Dei o dinheiro da passagem para o cobrador e subi na balsa. Tudo estava tão quieto, e as pessoas apenas ficavam ali, paradas à olhar para água ou fitar a neblina, realmente não as entendi muito bem.
Como ninguém estava interessado em vir conversar comigo, decidi ir procurar alguém para isso eu mesmo. Entretanto ninguém deu-me atenção, isso deixou-me extramente possesso. Fui então conversar com aquele que pilotava a balsa, ele parecia tão sozinho.
Fui à onde estava ele, apresentei-me e puxei conversa, perguntei como ia a família. Ele disse-me que tinha apenas um irmão e que não conheceram seus pais. Perguntei então como ele era, o piloto pareceu um pouco desconfortável, mas resolveu falar, disse-me que seu irmão era muito alegre e que tinha muitos filhos, todos gostavam dele e queriam tê-lo por perto, mesmo quando ficavam com raiva dele, no final voltavam à amá-lo.
Dei uns tapinhas nas costas do piloto e disse, enquanto sorria, que devia ser muito legal ter um irmão assim e que devia ser ótimo passar o tempo com ele.
Todavia, o piloto fez uma feição triste e disse-me que não via seu irmão há muito tempo e que, diferente do irmão, as pessoas não gostam dele, que o evitam e o queriam longe.
Perguntei o por que disso e quando o fiz ,pela primeira vez, durante nossa conversa, o piloto deu um sorriso com o canto da boca, não entendi muito bem. Ficamos um tempo em silêncio quando ele perguntou-me se eu estava gostando da companhia dele, respondi que sim e ele começou a Gargalhar.
Depois de mais um tempo em silêncio, percebi que aquela neblina estava mais densa que o habitual. Antes de ter a chance de pensar sobre isso, o piloto perguntou-me se eu sabia onde estava, respondi que claro, que estava à caminho de casa, ele mais uma vez gargalhou e concordou comigo em um tom irônico.
Percebi uma coisa estranha, a viagem estava demorando mais que o habitual e que a neblina era atípica demais. Ele percebeu minha preocupação, pôs a mão em meu ombro e carinhosamente disse-me que estava muito agradecido pela conversa, disse que há muito ninguém vinha falar com ele e que sentia-se sozinho por isso, e disse-me também que eu seria muito feliz. Por fim, confessou que não havia apresentado-se e desculpou-se pelo mesmo, porém, enquanto sorria, disse à ele que não havia necessidade.Dei a conversa por terminada e fui arranjar um lugar para sentar e esperar a jornada terminar.