhe falta maturidade. Não te odeio, seria mais fácil se odiasse, mas não odeio e não vou odiar. O motivo de não falar com você quando mandou mensagem de término, foi porque não queria te magoar pois acabaria dizendo coisas desnecessárias sobre você, não farei isso. Apenas queria entender, a única coisa que entendo é que não me valorizou e voltou para o lugar onde sempre reclamou para mim, sinceramente preferia não ter te conhecido, não ter beijado nem vivido nada contigo porque você fez pouco de mim. Te desejo o melhor. Não irei te procurar, e vou fingir que não nos conhecemos, se ao menos fosse verdade...”

— Você nem deveria ter procurado ela. — Ele entregou para Thomas o celular e foi andando até o carro. — Você fez bem no texto, maduro, real, então porque está desse jeito?

— Foi tudo que aconteceu depois.

— Conte-me. — Marcos dirigiu pela cidade, indo até a casa de Thomas. E contou tudo. IV

Elliot não foi mais na faculdade de medicina, Mariana foi dada como desaparecida, porém o corpo foi dado como desaparecida, alguns dias depois foi encontrada em um bairro pesado da cidade, acreditavam ter sido traficantes e bandidos da cidade. Elliot não ia na faculdade a um mês. Apenas Daniel o visitava, mas ele não falava nada, sabia que era melhor não falar, apenas ele sabia da verdade. Daniel ganhava dinheiro com o mercado negro, seja dando sumiços em corpos, ou dando álibis para pessoas. Ele passava toda noite, e saía, apenas ficava em silêncio, não diziam nada. Quando iniciou o segundo mês, logo após a saída de Daniel, alguém bateu na porta, Elliot abriu a porta, foi como se ver no espelho um pouco mais magro. Então o sósia perguntou:

— Como você está? — Elliot Johny respondeu, sério não escondendo a raiva.

— Estou bem.

— E como está Mariana? Posso conhecer ela? — O sósia estava com uma camiseta grande branca em gola v, usava uma caça de moletom e chinelos.

— Claro, pode entrar, ela logo chega.

— Obrigado, com licença. — Ele entrou no apartamento e pegou o relógio de bolso, viu a hora e guardou novamente perguntando. — Que horas ela chega? Não tenho pressa, é apenas a ansiedade, fico feliz que você seja feliz. — Elliot Johny encostou a porta, e sorriu, olhou para o relógio sendo guardado e sabia que precisava pega-lo.

— Obrigado, sente-se. — Indicou uma poltrona vermelha, era de escolha de Mariana. O jovem sósia foi andando.

— Pelo menos um de nós, pode ser feliz certo xará? — Quando se virou para sentar, viu a expressão de ódio de Elliot Johny, e ele dando um chute mirando a boca do estômago, e acertando parte do peito, e o fazendo capotar para trás e derrubar a poltrona, estava desnorteado, e quem chutou deu um passo falando:

— Me fazer feliz?! — Chutou a barriga dele. — Você sabe pelo que me fez passar? — Um chute na lateral direita do rosto o fazendo cuspir sangue, e depois o pegando pelo pescoço com a mão direita e o levantando a alguns centímetros do chão. — Agora você vai me contar sobre viagem no tempo! — E deu um soco na cara de seu sósia, que o fez desmaiar e quebrou o nariz, fazendo o sangue escorrer na camiseta branca. V

Na primeira semana após Catarina Thomas e este tentar conversar, ela fingiu não o conhecer virando o rosto, depois que ele mandou o texto de resposta, voltou a sua rotina mesmo com dificuldade por não ter mais pessoas por perto, o livro vendia super bem, então decidiram dar uma festa para comemorar as vendas, ele não queria ir sozinho, então chamou Maya:

— Oi Maya, tudo bom?

— Sim, estou bem, você sumiu de tudo.

— Pois é...

— E publicou um livro, realizou seu sonho. Parabéns, como se sente?

— Eu queria que você me acompanhasse na festa em comemoração as vendas.

— Claro que eu vou. Obrigado por me convidar.

— Será sexta à noite, no museu de JaciPolo, no centro.

— Está bem.

— Traje formal.

— Que chique, pode deixar.

Ele fazia tudo que precisava, mas detestava voltar para casa, na segunda-feira após o término ele estava chegando, quando a reconheceu na esquina de sua casa, dois amigos, então ela o viu, e beijou o menino, Thomas entrou na sua casa, e não fez mais nada além de chorar, e escrever:

“Como posso significar tão pouco?

Como meu amor vale tão pouco?

Tentei entender

Não tenho resposta

Essa crueldade

Tão imposta

Sobre meu ser

Eu que nunca te machuquei

E me feres propositalmente

Depois de tudo que te fiz?

Devo ser alguma espécie

De pária

Tão indesejado

Que após usado

Só pode ser ferido

Elliot Thomas.”

