Após regarem a grama antes seca do campo de trás de casa, pai e filho seguiram á floresta ainda mais atrás com o regador pendido à mão de um deles. Eram árvores altas com troncos grossos e escuros que tinham lá, sob folhas também escuras que faziam parecer frio dentro da floresta, o que era verdade. Na chegada deles à borda das árvores, estas os receberam de galhos abertos e espichados, sabendo do porquê do regador. As copas delas remexiam-se com o vento quando seus pés e raízes eram molhados, parecia, para o pai e pro filho, que elas sentiam cócegas com o contato com a água. Aquilo sempre acontecia todos os dias, tornando-se uma parte marcada da rotina dos dois. Eles caminhavam das costas de casa até o peito da floresta irrigando tudo seco.
No dia seguinte, à noite, após um dia úmido e tedioso de chuva forte e corriqueira, a qual impediu o trabalho dos dois e cuidou da irrigação da grama e das árvores sozinha, quando o filho foi se deitar, mais tarde do que o normal, ele ouviu as copas da floresta ventando e ficou surpreso, pois àquela hora da noite não ventava na região onde morava. O filho foi constatar a floresta pela janela e enxergou somente uma árvore com as folhas movendo-se sozinhas, era a mais alta e imponente de todas, e logo ficou mais ainda quando o garoto a viu crescer se levantando. Quando ela ficou do dobro do tamanho de antes, despencou para frente mergulhando em cima de carvalhos menores. Deitada, a árvore pôs-se de quatro sobre galhos fortes que assumiram a posição de braços e pernas, e começou a correr nas quatro patas em direção ao garoto, às costas da casa.
Depois que as folhas superiores encostaram as telhas da parede de trás, ela se pôs a erguer-se novamente e ficar de pé, ficando muito maior que a altura da moradia. No momento que inclinou a copa sobre o telhado, uma cachoeira pesada caiu das folhas para cima do garoto e da casa, encharcando todo o lugar, dentro e fora. A cena era idêntica à da de anteontem, só que ao contrário: a árvore irrigava a casa, como se ela contribuísse o favor, e o pai e o filho remexiam-se e afogavam como sentissem cócegas com o contato com a água.