Ritmo
Giordano
Tipo: Lírico
Postado: 09/12/16 11:32
Editado: 10/12/16 00:23
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min
Apreciadores: 7
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Palavras: 338
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Ritmo

A tentativa de amar

Se assemelha unicamente a de rimar.

Rimas com duas palavras de mesma categoria gramatical

Já foram ditas pobres, excluídas pela academia do parnasianismo,

Talvez até chamadas de falsas, uma ação covarde

E pensando com um pouco de alarde

É fácil perceber que com o amor não foi diferente

Uma cultura tão coercitiva, uma pena realmente.

Rimas já foram ditas ricas também,

Quando havia diferença entre os termos em questão,

Foi enaltecida e redigida com um exemplo para as pobres,

Se me perguntar, plena perda de tempo tal classificação

Não é destino da poesia ser presa em padrões,

Pobre de nós lermos sempre os mesmos versos

Repetidos e definidos por uma mesma terminação.

Mas eis que deixamos de nos ater e constranger

Dividindo o amor, digo, as rimas em categorias

Tão indignas e sem real significação.

Rimou tá rimado!

Passamos a apreciar o dito fato,

Às vezes temos o prazer de achar uma especial, dita rara,

Um real agrado ao leitor , diga-se de passagem,

Quando, apesar de aparentarem tão diferentes,

A rima lá está, ecoando sua unicidade,

Demonstrados sua verdade inerente:

É possível!

Apesar de ter que ouvir que vai ser difícil

Ou que seja algo inconsequente.

Nem tudo é um mar de poesia,

Infelizmente,

Nem toda rima vibra,

Às vezes nos contentamos

E decidimos por uma parcial,

Às vezes esquecemos que também há a interna

E nem só de externa vivem os poemas,

Às vezes é consoante,

Mas há as quê sejam toantes.

Às vezes é difícil aceitar que não

Que palavras que se cairiam tão bem

Acabam apenas por ocupar um espaço no papel,

Às vezes, não importa quão queiramos,

O verso é branco,

Falso? Uma definição estranha,

Mas sozinho,

Talvez não por culpa própria

Ou por dificuldade na rima,

Mas o verso adjacente,

O intercalado

Ou um intermitente,

Acaba por não se encaixar.

Acabamos por dizer que o verso é livre

Um eufemismo, talvez,

Para não dizer que a rima é unilateral,

Que faltou um verso que o queira

E soe igual.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Juro que não sei de onde saem essas ideias.

Apreciadores (7)
Comentários (3)
Postado 09/12/16 23:43

Olá.

Eu discordo bastante de que se tenta amar como rimar. Mesmo o mais apático de todos, pode tentar rimar e criar uma tempestade de sentires, mas amar, não - o apático, dificilmente consegue amar.

Amar não é algo que alcançável por por treino, mas também não é natural... Ele acontece. É contraditório, incalculável, tenebroso e ao mesmo tempo, doce e sentido.

As rimas pobres não fogem dos neoclassistas, ao menos, do que me lembro dos neoclassistas na Academia (corrija-me com os exemplos, caso houverem). Pelo que sei, até a rima pobre, enaltecendo a natureza, os neoclassistas usavam.

E tampouco alguém na Academia classifica a rima pobre como falsa, pelo contrário, maior parte das vezes são trabalhadas como necessárias para explicações sociológicas da língua através da música - que é preenchida desse tipo de rima. E o que é coercitivo? A cultura é coercitiva em que sentido?

O verso é livre, não é eufêmico afirmar isso, se o fosse, viveríamos na censura eterna de escrever qualquer coisa.

No mais, adorei o texto. Parabéns!

Postado 10/12/16 01:21

Olá, obrigado pelo comentário, Romão! ^^

Olha, eu discordo da tua visão, acho que todos somos sucumbíveis ao ato de amar, independente da apatia. Pelo o que você falou o que penso é que se todos nós podemos tentar rimar, todos podemos tentar amar também e a palavra de destaque é com certeza tentar. Já vi muitas pessoas talentosíssimas no ato de escrever que dizem não conseguir escrever poemas pela dificuldade de rimar, então não creio que exista tamanha facilidade em tal ato, talvez o mesmo se aplique ao amor, talvez não, ao meu ver são semelhantes os dois, alguns possuem mais facilidade, outros talvez não queiram tentar, alguns podem ter medo de não conseguir e outros, talvez façam com o máximo de afinco possível.