Naquele dia, ele mudou seu nome não usou mais o primeiro, apenas o segundo nome. Sexta-feira foi para a festa acompanhado de Maya, vestiu um terno, Maya estava com o cabelo cacheado arrumado, um belo vestido preto que acentuava as silhuetas de seu corpo. Pegaram um Uber e foram, ele pediu para não ser mais chamado de Elliot, ela teve que se acostumar:

— O que você tem Elii... Thomas?

— Minha namorada me abandonou, eu perdi a pessoa que foi uma mãe para mim, e quem disse nunca me deixar, agora beija alguém novo na minha frente.

— Ela não te merece. — Ela o colocou sobre o ombro, enquanto ele olhava para a frente, contemplando um vazio, não disse uma palavra o caminho todo.

Ao chegarem na festa, Thomas era ovacionado, teve um estande onde autografou vários livros, ele tentava sorrir, mas Maya que já o conhecia sabia, não era algo verdadeiro. Tiravam fotos, o chamavam de gênio da poesia, poeta incrível, conversavam, ele fazia um bom social, porém estava surtando e sofrendo por dentro. Ele teve que fazer o discurso:

— Boa noite... — Aplausos por vários minutos. — Eu queria agradecer a meu professor Marcos por sempre apoiar e ver esse grande talento dentro de mim, o orfanato Valentin Valerius, que me criou e me deu uma oportunidade, a Dona Lourdes... — Ele começou a chorar. — Ela foi como uma mãe para mim, e ela leu uma parte do livro e amou. Obrigado Deus, por esse talento e oportunidade. — Foi aplaudido em pé, e logo saiu e encontrou Maya, as memórias de Dona Lourdes e o final que passou com ela estavam ligadas a Catarina, e isso o destruía, Maya o abraçava:

— Ei, bebe isso, para te acalmar.

— Eu não bebo álcool.

— Só bebe, essa noite. — Ele pegou a taça e virou, fez uma cara horrível, ela riu.

— Calma, a primeira vez é assim mesmo. Ela pegou outra taça, ele virou, e mais uma, e mais uma, e ele estava bêbado, ele chorou, ele dançou. Ela o levou de volta para casa, e quando ele entrou no quarto, ela disse:

— Você é o melhor Thomas... — Ele a beijou.

Thomas acordou de manhã, estava sem roupa no lado de Maya, ele começou a ter flashes da noite anterior, ele foi para o banheiro e se trancou, colocou a cueca, e depois uma calça, e chorou, não acreditava no que tinha feito, sentia-se sujo, não era isso que queria, sentiu-se corrompido, não se reconhecia no espelho, pensava no quando Dona Lourdes, Valentin, Marcos e Deus estavam decepcionados com ele. Maya acordou, trocou de roupa e bateu no banheiro:

— Thomas?

— Eu preciso ficar sozinho, por favor.

— Você não precisa.

— Por favor...

— Está bem, eu voltarei no final do dia, não precisa ficar assim.

Thomas passou o dia em seu quarto, escrevendo:

“O que eu fiz?

Quebrei meus princípios

E estou sozinho

Decepcionei as pessoas

Tentei me reinventar

E me destruí

É esta pessoa que sou?

Thomas...”

Maya chegou à noite, e para a surpresa dela, Thomas estava escrevendo e bêbado:

“Não faz sentido ser especial

Se eu fosse

Não haveria mal

Não seria abandonado

Desde meu nascimento

As pessoas conhecem nossas fraquezas

Apenas para explorá-las

Em uma desculpa

De amor

Se algo assim existe

Fez como as pessoas

Deixou-me;

Thomas”

— Ei, você está bem?

— Eu... Como entrou?

— Você deixou tudo aberto.

— Ah!

— Você sempre foi muito rigoroso sobre si mesmo, não há nada demais. Foi ruim ontem? Comigo?

— Não... — Ele lutava para manter os olhos abertos.

— Então, apenas vá devagar na bebida, sei que está magoado, mas vai passar. Eu cuido de ti.

— Obri... obrigado. — Ele desmaiou e ia cair, mas ela o impediu.

Ao acordar Thomas tomou banho, e agradeceu a Maya, ele a abraçou, ao tentar sair do abraço, ela o beijou. E logo estavam deitados juntos. Ela o abraçava, ele sentia-se desconfortável, como se estivesse tentando substituir Catarina, assim que Maya dormiu, ele se levantou e foi para um bar comprar mais bebidas, estava tão ansioso que ofereceram bebida, e uma moça ofereceu cigarro, dizendo que ajudaria a ansiedade, ele aceitou, tossiu por um tempo, mas adotou a droga. A mulher estava bebendo na calçada, e o chamou para se juntar a ela, ele acabou desabafando para ela, ela riu, ele chorou com a risada. Ela chamou um Uber e o levou para o motel, onde ele passou a noite com ela. Ao acordar voltou para sua casa, desnorteado, Maya já havia ido embora e deixou mensagens, ele não sabia o que responder, voltou a escrever:

