Debaixo da água, Hanni reluzia num brilho laranja ilustre. Seria sereia, peixe ou uma humana surpreendente? Ninguém sabia.
O riacho de seu vilarejo era cristalino, reluzia à luz do sol. Hanni gostava de molhar os pés e lavar seus cabelos nas tardes de sol e manhãs de primavera. Naquela manhã estava nublado, mas mesmo assim ela o fez. Era seu ritual para começar um bom dia, e havia sido um bom dia de fato.
Quando o sol chegou ao meio do céu, as nuvens se foram. O céu azul como uma hortênsia era um chamariz para os olhos. Se pudesse, Hanni sempre olharia para o sol, mas seus olhos eram frágeis (e os de quem não são?). Ainda assim, ela observava o céu, talvez por isso soube antes de todos.
Hanni tornou-se carpa numa ensolarada tarde de 98, quando entrou novamente no riacho cristalino e seu brilho tornou-se laranja-dourado. A água, mesmo com o sol brilhando acima, estava gelada, a fazia enconchar suas escamas.
“Continue a nadar” disse a si mesma e assim seguiu. Adentrou mais no riacho, encontrando fundos onde seus pés nunca pisaram. Se pudesse pedir uma coisa, pediria que mesmo dentro da água pudesse ouvir o farfalhar das folhas das árvores, mas estava satisfeita com o som da pequena correnteza.
Voltou mais à superfície, deixando se banhar no sol mesmo dentro d’água. Ao sol tocar suas costas, as águas se coloriam com o seu brilho nativo. Hanni era carpa, e sempre haveria de ser.