Paulo Jaime e D.P desceram do carro para a manhã fresca e alaranjada pelo sol recém-nascido. Os cabelos de ambos ainda estavam molhados do banho e via-se em suas expressões uma mistura de sono e leve agitação, pois era o retorno às aulas. Desembarcaram com as mochilas da mão e caminharam alguns passos até a entrada antes que escutassem a mãe de Jaime chamar:
-Paulinhoooo!
Jaime se deteu hesitantemente, dando a impressão que tivesse perdido a vontade de andar aos poucos. Ficou parado e olhou ao redor, procurando alguém que pudesse ter ouvido. Girou em seus calcanhares e se direcionou até a janela do passageiro:
-O que foi, mãe?
-Se lembrou de trazer os livros?
-Sim. . . – Respondeu quase sibilando.
Claro que Jaime havia lembrado da porcaria dos livros. Havia duas semanas que sua mãe não parava de lhe encher os ouvidos com aquela conversa. Duas semanas de férias encurtadas por causa de preocupações infundadas. De que adiantou dizer que não dariam nada de importante no primeiro dia? E daí que nem tabela de horários de aula ele tinha? Ele podia aproveitar para ir estudando antes de começarem a matéria. E assim estaria um passo a frente e seria um garoto exemplar. Que adorável! Bem, e já que não sabia quais aulas seriam ministradas no primeiro dia, porque não trazer todos os livros de uma vez? A mão de Jaime doía com o peso da mochila e pensou, não sem um forte desanimo, que sua coluna ia sofrer.
D.P ficou parado, com o corpo levemente torcido para fitar o amigo enquanto ele falava com a mãe. Não estava muito interessado na conversa e ficou meio sem graça enquanto Jaime respondia com uma voz passiva agressiva a tudo que lhe era perguntado; ele já estava farto daquilo. Sim mãe, eu sei. Tá bom, vou fazer isso. O Arthur? Ele disse que vinha.
Por fim a mãe de Jaime foi embora. D.P acenou para mãe de Jaime enquanto ela ia embora e aproveitou para debochar enquanto o amigo se aproximava:
-Agiliza aí, Paulinho. Ainda temos que achar nossa sala.
-Ah! Vai te catar!
D.P riu-se. Os dois entraram no colégio. O saguão, com seus bancos, lixeiras e bebedouros, estava deserto. Jaime consultou o relógio digital da Casio em seu pulso; relíquia de tempos imemoriais do fundamental. Descobriu que haviam chegado uma hora antes do começo das aulas.
-Que delicia. Ficar uma hora passando tédio no colégio. Valeu mamãe! – Disse Jaime.
-Pare de reclamar. Você concordou em vir mais cedo. Vamos logo ver qual a nossa sala -disse D.P.
Caminharam até o fundo do saguão, onde estava o quadro de avisos que possuía as listas de alunos com suas respectivas salas de aula. Ao se aproximarem, repararam num rapaz alto de cabelos muito negros e olhos basteante azuis olhando atentamente as listas, com um ar de muito interessado.
-É o Barnabé ali? – Indagou D.P.
-Eu acho… É sim!
Era mesmo ele, Barnabé, amigo deles desde o sexto ano. Se aproximaram silenciosamente dele, segurando o riso. Jaime, com muito cuidado, beliscou a bunda de Barnabé. Que tomou um susto e saltou. Olhou confuso para trás e viu os dois amigos gargalhando, sorriu também, apesar de meio embaraçado. Se cumprimentaram quando terminaram de rir.
-Já viu quais são as nossas salas? – Indagou Jaime.
-Já sim, – respondeu Barnabé – ficamos todos na 3B.
-Maravilha! – disse D.P enquanto esfregava as mãos – Começamos bem.
-Eu estava olhando todas as listas – explicou Barnabé. – Tava vendo os novatos e os conhecidos.
Os três voltaram suas atenções para as listas. Liam devagar cada nome. Barnabé formulava cada nome com os lábios, como em uma oração silenciosa.