“Os prazeres acalmam

Mas não são sequer

Um band-aid

São um pano sujo

Que contamina ainda mais

A ferida em minha alma

Thomas”

O tempo passava, e Thomas só afundava, não tinha um momento do dia em que não ficava bêbado, sempre estava acompanhado de alguma mulher a noite, e completamente sozinho durante o dia. O segundo livro era pura melancolia, e foi entregado a editora em folhas soltas, ficaram incomodados, mas logo perceberam que ele estava depressivo e por isso teriam problemas pela frente, porém com o lançamento do segundo livro sendo um sucesso maior ainda que o primeiro. Teve um dia que Maya levou uma amiga, Thomas acordou e chorou, fumava para acalmar a ansiedade.

“Os prazeres são álcool

Que coloco em feridas

Só as faz arder

Sem nenhuma cura

Ou alívio

Para meu atormentado ser.”

Thomas.

Thomas junto o dinheiro e comprou uma casa nova, deu uma festa para comemorar, só tinha flashes, e começou a ver o quão sozinho e acompanhado estava.

“Se ao menos minhas memórias

De prazeres e bebidas

Fossem trocadas pelas

Doloridas saudades

Eu não sofreria

E muito menos

Do jeito que estou

Viveria.

Thomas”

“A casa é grande

Identifiquei com minha alma

Grande e bela

Agora também percebo...

Vazia”

Thomas.

O tempo passava já se faziam 6 meses desde que Catarina se foi:

— Olha Thomas... — Falou Maya sarcasticamente. — Eu fiquei ao seu lado, te dei tudo o que podia, mas é assim, você sempre está com outras, e eu gostaria de ser única. Te dei até minha amiga e eu de presente e foi bom, mas preciso de mais, entende?

— Eu não posso oferecer a você, o que eu não tenho mais. — Respondeu chorando.

— Como assim?

— Você me ofereceu prazeres, eu precisava de cuidado e amor. Eu não amo mais.

— Seu cretino. — Maya foi embora, e nunca mais falou com Thomas. Ele passou a frequentar os bares e boates sempre que podia para ter prazer, porém elas terminavam e iam embora, então passou a pagar por companhias, mas apenas para lhe ouvirem. VI

— Então xará... Me explique tudo sobre viajar pelo tempo, e sobre esse teu relógio. — O viajante estava amarrado, suando e amordaçado. — Eu vou deixar você falar, não grite se não terá que escrever, entendeu? — Johny disse em um sussurro, e em seguida um pequeno rosnado. O viajante acenou com a cabeça que sim, e Johny tirou a mordaça.

— Tem que colocar todos os ponteiros no 0, é um relógio de 13 números.

— Hum, e depois?

— Você vai para o limbo, onde pode colocar os números das datas para onde quer ir.

— O que mais?

— O limbo permite outras...

— O que?

— Me desculpa pela Mar... — Johny estava de frente para o viajante, quando percebeu que ia citar Mariana, o soco na boca do estômago foi rápido, impiedoso e esmagador, tirando o fôlego do viajante e o fazendo cuspir sangue.

— Não fale o nome dela, você fez um acordo e não cumpriu a promessa, agora me diga como viajar pelo tempo e que caminhos são esses? — Ele recuperava o fôlego, e respondeu:

— Há mais de nós, somos iguais, e vidas diferentes... Você pode definir a data depois de entrar no limbo pelos 0s, porém pode se perder.

— Há mais quantos desse relógio?

— Apenas um.

— Onde o conseguiu?

— Sempre esteve comigo, foi deixado um dia após eu ter chegado... No ... orfanato quando bebê.

— E só passou a viajar no tempo quando?

— Uma falha experimental na parte de física na faculdade, e eu ia morrer quando um senhor me levou ao limbo e segurou o relógio.

— E o que mais?! — Johny estava cara a cara com a expressão de ódio.

— Ele estranhou o fato de eu já ter o relógio.

— Quando você chegou no orfanato?

— Acho que ....

— Diga!!!

— 29 de setembro.

— HUM! Obrigado. — Ele derrubou o viajante no chão, e o nocauteou com um chute na cabeça. Colocou os ponteiros do relógio todos no número 0, como o foi instruído, e assim ele sumiu do apartamento. VII

Elliot acordou com um grave corte na testa, após o chute de Johny, e havia um relógio em frente a ele, com um bilhete escrito “obrigado”. Ele estava assustado, nem parecia que ele estava falando “consigo mesmo”, era tão diferente. Apenas pegou o relógio e foi embora, nem ele sabia para onde. VIII

Johny estava olhando para o orfanato, da colina distante, era possível ver as crianças correndo, estranhou porque só havia meninos, estava bem cuidado, andou devagar, estava com blusa social preta, e um casaco usando capuz, quando chegou na porta de frente ao orfanato, bateu na porta e deixou uma caixa, com o relógio e uma carta dizendo que pertencia a Elliot, e sumiu, com seu próprio relógio.

