Suicídio Assistido
Sabrina Ternura
Tipo: Lírico
Postado: 20/10/22 00:51
Editado: 20/10/22 00:54
Avaliação: 8.4
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 4
Comentários: 4
Total de Visualizações: 308
Usuários que Visualizaram: 10
Palavras: 461
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

Sfida Musicale II: 12 - Tema Livre

Música para acompanhar a leitura: https://www.youtube.com/watch?v=-s9EJuMTgAY&ab_channel=ParamountMusic

AVISO: esse poema está na categoria +80 anos e têm muitos gatilhos, além daquele que já vem explícito no próprio título. Essa autora não se responsabiliza caso continuem lendo.

Capítulo Único Suicídio Assistido

Encaro meu reflexo no espelho:

Ele está sereno perante a minha perdição.

Os anos acumulando dores como se fossem móveis em liquidação,

Causaram danos irreversíveis no meu coração.

Como uma praga traiçoeira, a depressão

Se arrastou pela minha alma até, enfim, sua vitoriosa ascensão.

e mesmo lutando, de nada adiantou…

e mesmo chorando, ninguém me escutou…

e mesmo demonstrando, ninguém se importou…

e mesmo adoecendo, de nada bastou…

A dor se transformou em vazio,

Mas dentro de mim sempre existiu

Esse ódio tremendamente hostil

Por aqueles que transmutaram meu âmago em um buraco oco.

Meu desejo mais sombrio tinha nos lábios a malícia da vingança:

Eu brutalmente os feriria e depois fingiria que nada aconteceu

[só pelo prazer de não pedir desculpas…].

Eu sadicamente me divertiria em cima de suas lágrimas

[só pelo deleite de banalizá-las…].

Eu gentilmente mutilaria seus pulsos com facas

[só pela satisfação de vê-los sangrar como eu…].

Eu amavelmente cortaria as línguas que me difamaram

[só pelo júbilo de não ter que ouvi-los nunca mais…]

Eu os mataria, se eles não houvessem me matado.

E neste meu estado, já não há mais o que fazer,

Mas eu gostaria de tê-los ferido assim como fizeram comigo,

Antes de padecer e o meu ódio apodrecer

A sete palmos do chão como meu único amigo.

Volto a encarar meu reflexo no espelho,

Acompanhando, sereno, a minha decisão.

Inteiramente fragmentada pela minha dor,

Almejo dançar eternamente sobre minhas angústias,

Porque a minha alma está cansada demais para continuar lutando

Por míseros segundos de felicidade.

Eu até tentei sonhar com um futuro

[mas ele demorou demais para chegar…]

E até me esforcei para ser boa em tudo

[mas isso não me levou a nenhum lugar…].

O deslizar da lâmina é o toque mais gentil que recebi,

Porém quase não o sinto:

A dor é tão grande que, do meu interior, ela jorrou para o exterior.

Portanto, para continuar sentindo a gentileza da morte

Devo adentrar a minha pele como se um novo nascimento fosse acontecer.

O sangue escorre dos meus pulsos como se fossem lágrimas,

Pois até mesmo o meu interior lamenta a minha trajetória.

O frio se alastra pela minha pele,

Pois até mesmo o calor me abandonou em minha última prece.

sinto o coração parar…

sinto a minha perna falhar…

sinto a minha respiração diminuir…

sinto a minha vida partir…

E a última coisa que vejo

É o meu reflexo no espelho

Colhendo meus últimos suspiros,

Completamente sereno e disposto a guardar este meu último segredo:

Eu nunca quis morrer,

Mas nunca me ensinaram a amar o viver.

existe algo bonito em morrer,

porque no verdadeiro vazio

a vida não dói mais…

a morte é mais serena que a vida

e acho que o meu reflexo o tempo todo sabia.

❖❖❖
Apreciadores (4)
Comentários (4)
Comentário Favorito
Postado 01/11/22 01:08

É muito louco como você consegue transformar as coisas mais tristes em versos tão bonitos e que conseguem transmitir com tanta intensidade os temas abordados. O suicídio por si só já é algo terrível, mas nessa obra você o elevou a outro patamar e a imagem de um suicídio assistido por si só é apavorante e devastadora.

Ainda assim, parabéns por essa obra, amor!

Postado 29/01/23 01:23

É exatamente isso, vida!​

Obrigada pela presença e comentário, amor ♥

Postado 20/10/22 03:05 Editado 20/10/22 03:44

Poucas vezes me vi tão perfeita e visceralmente representado em um texto quanto agora, em toda essa magneficiência sombria em externar com palavras tudo o que jaz no vazio se destacando de um modo ímpar... Tamanha perfeição me encantou e me fustigou na mesma intensa medida.

Talvez morrer não seja a melhor solução. Mas, ainda é uma solução. Para mim, nunca ter existido continua(rá) sendo a melhor delas. Todavia, como tal escolha me foi negada seja lá por que força ou acaso rege esta maldição que a tudo e todos comporta, sigamos o baile até o findar das luzes e o baixar das cortinas (oxalá não haja algum ato secreto nos bastidores ou sequer eles)...

Srta Ternura, humildemente lhe parabenizo e lhe cultuo por sua maestria em tecer maia uma Obra Brina (tal qual sempre aguardo e nunca me decepciono)!

Atenciosamente,

um ser que há tempos e cada vez mais flerta com a beleza que meu reflexo sabe, Diablair.

Postado 29/01/23 01:21 Editado 29/01/23 01:22

Seu comentário, como sempre, me deixou sem palavras... Mas por todas as perspectivas, eu sinto muito, Manu...

​Obrigada pela presença e comentário, Diab ♥

Postado 20/10/22 20:25

Eu li sem música e já fiquei profundamente tocada. Eu li com música e parecia que ela estava não apenas ditando o rítimo, mas dançando a minha volta, mostrando flahs de um reflexo preso no espelho, desesperado e perdido.

Eu li essa obra uma, duas, três, quatro vezes. Cada nova leitura, uma nova visão, um novo sentimento.

Manu me lembrou da Doença e, é, eu sou bem Doente, por que, independente de tudo, eu sempre achei a coisa mais linda o que imaginei e o que você mostrou.

Parabéns, Brinis! Você é a melhor! <3

Postado 29/01/23 01:23

Você é sempre um xuxuzinho nos comentários, miga.

​Obrigada pela presença e comentário ♥

Postado 14/04/23 13:30

Acho que fazer essa leitura me deixou mais emocionada do que normalmente eu ficaria. E não necessariamente porque eu tenha me identificado, mas porque eu identifiquei a humanidade nesses versos.

Me sinto muito triste, ao pensar que talvez todas as pessoas sintam essas coisas, em maior ou menor grau, e pelas mais diferentes motivações, mas ainda assim, essa morte.

"e mesmo lutando, de nada adiantou… / e mesmo chorando, ninguém me escutou… / e mesmo demonstrando, ninguém se importou… / e mesmo adoecendo, de nada bastou…"

A senhorita consegue tocar o coração dos leitores com uma maestria sem igual. Meus parabéns!

Um grande abraço <3

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