-É impressionante. – Comentou, de repente, Jaime.- Ano vai, ano vem e o Gusmão, milagrosamente, continua na nossa sala. Eu achei que depois daquela treta da prova de recuperação ele não escapava mais de ser mandando embora!
-Isso só reforça a teoria do Dário de que o pai dele deve ser alguém importante. – Disse Barnabé.
-Eu disse aquilo brincando faz mais de três anos; não teorizei coisa nenhuma! – Respondeu D.P.
-Certo, mas parece que é verdade, afinal.
-É. Isso, ou ele tem um caso com a diretora – riu-se Jaime.
-Pela quantidade de vezes que ele vai pra diretoria, eu não duvido nada – disse Barnabé.
-É. E eu também não duvido que sejam sadomasoquistas – troçou D.P.
Leram mais alguns nomes.
-Tem pouca gente que a gente conhece aí– comentou D.P.
-Sim. Também tem muitas turmas lotadas – complementou Barnabé.
-Ei. Cadê a Zélia? – perguntou Jaime se voltando para Barnabé.
-Ah. Ela está na tesouraria. Foi resolver alguma pendência da matrícula que a mãe esqueceu. Algo assim.
Leram ainda mais alguns nomes antes de irem para sua sala. Ao chegarem, ela estava vazia e limpa. Se dirigiram para o fundo e se sentaram em carteiras próximas à parede esquerda. D.P e Barnabé se sentaram colados nela. Jaime se sentou ao lado deles na fileira adjacente. Conversaram banalidades: o que esperavam que fosse entrar em promoção na Steam naquele mês, a viabilidade de um canal de vlog no Youtube sobre algum senhor de idade e, a partir daí, como virar influencer afetava a previdência social, e, até mesmo, Jaime e Barnabé tentaram adivinhar o nome de solteira da mãe de D.P. Foram interrompidos quando a voz de uma garota soou:
-Barnabé! Tu não olha o celular, não?!
Se voltaram para a porta. Lá estava Zélia, irmã de Barnabé. Era quase um ano mais nova que ele. Eram muito parecidos, com a diferença que Zélia era baixa, tinha os olhos de um tom mais vivo de azul e, naturalmente, tinha um rosto mais feminino. Usava um pingente de cruz de prata minimalista ao redor do pescoço.
Barnabé puxou o celular do bolso desajeitadamente e leu as mensagens. Enquanto a irmã se aproximava ele disse:
-Ahnn… Desculpe. Estava distraído.
-Sei!
-P-por que a irritação? Não viu que tinha as listas lá no quadro de avisos?
-Vi. Depois que fiquei quase dez minutos esperando tu me responder. E tu nem ai pa paçoca.
-Neurótica!
-Tonto!
Zélia chegou perto do irmão e beijou o topo da cabeça dele.
Oi,oi! – Cumprimentou Jaime e D.P.
-Salve! – disse Jaime.
-E aê. – disse D.P
Ela se sentou na mesma fileira que Jaime. Antes que pudessem retomar a conversa, outra pessoa abriu a porta e entrou: era Arthur. Ao verem ele, os quatro entoaram ritmicamente batendo nas carteiras:
-Arthur, Arthur! Bam bam bam. Arthur, Arthur! Bam bam bam.
Arthur se aproximou deles dançando num passinho parecido com sapateado, meio rebolado e exagerado. Ele então cumprimentou os cinco e se sentou na mesma fileira de Zélia e Jaime.
-Ei – disse ele. – Cês sabem que se a gente sentar muito junto vão botar a gente pra ficar longe uns dos outros de novo, né?
-Então, sentou aqui por que, abençoado? - Perguntou Zélia.
-Bah! Não dá mais pra conversar antes da aula?
-Não se preocupe, bro – disse D.P. -Vamos todos nos comportar esse ano.
-Sim, esse ano vamos todos estudar agarradinhos – riu Jaime.