Ato X I

Elliot saiu cedo do orfanato com reitor Rafael para Belo Horizonte, a viagem estava silenciosa, primeiro parou em JaciPolo, e para sua surpresa Maya cumprimentou e entrou no carro.

— Maya?

— O que faz aqui Elliot?

— Já se conhecem, isso é ótimo. — Maya olhou para o lado preocupada.

— Eu trabalho com o Rafael, é amigo da família. Do namorado, ou ex-namorado, nunca sei ao certo, e você Elliot?

— Eu vou ajudar ele para entrar na faculdade de letras certo?

— Sim.

— Que.... legal, parabéns...

— Obrigado. — O sorriso de Elliot era sincero, afinal ia perseguindo seu sonho, e acreditava que seu relacionamento com Kate iria melhorar por causa da distância, Maya colocou fones de ouvido e parecia enfezada, mas isso não abalou Elliot. Logo que chegaram em Belo Horizonte, levou o jovem entusiasmado para uma fábrica antiga, dizendo que seria ali que iria trabalhar. Era quase 18:00, o sol estava se pondo, quando desceu para que visse a fábrica, Elliot estava feliz, mas estranhou porque ela parecia abandonada, sentiu uma pancada na cabeça e tudo se apagou. Acordou algemado a uma cama velha de solteiro em um pequeno quarto que era apenas reboco, e uma janela alta que entrava a luz da lua. Pediu por ajuda, por socorro, e nada até que entrou o reitor Rafael:

— Cala a boca! Você vai trabalhar muito e me ajudar muito antes de eu colocar você na faculdade, entendeu?

— Mas...!

— Vai acordar os outros trabalhadores! Guarda! — Entrou um homem enorme, com a cara coberta e uma seringa que sedou o jovem Elliot. Ele foi acordado no outro dia e foi levado a um escritório com a cabeça coberta, uma mesa velha, Maya com uma máquina de datilografar o reitor o mandou responder as perguntas:

— Seu nome completo?

— Eu não sei.

— Ele não conheceu os pais. — Falou Maya.

— Ah é, esqueci que você era do orfanato. — Rodeou Elliot e segurou o queixo. — Gosto de Arthur, não é um sobrenome, mas é um nome composto para você. — Maya datilografou o documento dizendo que Elliot Arthur morava em Belo Horizonte, e trabalhava na fábrica tempo necessário até poder iniciar a faculdade. Trabalharia das 06:00 até as 23:00, 15 minutos de almoço, e 5 de café, depois iria direto para a cama, não podia conversa, interação, nem nada, qualquer quebra de regras faria com que fosse severamente punido.

Na primeira semana Elliot desmaiou várias vezes, sendo severamente punido com golpes de correntes nas costas, e passava o dia isolado, só davam comida para ele. Depois de um mês Elliot passou a apanhar por se esquecer de que não podia conversar. Alcides, Kate e suas amizades ficaram preocupados, mas Rafael pegou o celular e enviou uma mensagem a todos dizendo que não iria voltar tão cedo, e que tinha amizades melhores e até mesmo uma nova namorada. Rafael fez questão de mostrar as reações das pessoas, o ofenderam, e o bloquearam em redes sociais. Apenas Marcos não acreditou na mensagem.

O jovem Elliot não sabia mais há quanto tempo estava ali, pareciam anos, mas era na verdade quase um. Era aniversário de Elliot, apenas Maya sabia, pelo documento que escreveu, enquanto todos dormiam, ela foi até o quarto de Elliot, e o acordou:

— May... — Ela colocou a mão na boca dele.

— Shiuu, eu vou fazer o possível para você escapar, e sei que hoje é seu aniversário, então estou aqui. — Ela tirou a mão e o beijou. Ele não conseguia reagir, estava algemado a cabeceira, ela estava em cima dele, e ela começou a se despir, e colocou a calcinha na boca dele, o corpo respondia aos movimentos dela, ele chorava, em sua mente estava enfrentando uma alegria e prazer e ao mesmo tempo culpa e raiva por não querer fazer isso, e nem sequer ter algum sentimento com ela. Ela saiu feliz, passando a língua em volta dos lábios, e beijando-o no rosto e dizendo:

— Você foi excelente, delicioso, vou te tirar daqui, e da próxima vez eu irei estar algemada para você. — Mordeu a orelha de Elliot e saiu. Ela não ficou mais na velha fábrica, onde Elliot empacotava todas as exportações de Rafael, e produziam peças baratas a ferramentas. O pouco que dormia, era atormentado por culpa e decepção. Chegou a derrubar e atrapalhar o trabalho, então foi castigado. II

