Eu morava no interior do estado. Minha vida era calma. Claro, em qualquer lugar tem-se problemas. Mas os problemas que eu tinha no interior eram mínimos. Até que mudei para a capital.
Na capital anda-se na idade da velocidade. Claro, quer-se ir a algum lugar, logo estamos lá. Os meios de transporte nos facilitam a vida, neste sentido. Mas eu adoeci logo. E como paciente de meu médico, eu pensava em mim.
Depois que adoeci, eu já não era o mesmo. Precavi-me diante das coisas. Para que não tivesse eu alguma recaída. E não tive. E nisso eu refletia, aconteceu comigo. Antes eu vi muitos pacientes isolados do meio social. E que na sua reclusão, procuravam um modo de serem úteis. Alguns deles se viravam com os livros, literatura, filosofia. Eu me pus a escrever, seguindo orientação de professores de curso superior. Eles se dispuseram a me ajudar. Até que um deles me perguntou:
- Qual o autor que você lê mais?
- Ezra Pound - respondi sem exitar.
Os professores me indicaram autores mais perto de mim. Manuel Bandeira, por exemplo. Mais perto de mim, brasileiro aquele poeta era. E o Ezra era norte-americano. E me indicaram muitos outros autores.
E até que escrevi alguma coisa perto do melancólico, perto do estado doentio de uma alma. Um dos professores gostou muito.
Eu continuei naquela linha, então. Até que pensei em ser publicado. E, de fato o fui. Os professores me disseram:
- Agora, sim, nós nos orgulhamos muito de você.
E eu pensei então no mal de que fora acometido. Doente eu fazia controle médico. E até o médico me elogiou o esforço literário. Nesse dia, eu me alegrei. E escrevi alguma coisa sobre a calma dos tempos.
Longe daquelas máquinas que conduzem a gente por longas distâncias, o que me interessava agora, era a minha sobrevivência no novo interior. E vou vivendo aqui, e publicando periodicamente. Entrei para Academias de Letras, quer dizer elas me admitiram no seu quadro. E essas coisas são é sucesso na minha carreira literária. Por isso me alegro, é como se eu tivesse ganho meu presente de Natal.