Continuaram conversando e não notaram quando mais alunos entravam e se sentavam na sala, que ia ficando mais barulhenta. Faltando quinze minutos para o começo da primeira aula, escutaram um fuzuê vindo de fora. Então, um grupo de meninas entrou na sala. Entre elas havia uma que era a mais popular. Não era exatamente feia, mas também não era bonita; era daquele tipo de garota que acha todo dia acha tempo para se maquiar antes de ir para escola. Ela também tinha luzes no cabelo e uma mochila cara nas costas.
-Aparecida! – Entoou Barnabé quase sem fôlego. Seus cinco amigos se voltaram para ele com o cenho franzido. Ele desviou o olhar para o chão, constrangido.
Mais cinco minutos se passaram antes que um outro rapaz conhecido, Gerônimo, entrasse na sala.
-Onde há fumaça, há fogo – disse Jaime.
Em seguida, entrou um rapaz alto, com corpo atlético e pele bronzeada. Tinha um aspecto viril, confiante e algo intimidador. Tinha a mandíbula quadrada, os olhos verdes e usava o cabelo loiro e longo preso em uma tiara fina. Todas as meninas do grupo de Aparecida se voltaram para ele e entoaram um: “oiiiii” para ele.
-Ah. O Edvaldo chegou – observou Zélia.
Edvaldo se sentou no meio da sala, perto de Gerônimo, que era seu amigo. Um bocado de gente o cumprimentou. Barnabé ficou visivelmente incomodado quando Aparecida começou puxar conversa com ele, mas dessa vez o resto do grupo fingiu não notar.
-Ninguém quer saber do velho Paulo Jaime – disse ele próprio, fingindo um muxoxo e com um suspiro exageradamente dramático.
-Pois é – emendou Zélia. - Logo a maior celebridade do colégio.
-Malvada!
Finalmente, entrou o professor de física na sala. Demorou um pouco até que o barulho se dispersasse. Enquanto o professor puxava seus inceis de lousa e livro de sua mochila, Fátima finalmente apareceu. Ficou parada como uma estátua na frente da sala, e perguntando se tinha entrado na errada. Antes de avistar os amigos e ir sentar perto deles, todos segurando o riso. O professor escreveu seu nome no quadro: Sheldon Garcia. Lazáro chegou no limite do tempo de tolerância, cumprimentou os amigos com o rosto e acabou se sentando longe pela falta de espaço. E assim a primeira parte da manhã transcorreu.
No intervalo, os sete se sentaram num canto do saguão. Fátima e Zélia se sentaram em um banco, Arthur e Lazáro em outro. Barnabé e D.P se sentaram no chão de pernas cruzadas. Jaime ficou de cocoras, só para fazer graça.
-Mas e aí, Jaime. Tá melhor? – Perguntou Fátima.
-Melhor do que?
-Ah, daquele lance da Filomena e tudo. . .
-Ah! Relaxa. Eu já superei.
-Ela foi muito grossa contigo, cara – disse Zélia.
-Eu já superei faz tempo!
-Superou mesmo?
-Claro! Tu sabe que você e a Fátima são as mulheres da minha vida! – e colocou a mão sobre o peito em um gesto exageradamente melodramático.
-Hum! E a Domitila? Ela não é também da sua vida? – Riu Fátima.
-Ela não está aqui, queridinha. Só conta quem veio no primeiro dia de aula em vez de ficar de frozô em Bonito, com os pais.
-Seei – disse Fátima, enquanto pegava um garfo e abria uma vasilha com uma pamonha dentro.
-Ei – disse Zélia – posso pegar um pedaço? Eu adoro pamonha…
-E eu não sei? – e ofereceu um segundo garfo para a amiga, que soltou um gritinho de felicidade antes de aceitá-lo.
-Mas e você, Zélia? Ainda está se guardando para o PROMETIDO ou está gostando de alguém daqui? -Peguntou Jaime.
-Ah… Não sei. Não tem ninguém.
-Ninguém que você ache minimamente interessante?
-Por que, Jaime? Tá interessado é? Olha que o Barnabé tem ciúme de você!
Barnabé revirou os olhos. Zélia riu e continuou:
-Bem, até que tem o Gerônimo. Não posso mentir que...Aiii!
Barnabé havia se esticado e beliscado o braço da irmã.