Estou em 1871, belle époque, Europa, início da época de expansão e progresso artístico e intelectual. Estou na França, são meia noite em ponto, os clubes tocam músicas calmas, clássicas, as mulheres dançam com homens lentamente, estou vestindo terno e não estou em um evento importante, talvez seja porque todo momento é importante aqui. Eu olho meu relógio e não entendo, se Johny usou ele, porque está comigo agora? Uma linda moça me olha, eu a convido para dançar, a música é suave, acredito que uma valsa, a conversa é tranquila, ela está meia bêbada, ela ri discretamente, o vestido é longo, vermelho e preto, olhos claros, loira. Eu terminei de dançar e peguei o nome dela “Loise”, eu a beijei na testa e fui embora, há um ar incrível por aqui. Estou caminhando perto do rio, as estrelas...

— Finalmente te encontrei garoto. — Eu me viro...

— Quantas vidas você já teve? Quantos séculos viveu? Milênios?

— Eu...

— Você ferrou as coisas. — Ele andava para perto de mim, eu estava com medo, bengala, smoking, agora estava com cartola, a mesma aparência desde a última vez que o vi.

— Eu...

— Atiçou um lobo.

— Eu...

— O que você fez? Diga!

— Eu....

— Venha comigo. — Ele colocou a mão no meu ombro e eu fui para o limbo.

Aquele vazio que eu só vi com ele, sem gravidade, era diferente de quando eu vinha para cá.

— Agora me diga...

— Como você não sabe o que aconteceu?

— Eu sou o tempo! Eu passo por tudo, era isso que eu deveria fazer, apenas passar por vocês e não mudaria nada, porém quando o homem pecou, minha existência passou a fazer vocês envelhecerem, eu seria a única morte, porém vocês fazem isso melhor que todos, e você foi o primeiro que permiti que passasse por mim, e segundo para a viagem no tempo necessita do espaço, eu sou apenas o tempo.

— Ah!

— Agora me conte, o que você fez?!

— Eu havia descoberto porque não dava certo com Jaqueline. — Ele revirou os olhos, olhos mecanizados com ponteiros. — E eu vim para o limbo, e vivi muitas vidas, e apagava o que vivi...

— Vá direto ao ponto!!

— Eu...

— Você já pegou uma formiga e colocou a sua mesa? Ou pulga?

— Não!

— É isso que acontece aqui! E você fez perguntas a mim!! VOCÊ NÃO TEM ESSE DIREITO! É UMA PULGA, VOCÊS HUMANOS NÃO EXPLICAM NADA A UMA FORMIGA, UMA PULGA, NADA QUE VOCÊS JULGAM SEREM MENOR QUE VOCÊS, E AGORA VOCÊ É EQUIVALENTE A UMA PULGA. — O olhar de impaciência me deixou tremendo... III

Maya passou no orfanato, procurou por Marcos e Valentin, ambos estavam ocupados e ela fez escândalo gritando por um dos dois, Dona Lourdes e as senhoras da limpeza foram e pediram pela calma, os alunos começaram a olhar, até que Marcos apareceu:

— Estou aqui!

— É o Elliot... — Ele a levou até Valentin, ele estava sentado com seus óculos, revendo documentos. Marcos abriu a porta com força e velocidade.

— Marcos! Não faça isso novamente, quase tive um infarto.

— Ela tem informações sobre Elliot. — Ela sentou-se.

— Ele está em perigo, Rafael não tem negócio legítimo, ele mantém Elliot e muitos outros em trabalho escravo, vocês devem acionar a polícia, e se conhecerem alguém para conseguir um mandato, só assim conseguirão ir a fábrica.

— Aquele Canalha! — Marcos estava extremamente irritado.

— Eu tenho contatos na polícia, vou avisá-los, mas preciso que você testemunhe.

— Está bem, eu fui obrigada a trabalhar, eu redigia arquivos no papel e ele levava para a faculdade e fazia a matrícula destes alunos, e como não apareciam ele os tirava do sistema.

— O que foi que eu fiz?! — Valentin perguntou a si mesmo, logo ligou para um detetive da polícia, e logo chegariam ao orfanato. Pediu para Maya esperar na cozinha, ficando sozinho com Marcos.

— Eu pensei que dessa vez tinha acertado.

— Eu sei Diretor.

— Eu não aguento mais. — Marcos não disse nada, sua expressão de silêncio dizia o bastante.

Maya ficou hospedada por dois dias, até que Valentin conseguiu um juiz e Maya contou tudo para ele. Assim que o mandato foi assinado, a polícia foi diretamente para a fábrica, e conseguiu resgatar todos, inclusive Elliot, eram mais de 2.000 jovens. Rafael foi preso, Maya iria depor contra ele, e Elliot foi para o orfanato, foi recebido por Dona Lourdes e Marcos, ele os abraçou, ele chorou e desabou no chão.

