Mais. Era a palavra que dominava a cabeça de Elise Springfield. Talvez esse "mais" fosse o caminho para uma nova realidade, um paraíso eterno, não o que durava apenas nos simples atos de colocar mais e mais coisas no carrinho. É assim que as coisas funcionam de certa forma para todos em suas medidas devidas ou não. Já percebeu que quando alguém se dispõe a comprar apenas um item em um supermercado por exemplo, sempre vem com mais alguns? Porque acham que precisam deles. É sempre assim para Elise. Comprar mais era tudo o que queria. Mais. Precisava de mais.
Após entrar na loja e varrer seus olhos por onde podia, percebeu que não havia outro lugar onde queria estar. Começou a colocar sem perda de tempo peças e mais peças nas sacolas. Era sempre assim, para ela a felicidade era facilmente comprada. Quando parou de comprar, era quase fim do dia. Era um processo antigo para ela, como um amor atemporal. Chegando em casa, se sentou atrás da porta sentindo o êxtase de ter mais novas coisas, não se livraria de nenhuma delas. Ficou ali alguns minutos, experimentando a sensação de felicidade. Após algum tempo considerável entre torpor e realidade Elise acordou, sentindo estar sentada em algo que lhe dava uma distância ínfima do chão. Era um envelope do poder judiciário. As lágrimas começaram a escorrer quando abriu o papel e leu a lista disposta nele. Uma lista que dava opções que seriam abordadas em um julgamento que era fruto de um processo. As lágrimas escorriam e molhavam o motivo de sua própria manifestação. As peças de roupa, algumas finas, molhavam e escureciam levemente com o toque do líquido. Bem que seus pais avisaram. "Você plana o que colhe, não quer colher um processo."
Por que os esnobara?
Não tinha dinheiro para pagar as dívidas, e teria que dispor de todos os bens necessários para pagar. Suas coisas, apenas suas. Havia um problema que não era tão pequeno quanto ela queria que fosse e tentava fazer aparentar. Não havia pago nada. Nenhum dos móveis, nenhuma das peças aos seus pés. Olhou para o carpete caro, os móveis em perfeito estado, o guarda-roupa aberto. Então Elise percebeu.
Nenhuma desculpa que pudesse dar seria suficiente para as pessoas que todo esse tempo trabalhava para impressionar. Não tinha um amigo para ligar, o último havia se fadigado do óbice que era seu consumismo. Isso apenas aumentou as lágrimas da compulsiva. Seus bens, os que pensava serem como um paraíso eterno, a levaram para um inferno. Então, sorrindo tristemente sussurou pela última vez no topo do mundo.
-Por que eu, que sempre queria algo a mais, algo maior, diminuí algo que parecia tão grande a ponto de não enxergar?