-O Gerônimo, Zélia! Tá louca?!
-É ué! Ele até que é bonitinho.
-Bonitinho, é? E porque não escolheu logo o Edvaldo?
-Ah, não! Esse aí é amostradinho demais pro meu gosto – e riu-se.
-Não gosta do amostradinho, mas quer ficar com o casca de bala?!
-Ô! Na moral, será que dá pra vocês dois calarem a boca? – Disse D.P. Durante a conversa, ele havia aberto seu caderno e organizava o espaço para cada matéria. – Qual é a matéria e professor de depois do intervalo?
Lazáro puxou um papel com a relação de horários e respondeu:
-Historia geral, com o professor Ezio Auditore Filho
-Beleza – D.P anotou no caderno.
-A última aula do dia é mesmo português? Português em dia de segunda-feira nunca é bom sinal – disse Arthur.
-Sou obrigado a concordar – disse Barnabé – vocês se lembram das aulas da Ramona Flores, no sexto ano?
-Nem me fale! – Exclamou Jaime. – Essa mulher estragou toda uma geração de professoras de português.
-Meu Deus! -Exclamou Zélia. - Aquela mulher dava aula com ódio no coração. Por que virou professora se odiava dar aula?
-Muito simples – disse Arthur – ou ela não tinha outras opções, ou os alunos não correspondiam ao ideal dela. É mais provável que fosse a segunda alternativa.
-Por que você acha isso?
-Porque todo professor, pelo menos atualmente, é muito agarrado à idealidade. E por causa disso são extremamente intolerantes a coisas que fogem do seu controle.
-Por que você diz que eles são idealistas?- Indagou Barnabé.
-Porque eles sempre acham, quando começam a dar aula, que ensinar é uma coisa fácil. E que, se eles aprenderam tal assunto com facilidade, então essa coisa é fácil e não há motivos para que os outros também não há achem fácil. Esquecem que toda pessoa é diferente e possuem mentalidades diferentes. E aí, quando eles percebem que tudo não é do jeito que eles pensaram, ficam ranzinzas e desiludidos e acham que isso é culpa dos alunos e não deles.
-Isso não é exagero?
-Bem, NEM todo professor é assim. Muitos são bem pacientes e reconhecem as limitações dos alunos. Mas a verdade é que existe uma barreira muito grande para a paciência e compreensão. E tem a ver com o sistema educacional atual.
-O que seria?- Indagou Fátima, enquanto cobria a boca, cheia de pamonha.
Arthur gesticulou amplamente ao redor dele.
-Olhem tudo isso ao nosso redor. O que mudou nas escolas de muito tempo atrás para agora? Tudo agora é regido por um ritmo industrial! Assim como operários, somos escravos do tempo e temos que dividir cada fração da nossa rotina de forma a otimizar o consumo desse tempo. O relógio nos diz quando temos que parar de dedicar nossas mentes numa coisa para nos dedicarmos a outra. Quinta série, sexta série, sétima série… Segunda, terça, quarta, quinta, sexta, sábado e domingo. A escola funciona como uma linha de produção de uma fábrica Ford e NÓS somos os carros. E os operários que nos montam não tem tempo nem energia nem vontade para nós dedicar mais capricho do que eles são obrigados. O que acontece com o produto defeituoso? Ele não pode ir para o consumidor final! Então ele é jogado fora ou reciclado. Antigamente, o mestre tinha paciência infinita, procurava sempre ajudar o discípulo se esse estivesse disposto a aprender. Hoje em dia é assim: não se encaixou? Não é problema nosso!
-É… - Disse Barnabé, pensativo. -Mas acho que é justamente por isso que tanta gente quer o ensino domiciliar. Se o professor for particular, ele pode se focar melhor no único ou poucos alunos que ele tem. Aí não teria esse problema… Além da questão do dinheiro, não vejo porque não adotam mais isso.
-Muito simples. Porque o estado não quer. – disse Jaime.
Fátima e Zélia riram, e a primeira disse:
-Engraçado como a Domitila se faz presente mesmo não estando com a gente!