IV

Catarina pegou seu ônibus para casa, detestava ver o nome de Thomas em qualquer lugar, ainda mais que havia poemas falando dela, o namorado dela a quem havia beijado em frente de Thomas não acompanhava ela, o ônibus havia partido e ela caminhava apressadamente tarde da noite, já estava com as chaves na mão, quando ela ouviu uma voz familiar:

— Precisamos conversar. — Quando ela olhou para trás, alguém alto com capuz que cobria os rostos, ela havia passado desapercebida por ele, antes de ela poder reagir ela sentiu uma seringa no pescoço que a deixou mole, ele a segurou e colocou no carro, ela não tinha forças nem para gritar, ela chorava, ele deu um soco na lateral da cabeça para que ela desmaiasse. Ele a levou a antiga casa de Thomas que estava desocupada. A colocou desamarrada no banheiro e esperou ouvir qualquer barulho dela, desligou o celular e quando ela começou a se levantar e foi gritar:

— Acho que eu tomei medidas drásticas... — Era Elliot, só que mais forte, como se sempre tivesse feito exercícios físicos.

— Elliot!! — Ele se aproximou e deu um tapa com a mão direita, em seguida a levantou pelo pescoço deixando-a levantada, aproximou do rosto dele:

— Eu não sou o Elliot, me chame de Johny! Sou sua consequência. — Em seguida ele deu um chute em sua barriga empurrando-a com força para trás, ela caiu no chão batendo a cabeça:

— Vai sentir minha agonia! Vai sentir a dor que trouxe a nós! Na pele. — Ele a puxou pelo cabelo e deu um soco de esquerda, em seguida levou a cabeça dela na parede. Ela tinha um corte na cabeça e um galo grande. Em seguida a afogou na privada. — É engraçado sentir essas dores não acha? Se ao menos pudéssemos ver as cicatrizes na alma ou sentir a dor que causamos... Na pele. — Ela estava ofegante tentando respirar, ele bateu o nariz dela na privada, quebrando-o, ela estava sangrando pela lateral da cabeça e nariz. — Não é tão legal causar dor? Você sabia as mágoas, e fez de propósito...

— Catarina? — Era a voz de um home, o novo namorado dela estava entrando. Johny tapou a boca dela.

— Eu o chamei para participar. — Ela arregalou os olhos e ele amordaçou-a com um pano velho, se levantou e torceu o tornozelo dela, e se escondeu em outro cômodo, o banheiro era a única porta aberta, com a luz acesa. Era um rapaz mais baixo que Thomas, e mais magro, cabelos compridos e mais claros, estava de óculos, e carregava um buquê de rosas, ele estava animado, parecia que procurava por uma surpresa, quando ele entrou no banheiro:

— Catarinaaaa... Cata... — Ela estava aterrorizada, Johny apareceu por trás, dando um chute na parte traseira do joelho do rapaz, o buquê caiu no chão, colocando uma faca na garganta dele deixando o aterrorizado.

— Você o beijou, na minha... Na frente do Thomas. — Causou dor, propositalmente, agora vou causar dor propositalmente, deliberadamente, tudo isso para que? Uma provocação? Vingança a alguém que não te magoou, você desmerece alguém, ele prefere não ter te conhecido e você vai lá e mostra que ele estava certo causando dor, mágoa que ele nunca te causou, agora você verá... A faca entrou debaixo do queixo, o sangue escorria e jorrava da boca do rapaz, ela não queria olhar, mas estava paralisada e tremia olhando fixamente a cena, Johny não parou, ele começou a forçar a faca abrindo o pescoço até um pouco antes do peito. As mangas de Johny estavam vermelhas de sangue, o chão tinha uma poça, ele pegou o garoto pela cabeça, e jogou perto de Catarina, ela vomitou.

— Eu sou você, quem você realmente é... Egoísta, uma parasita, um carrapato que se alimenta até se cansar. E gente como você... Demora para receber o que merece, mas não comigo, eu sou a consequência de gente como você. As mesmas dores que causam eu demonstro em vocês fisicamente. — Ele sorriu. — Eu estou apenas começando. V

Elliot passou um mês e meio no orfanato, ele falava pouco, tinha pesadelos, tinha medo de se aproximar das pessoas, o ocorrido apareceu em todos os noticiários. Kate, Alcides, Sabrina, Talia, foram ao orfanato vê-lo, estava acuado olhava para todos os lados com medo. Primeiro Kate quis falar com ele:

— Oi.

— Oi. — Ele não conseguia olhar para ela, sempre para os lados ou para baixo.

— Eu sinto muito pelo que aconteceu com você. Eu pensei que...

— Eu sei o que pensou Kate, eu... Senti sua falta.