A questão é que são duas ações que se demonstram de modos distintos de pessoa para pessoa e com muito esforço talvez todos consigamos ambos (o que não significa que devêssemos ou queiramos, não é o mérito que quero abordar aqui).

Sobre o neoclassicismo, tens razão, na realidade muitos dos escritores do movimento preferiam por versos brancos, eu cometi uma confusão na hora, gostaria de me referir aos parnasianos, eram eles que possuíam um intuito de atingir uma estética perfeita, na qual as rimas ricas eram uma parte constituinte, já corrigi, obrigado.

Sobre o citado da Academia, na época, o parnasianismo, apesar de já estar perdendo um pouco de força frente ao Simbolismo ainda era o principal movimento no Brasil.

Sobre a coerção, como eu abordei durante o texto este paralelo entre rimar/amar, as rimas entre categorias gramaticais iguais faziam um paralelo para com relações homoafetivas que ainda hoje são discriminadas, principalmente pela dita "família tradicional brasileira" a qual achei muito apropriadamente semelhante ao ato do parnasianismo de tentar barrar movimentos com extrema liberdade na escrita ao trazer um ideal de estética perfeita que levou ao uso de algo extremamente padronizado.

Finalmente, a ideia final não foi desmerecer os versos livres, mas considerando a idealização que se tem do amor (que nem sempre é bom a todos) e o tema do desafio, o verso livre, foi meu modo de mostrar que nem todo amor é verdadeiro ou agradável a ambos os lados (nem tudo acaba bem o tempo todo) ou real, sequer, na comparação entre amor e rima, o verso livre se tornou, em meu poema, aquela que não tem um par, entende? Não creio de modo algum que o verso livre é ruim ou descartável, pelo contrário, como você falou, isso seria censurar a escrita o que não é meu intuito, apenas se tornou o modo de expressar a comparação que carreguei durante o texto, espero ter explicado direitinho rsrs

Agradeço o comentário, novamente, espero ter conseguido ajudar em qualquer dúvida sobre o texto. ^^

Postado 10/12/16 01:58

Perfeito!!!

Os parnasianos são, em essência, cânceres mesmo - mas essa é uma opinião minha e muito pessoal. E é isso aí mesmo.

Eu realmente acho que o apático pode ser talentoso, mas não consegue amar, mesmo que tente. E o amor é isso: uma confusão, uns acham que pode-se tentar e outros não, é completamente contraditório mesmo.

Acho que quem preferia os versos brancos, na realidade, eram os modernistas. Mas com a correção agora, o texto já ficou com total sentido - agora não interfere na compreensão.

Sobre a coerção, achei bacana a ideia, mas a execução ficou confusa, com a tua explicação agora é mais claro... Só lembrando que os parnasianos no Brasil,

Quanto aos versos livres, perfeito também.

Muito obrigado!

Postado 10/12/16 00:50
Postado 10/12/16 00:53

Maravilhoso, como sempre, é um poema que te faz embaralhar pra depois deixar com que a alma de cada palavra te faça sorrir, maravilhoso!

Postado 03/01/17 09:57

Bom dia, Gio!

Sempre é complicado comentar textos com tantas informações técnicas (para mim, claro). Falta-me conhecimento pra dizer algo mais abrangente sobre isso, ainda mais se tratando de poesia, que não entendo bulhufas.

Agora, falar de amor eu me arrisco, hehehe. E eu concordo com a mensagem que o texto traz: para amar, não existem padrões, classificações ou regras. Para amar basta existir. "Eu me amo", "eu te amo" é o que precisa. O resto é resto, é gente querendo se meter na tua vida.

Belo texto, Gio! Parabéns e obrigado!

Postado 03/01/17 11:22

Valeu, Chico!

Fico feliz que tenhas gostado da mensagem, principalmente, acho que é o que importa no fim das contas. xD