Talvez eu devesse ter começado escrevendo “querido”, “amor”, ou simplesmente “Fael” como sempre o fiz, entretanto, não vejo o porquê de colocar um termo carinhoso quando há tempos não o recebo. Sei que deve estar confuso, provavelmente mordendo os lábios de nervosismo e hesitando em terminar de ler esta carta por pura raiva. Apesar desses seis anos terem sidos desastrosos para nós, ainda tenho guardado na memória cada mania sua.
E por não aguentar mais me lembrar disso toda vez que o encaro é que estou indo embora da sua vida, do que um dia foi a nossa.
Sempre desejei compartilhar a minha vida com você, Rafael, então não foi nenhuma surpresa a crise de choro que se sucedeu naquela noite onde fui pedida em casamento. Você pode duvidar de tudo que me envolva, mas jamais duvide do amor que eu sentia naquela época. Aquele foi de fato o dia mais feliz que já tive, mas se eu soubesse o quanto isso afetaria o nosso relacionamento depois de dois anos, jamais teria aceitado me casar. Jamais aceitaria acabar com a apaixonada imagem que criei.
Queria ter sido especial para você como pensava que era. Se eu deixei a minha família de lado por não terem aprovado o nosso casamento foi por única e exclusiva vontade de viver ao seu lado. Quando entrei na igreja sozinha sem ninguém para me acompanhar, desejei que tudo não passasse de um pesadelo. Apesar de ter sido como um conto de fadas, a sensação era de que algo macabro se mesclava. Minha mãe não estava ao seu lado no altar e meu pai não me acompanhou como sempre sonhei. Ninguém da minha família se fez presente.
Mas eu tinha você, e para mim aquilo bastava para me confortar. Sim, de fato eu era uma garota ingênua por ter acreditado nisso e ter escondido a minha tristeza durante toda a cerimônia. No entanto, você nem havia notado, afinal, quando foi que você realmente ligou para os meus sentimentos?
Queria poder ter tido a coragem de despejar toda a verdade na sua cara ao invés de escrever uma carta. Mas o tempo é curto e já não vale mais à pena prolongar algo que passou da validade. Se me afastei nesses últimos meses foi por medo de te machucar, por estar confusa e não saber o que fazer. Ingênua, como sempre, não é mesmo? Porque nada relacionado a mim poderia te atingir.
Porque você nunca se preocupou. E se algo não te preocupa, consequentemente não machuca.
Espero que leia todas as cartas que vão estar presente nessa pequena caixa, é o mínimo que poderia fazer por mim. As cartas estarão datadas porque na verdade foram escritas como uma forma de desabafo, já que não havia ninguém para me ouvir. Já que eu estava sozinha.
Não as ignore como me ignorou nesses anos. É a única coisa que peço.
Sinceramente (ex)sua,
Sarah.