— Eu também... — Eles se abraçaram, ele tinha medo do toque das pessoas agora, então o abraço não durou muito. Em seguida entrou Alcides:

— Como você está? — Ele apenas olhou e nada respondeu. — Se houver qualquer coisa que eu possa fazer, me diga.

— Não há.

— A gente poderia ir no cinema, eu trouxe o videogame. — Alcides tentava animar, porém Elliot não olhava para ele, nem respondia. Alcides ficou um tempo com ele. Em silêncio. Sabrina e Talia entraram juntas, mostraram algumas poesias, ele sorriu, mas não de verdade, por não querer decepcionar as pessoas que vieram por ele. Depois disso ele saiu do quarto onde estava e foi até Kate:

— Eu gostaria que viesse comigo...

— Para onde?

— Eu vou viajar... pelo mar.

— Como?

— Valentin nunca deixou de enviar dinheiro para minha contar... Ele é mesmo uma ótima pessoa.

— Então...

— Eu quero que venha comigo. Vou embora no final da tarde.

— Mas...

— Passar por algo assim, muda a visão das coisas, gostaria que entendesse que nem tudo que pensamos ser importante... É, são apenas correntes Kate. — Ele saiu do lado dela, e foi para seu quarto. Ele comeu pouco, riu um pouco com seus amigos, mas voltou para seu quarto recluso, de repente qualquer companhia era pesada e difícil de aproveitar.

“A liberdade é facilmente tirada de nós

Não só por pessoas

Mas por situações

Que não nos deixam

Ver o que realmente é importante

Depois de tanto tempo

Ver o céu por inteiro

É um alívio

Não suporto mais ser chamado de Elliot

Ouvia esse nome em gritos

Punições e tormentos

Eles nunca usaram

O nome que me deram

Arthur

Não sei quem Arthur é

Mas preciso descobrir

E deixar Elliot para trás.”

Dando o horário do ônibus chegar, ele começou a arrumar suas coisas, e foi para a colina ver o sol se pôr, seus amigos se despediram, Dona Lourdes o abraçou:

— Sempre que precisar, você volte aqui! Tome cuidado, meu querido! Eu amo você, que Deus guie seus passos e te guie até onde precisa ir.

— Obrigado, dona Lourdes.

— Espero que se encontre meu jovem, meu pupilo, transforme tudo em algo bom, sei que consegue.

— Obrigado Marcos.

— Eu sinto muito, eu tentei te ajudar...

— Não foi culpa sua Diretor, não tenho raiva de você. Obrigado por tudo. — Valentin mesmo com dificuldade de andar foi se despedir e abraça-lo.

— Sempre que precisar irmão, estou aqui. — Alcides não sabia o que fazer ou reagir, Talia e Sabrina foram em seguida.

— O que decidiu? — Ele nem olhava para Kate, apensa olhava para o céu e a paisagem.

— Eu não posso ir.

— Não pode ou não quer? — Ela se assustou e ficou com certa raiva, mas não disse nada. — Está bem, acho que o fim foi quando fui capturado.

— Eu não disse isso, vamos tentar...

— Tanto faz. — Ele se virou e olhou para ela, deu um beijo em sua testa. — Elliot amou você, agora eu, Arthur, não sei. Talvez eu descubra, não vou pedir que espere por mim. — Abraçou ela, pegou sua mala e foi andando até o ponto de ônibus indo embora para aproveitar o que nunca viu e se descobrir. VI

— Quebrei todos os seus dedos, queimei teu rosto, furei sua língua, cortei ela, te fiz engolir, te espanquei, arranquei suas unhas, esfaqueei, esfolei parte de você.... O que mais posso fazer? Havia um silêncio. — Agora você morre. — Ele fincou a faca no meio do peito e foi forçando para baixo, ela fazia barulhos de dor, gemidos e grunhidos, ela havia morrido. — Bom, foram... — Ele pegou o relógio de bolso e viu. — 12 horas de diversão, ainda é pouco para você... — O olhar de ódio, o sorriso sádico, e o rosnado, ele usou o relógio para voltar alguns minutos, assim Catarina estava viva novamente, e ela sabia que havia morrido, ela tentou gritar, mas não conseguia. — Acho que uma morte é misericórdia demais. VII

— Então foi isso que você fez?

— Sim.... Eu ...

— AHH! — Ele gritou. No meio do limbo, não era como se tivesse sofrido de muita dor, mas uma espetada dolorida.

— O que foi?

— Alguém me usou como não deveria.

— Como assim?

— Alguém fez algo que não é natural.

— Mas eu...

— Viajar por mim não causa esse efeito, é outra coisa.

— Sabe onde é? Ou quando?

— Não é tão simples, eu sou infinito... E agora imagine duas pulgas minúsculas viajando pela primeira vez. — Ele deu um sorriso sarcástico.

— Acho que entendi.