-Mas é sério! – Continuou Jaime. – Acontece que tanto nas ciências exatas quanto nas humanas existem coisas que não são consenso. Podem ser muito bem-aceitas, mas não são, exatamente, coisas tomadas como verdades absolutas. O Big Bang realmente aconteceu? O Rei Arthur foi baseado em uma pessoa real ou é uma personagem puramente folclórica? Deus está morto? Há uma porção de ideias diferentes sobre todos esses assuntos, e o estado, que tem controle sobre a educação pública, obviamente vai escolher interpretações e teorias que favoreçam a si mesmo. Compare um livro de história didático polonês com um livro didático russo sobre a Segunda Guerra, por aí dá pra ver qual é o esquema. Por isso o estado tem aversão ao ensino domiciliar, porque ele cria gente com pontos de vista neutros ou desfavoráveis. Ele também não alimentaria ideias de gente tipo Bakunin ou Proudhon, porque isso séria um tiro no pé!
-Outra coisa– adicionou Lázaro – o estado não está nem aí se você aprende a fórmula de delta e bhaskara ou se você lê Machado de Assis, ele só está interessado em três coisas: pagadores de impostos, eleitores e futuros integrantes. Educação, para ele, é só um dado estatístico, não essa coisa com poderes quase metafísicos que a propaganda leva a crer.
-Pois é – disse Arthur, coçando o nariz – do contrário, se uma pessoa não fosse capaz de concluir o ensino médio ou mesmo o fundamental, ela não estaria condenada a passar vários anos de sua vida se humilhando por centímetros de espaço no transporte público ou se endividando em infintas prestações para ter o mínimo de conforto em casa. É quase como se a educação tivesse se tornado algo elitista; aprenda tudinho ou vire pobre! Se quiser boa vida, vire um sem-vergonha ou sofra em uma universidade.
Fizeram silêncio completo por uns instantes, então trocaram de assunto e conversaram sobre outras coisas por algum tempo, até que Arthur retomou:
-Mas, sabem de uma coisa? Há um outro tipo de professor que não deveria existir: os pretensiosos. Os que acham que são um Homero moderno e que aspiram a ser um messias da inteligência e sabedoria.
-Exemplo? – perguntou Lázaro rindo.
-Ah, cê sabe. Aquele tipo que gosta de inventar moda. Faz umas dinâmicas tipo “diga três fatos sobre você” no primeiro dia de aula achando que está promovendo um ambiente MELHOR para os alunos, mas só está constrangendo eles. Fica tentando parecer diferente e a máscara caí quando as coisas não vão do jeito que eles querem. Colocam foto do próprio rosto no slide de apresentação da disciplina, postam umas frasezinhas intelectuais nas redes sociais e odeiam ser contestados. Esse tipo de gente aí gosta de se comparar com o personagem de Robin Williams em Sociedade dos Poetas Mortos e esperam que os alunos sejam puxa-sacos quem nem no filme.
-Sei exatamente do que cê tá falando. São aqueles caras que fantasiam ser que nem aqueles professores pobres do século XX. Com um pincenês, vestindo um terninho surrado, quase como se fosse um uniforme, e morando em um quartinho de albergue sujo e pobre, mas abarrotado de livros em plena Ditadura Militar; lutando pela educação! Com a diferença que esses aí iam se borrar todos se estivessem mesmo nessa situação.
-Isso mesmo! – riu - Sentem um prazer gigante imaginando essas coisas, quase como se tivesse um negão encochando eles e cochichando com os lábios colados aos seus ouvidos: “educação… educação… educaçãããão”. Vão pro trabalho, conquistam o ódio dos alunos e depois voltam para casa, indo direto para o espelho do banheiro com o peito estufado. Aí eles falam com lágrimas nos olhos e voz embargada: “Sou literalmente o Robin Williams!”
Todos gargalharam e a campainha soou, marcando o fim do intervalo. Todos se levantaram e foram para a sala de aula. No caminho, Jaime comentou:
-Engraçado como a Ramona começou tudo isso!