por mais grata
que esteja sendo
minha desventurosa
jornada de liberdade,
me sinto impossibilitada
de não me sentir morrendo
e renascendo
a cada hora que passa.
este é o tipo de ano
que vai me moldar
na brasa,
o tipo de ano
que me varreu
de cada apartamento e casa,
cada sofá quebrado,
cada canto
em que já fiquei
e pensei que poderia
chamar de lar,
mas tudo bem,
não aconteceu.
acho que meu lar, sou eu.
é pesado de se pensar
quase um crime,
escrever
mas vejo este sentimento
morrer e nascer
cada vez que penso em
me atrever
a duvidar do meu melhor
se transforma
dentro do meu ser
se mistura com
ondas amargas
e doces
de prazer
e se perde profundamente
no medo do entardecer
de sempre ser tarde demais
para ser mais
do que ontem, eu fui
aprenderei
a surfar
nas grossas
ondas de dor e
arrependimento
logo eu,
que passei
uma vida inteira
tentando deixar
todos os que amo
em paz e contentes,
fui a que mais
visivelmente falhou.
aprenderei
a surfar
nas grossas
ondas de dor
e desespero
logo eu,
que tive que me refazer
por inteiro
mil e uma vezes,
a cada mês
que já passou
o que vem pela frente?
um monstro subaquático
que irá me devorar
pois já sangrei demais
em toda essa água salgada?
pode vir, valerá a experiência.
nela eu transmuto
nela eu me acolho
nela eu me escuto
muito muito muito
mais do que eu deveria
aprenderei a
costurar
meus órgãos de volta
um a um.
coração, olhos, garganta,
e meus pés
esse ano, aprendi a flutuar
a nadar embaixo a'água
sem respirar
esse ano, que já faz
uma eternidade,
aprendi que sobreviverei
às mais insanas
pancadas
de pavor.
pois dela, nasci
e convivi com seu fantasma,
pois com ela aprendi,
e vi que no final,
somos tudo e somos nada,
dor.