— Vamos, você vem comigo, ele perguntou de seu relógio certo? Você já o tinha certo...

— Foi deixado para mim no orfanato depois que cheguei quando bebê.

— Não acredito.... Filho de uma... Vamos ao dia.... — Sem fazer nenhum movimento Elliot e o Tempo estavam vendo distantemente, o momento em que o homem do capuz deixa a caixa com o relógio e desaparece.

— Então, não foi minha família, foi ele...

— Sim, ele foi inteligente para criar esse paradoxo. — Espero não ser um ponto fixo.

— Ponto fixo?

— Algo que só Deus pode desfazer.

— Ah!

— Fique aqui. — O tempo saiu do Lado de Elliot e ele pegou a caixa, tirou o relógio e colocou outro, um relógio normal de bolso. Voltou para Elliot e depois voltaram para o limbo.

— Meu relógio para viajar...

— Pois é, acabou para você, eu vou ter que desfazer o ele fez, por enquanto você fica comigo. Vou tentar encontrar o distúrbio. VIII

Thomas frequentava alcóolicos anônimos, porém não havia sinal de melhora, pois estava em depressão profunda, e a válvula de escape era a bebida e cigarro. Marcos tentava agendar um horário com uma psicóloga que Valentin conhecia, mas a agenda era difícil. Morava junto de Marcos e sua esposa. Certo dia a polícia foi até a casa de Marcos fazer perguntas para Elliot:

— Onde você estava ontem entre 12:00 e duas horas da tarde?

— Aqui.

— E antes de ontem? Entre 22:00 e 23:00 da noite?

— Na reunião de Alcóolicos Anônimos.

— Alguém pode garantir isso?

— As pessoas da reunião e Marcos, com quem moro. Porque as perguntas, oficial? — Thomas estava ansioso, parecia que teria um colapso.

— Sua ex-namorada Catarina, foi encontrada morta na sua antiga moradia, a que pertencia a senhora Lourdes, ela e o namorado atual mortos, e ela teve sinais de tortura. — Thomas começou a chorar, o desespero tomava conta, falta de ar.

— Sinto Muito, se obtivermos mais informações entraremos em contato. — Eles saíram, todos da casa foram questionados, Marcos foi até Thomas e tentou confortá-lo. Mesmo ela o magoando, a morte o entristeceu. Ele pediu papel e caneta para escrever:

“As pessoas que eu amo

Se vão

As pessoas que me machucam

Se vão...

Entre um vão e outro

Meu vazio cresce

E eu me perco

Minha identidade desaparece

E quem se importaria

Com o meu padecer

E se eu literalmente desaparecer?

Thomas”

— Ele não pode continuar aqui! — Falou Sara.

— Fale baixo, ele precisa de ajuda.

— As reuniões não estão fazendo efeito.

— Ele precisa de ajuda psicológica também.

— Quanto tempo?

— Eu não sei, não posso deixá-lo assim.

— Porque?

— Ele não é nosso filho! Sei que quando perdemos nosso filho, você se dedicou ao orfanato, quase não te vi, agora não há orfanato, e você adota um adulto...

— Ele precisa de ajuda, porque ele me ajudou.

— Como?

— Ele era a criança que me fez ficar bem, ele é uma pessoa boa, não mereceu passar por isso, sei que você não é fria assim. — Ela não disse nada, estava assustada e com raiva, e decidiu não responder, apenas se retirou. IX

— Chegamos tarde, ele matou duas pessoas.

— Mas ...

— Ele matou a moça e voltou no tempo para ela voltar a vida e a matou de novo.

— Nossa...Mas porquê? — Tempo apenas olhou com uma cara que continha tristeza e raiva.

— Não sei onde ele está agora, ou quando, ou se está aqui, onde você veio ou onde ele veio.

— E agora?

— Tome este relógio, aparentemente era um ponto fixo no tempo, quero que você o procure, e tente o impedir, mas só de procurar será difícil. — Elliot pegou o relógio.

— E por onde.... — Tempo o deixou sozinho, em frente à casa em que Catarina foi morta. Elliot sumiu logo em seguida. X

— Está com uma aparência mais velha agora. — Falou a mulher de cabelos vermelhos e vestido preto.

— E você está de preto.

— Sim.

— Porque me chamou aqui?

— Você sabe de...

— Sim, eu sei.

— Ele faz coisas terríveis.

— Ah! Ele!

— Sim!! Não sei onde, ou exatamente quando ele está ou estará.

— Me chamou para isso?

— Ele está se vingando. Não se importa?

— Considerando tudo o que já me fizeram.... Acho é justo. — Ela colocou o copo de refrigerante vazio na mesa e se levantou.

— Mas... — Ela passou por um garçom e sumiu. O tempo colocou a mão na sua cara e suspira, não sabendo o que iria acontecer, ou o que fazer. Fim?

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