Lá Vem a Cobra, Lá Foi o Pandeiro
Francisco L Serafini
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 02/07/18 09:35
Gênero(s): Comédia Cotidiano
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 5min a 7min
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Palavras: 949
Não recomendado para menores de catorze anos
Capítulo Único Lá Vem a Cobra, Lá Foi o Pandeiro

Ligo o rádio e escuto um chiado. Puta merda, que diabos! Encontro-me no meio da selva e só essa porcaria serviria para algo. Todas as minhas coisas eletrônicas foram para o espaço depois que cai no rio. E, caramba, que rio gelado. Não sei porque fui querer atravessá-lo se sabia que aqui nesse lado só tinha mato e mato. Na verdade, eu vi também um tamanduá, mas de tamanduá é bom manter distância. Ele, com aquelas presas enormes, é capaz de perfurar animais com até três vezes seu tamanho. Bem, não sei se é bem real essa parte das presas, mas as imagens que o Natural Geographic mostrou no documentário eram bem assustadoras. Poderia até revê-las aqui no meu celular, que custa quase o valor de uma motocicleta, se ele agora não estivesse no fundo do rio.

Sim, o celular está no fundo do rio, bem provável que esteja na posse de alguns peixes adolescentes que só pensam em putaria. Será que tem uma Ellen Rocche para os peixes? Seria bizarro se tivesse, mas caso contrário seriam muito azarados. Azarados tal como eu, inclusive, que estou com um rádio que está sem sinal, uma lanterna com a lâmpada danificada e as caixas de fósforos que só serve para simular um pandeiro. Inclusive, também perdi meu pandeiro na travessia do rio. Por que diabos eu tinha um pandeiro? Porque o que eu vim fazer aqui precisava de um pandeiro, ora.

Caso vocês não saibam, eu sou o famoso Zé do Pandeiro. Sim, aquele que apareceu no Se Vira nos 30 do programa do Faustão. Foi lá em 2008, na época que o Faustão era gordo. Aliás, que gordo mais gente boa. Eu adoro o Faustão. Ele foi muito cordial comigo, pois permitiu que eu mostrasse, para o Brasil todo, a minha capacidade de tocar com o pandeiro inúmeras músicas célebres no país e, quiçá, no mundo. Na verdade, acho que nós nos tornamos amigos devido a essa experiência maravilhosa. Lembro-me como se fosse hoje de ele me dizendo: “ô loco, bicho!” Isso é um claro sinal de amizade. Só não entendo o porquê de ele não ter nunca me convidado para comer pizza na casa dele. Deve ser pelo regime que ele foi obrigado a fazer para poder passar pelas portas do Projac.

Aliás, que puta saudades do Projac. Lá, tinham vários lugares legais, como os estúdios do Caldeirão do Hulk e do Mais Você. Inclusive, fui azarado também nisso. Por ter me apresentado no Domingão do Faustão no domingo, obviamente, não pude conhecer nem Loro José, nem Luciano Hulk e nem Ana Maria Braga. Sempre foi meu sonho conhecer esses três, além do Fausto — como chamam os mais íntimos. Mas nem tudo é azar nessa minha vida. Naquele dia, durante a apresentação, na plateia do Faustão, vi uma loira muito bonita, de se apaixonar. Para vocês terem a ideia, era uma mistura do que a Ellen Roche e a Ana Maria Braga têm de melhor. Você não sabe o resultado dessa mistura? Ora, é muito fácil! É uma mulher com as curvas da Ellen Rocche e com a capacidade de domesticar animais da Ana Maria Braga — ora, não é à toa que o Loro nunca tenha fugido. Enfim, um mulherão.

Essa mulher maravilhosa estava sentada bem na primeira fileira e não parava de me olhar. Mas era aquele olhar malicioso, de desconcentrar até o melhor dos artistas. Inclusive, acho que foi por isso que perdi aquele Se Vira nos 30: não consegui tocar duas das três músicas que o Faustão me pediu, tampouco consegui completar meu show nos trinta segundos. Sim, tudo por causa dessa mulher, que colocava o dedo na boca e me olhava com tesão. E, além de seu olhar e de sua beleza, sua capacidade de domar animais também me desconcentrou. Digo isso, pois tenho certeza que ela tinha uma cobra debaixo da saia. Um corpo roliço e comprido pulsava entre as suas pernas a cada tapa que eu dava no pandeiro. Só podia ser uma cobra treinada, do tamanho de uma píton, inclusive. O que mais seria? Sou fissurado por mulheres lindas e habilidosas, capazes de embelezar os mais tenebrosos dos lugares e capazes de ensinar truques até para animais nada convencionais.

Por isso estou aqui. Quero aprender como encantar uma cobra também eu! Nunca mais vi aquela mulher espetacular, de curvas acentuadas e ombros largos, embora tenha a impressão de ter encontrado o irmão dela no cabelereiro. Irmão gêmeo, inclusive, pois a cara era igual. Até o sorriso malicioso era igual! Genética é algo incrível. Mas mais incrível ainda é poder superar desafios. É por isso que vim para o meio do mato. Sei que no Brasil é complicado achar píton, mas se for uma jararaca já me serve. Bom, me serviria. Não vou tentar encantar cobra com uma caixa de fósforo. Fiz uma pesquisa breve antes de vir para cá e vi que cobras reagem bem somente diante a objetos redondos. Caixa de fósforo é retangular e não casa direito.

Então vou continuar aqui com o rádio. Quem sabe numa hora dessas, ele sintonize em alguma rádio que esteja tocando um sucesso grandioso de Zé do Pandeiro. Tenho um amigo taxista que conhece um estagiário numa rádio do interior do estado que me garantiu que a música Lá Vem a Cobra, Lá Foi o Pandeiro, minha obra-prima, vai ser reproduzida ao menos umas duas vezes durante o dia. Assim, é só dar volume, pegar a primeira cobra que passar e botar para quebrar. Acho que em cinco horas, terei total controle da cobra e poderei gravar um clipe maravilhoso. Serei o rei do YouTube, o rei do pandeiro e o rei das cobras.

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Notas de Rodapé

Expressei-me ao findar a revisão da seguinta maneira:

"ai, que besteira"

Obrigado pela leitura.

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