O calor se foi, agora o frio domina
Nix
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 30/11/20 16:20
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 5min a 7min
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Palavras: 909
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Notas de Cabeçalho

Conto para o desafio de novembro do Oneshot Per Month Project, cujo o meu era produzir algo com a dualidade Quente e Frio.

É a primeira (e muito provavelmente última) vez que faço uma história que é metáfora.

Espero que gostem.

Capítulo Único O calor se foi, agora o frio domina

Quando passei a existir nesse meio, foi me dada uma vela de cera branca. Uma sombra disforme que a colocou no meio de minhas mãos. Eu não me mexia, sentia, ouvia, falava ou via. Era apenas um esboço de algo que tinha a vaga sensação de que iria me acontecer alguma coisa.

A sombra riscou o ar e a vela se acendeu em uma chama tão branca quanto a cera. Pura e belíssima. Quando o calor do fogo me atravessou, passei a me mexer, sentir, ouvir, falar e ver. Já não era apenas um esboço, pois com a chama acessa agora tinha vontade e consciência.

Vendo seu trabalho comigo feito, a sombra sumiu, dando-me três instruções.

"Siga em frente nesse caminho, sem voltar para trás. Não permita que ninguém além de ti segure a vela que está em tuas mãos"

Agora me encontrava sozinha no meio. Movida pela curiosidade, dei meu primeiro passo. A felicidade por aquele simples gesto se fez presente em mim. A chama brilhou ainda mais, irradiando o calor que tanto me fazia sentir protegida e amada. Como eu era amada.

Não sei dizer ao certo o quanto vaguei por ali completamente só. O tempo parecia não correr, me fazendo sentir que era apenas eu na eternidade. Contudo, não sentia medo. O brilho da vela guiando meu caminho; era somente aquilo que necessitava. Então continuei a andar.

Dei cem mil passos quando parei pela primeira vez no meu caminho, sem olhar para trás. Minha trilha havia se unido a uma outra. Essa por sua vez estava conectada a outra. Eram afluentes desembocando no verdadeiro rio, onde muitos iguais a mim vagavam sempre em frente.

Aquela foi a primeira vez que parei temerosa. Eu tinha medo de me juntar àquelas figuras segurando outras velas. Não queria ir adiante, chegando ao rio. Ele era tão grande e eu tão pequena.

Aquela também foi a primeira vez que minha chama oscilou e o calor diminui. Foi a primeira vez que senti frio. Não era forte, mas o suficiente para me deixar assustada, querendo que o fogo voltasse ao que era antes.

Me juntei as demais figuras semelhantes a mim. Demorou, mas logo senti que era feliz ao lado delas. Minha chama também, que voltou a brilhar como quando foi acesa.

Segui junto a eles por muito tempo e era alegre por isso. Nós não trocávamos palavras uns com os outros. Não precisávamos disso, éramos conectados como uma colméia. Era como uma simbiose entre nossos pensamentos e sentimentos. Éramos completos assim, pois não precisávamos de nada mais

Eu era muito feliz nessa época e deveria ter me contentado com isso. Mas, a curiosidade, antes boa, se fez presente outra vez em mim. Dessa vez com intenções ruins.

Meus semelhantes me alertaram sobre a faceta perigosa de que o que eu queria poderia me desviar. Como poderia fazer com que eu me perdesse. Não acreditei nos avisos e essa foi minha sina.

Aquela faceta me encontrou. Se parecia comigo; ao mesmo tempo diferente. Era sombria e fria. Seu rosto mostrava um sorriso gentil, convidativo. Parecia amigável, se não fosse por seus olhos cruéis. Ela não carregava nenhuma vela.

No começo ficava assustada na presença dela, aceitando de bom grado quando meus semelhantes me puxaram para longe. Mas aquela figura não desistiu. Ficou me seguindo de perto, sussurrando para mim coisas tentadoras e maravilhosas. Promessas repletas das novas experiências que eu tanto queria.

Fui seduzida por seu discurso. Me aproximei dela sob os alertas de meus companheiros. Eu não dei ouvidos. Já estava presa nos encantos daquela figura, como uma mosca presa na teia da aranha.

Segui ao seu lado por algum tempo, cada vez mais envolta em seus dizeres, completamente manipulada e cega aos perigos que aquilo tinha.

Quando ela me pediu para segurar minha vela eu deixei, sem pestanejar. Quando ela a tomou de mim, a chama e cera ficaram negras após o toque de seus dedos e ela riu lunática.

Finalmente acordei do transe que me envolvi, em completo desespero para o deleite dela. Arranquei minha vela daquelas mãos cruéis, a trazendo para perto de meu peito, na esperança que ela voltasse ao seu estado de glória. Foi em vão. O estrago havia sido feito e já era tarde.

Corri para longe da figura sombria, recorrendo aos meus semelhantes. Eles já não me queriam por perto, se afastando conforme eu me aproximava.

A figura escarnecia de mim aonde estava, provocando-me o choro de alguém arrependido por suas escolhas.

Assisti com muito medo a chama negra se apagar aos poucos, se tornando apenas uma luz bruxuleante. Naquele ponto, já sabia que ela iria se apagar em algum momento.

O frio veio até mim ainda mais violento, como castigo por ser tão tola e acreditar naquele demônio. Eu tremia, chorava e rogava alto por ajuda. Mas ninguém vinha ao meu socorro.

Cai no chão quando não me restava mais forças, virando um obstáculo aos meus antigos semelhantes que desviavam de mim, como se eu não mais existisse. Era ignorada.

Vendo meu triste e deplorável estado, aquela figura demoníaca se aproximou gargalhando, se deleitando de meu destino terrível. Trazia consigo ainda mais frio.

"Deixe-me em paz"

Pedi em um sussurro fraco, provocando mais uma crise de risos na outra.

"Não tem para onde fugir. Faço parte de seu presente e serei seu futuro"

Então ela se foi, me deixando com suas palavras, o frio e o desespero para sentir o calor novamente.

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