Dopamina
Thiago Lima
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 03/12/23 17:32
Avaliação: Não avaliado
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Palavras: 710
[Texto Divulgado] "Cinzas no Deserto" Uma história baseada em algumas histórias baseadas em histórias que tanto amamos, de coração. Bora ler.
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Capítulo Único Dopamina

Detrás de um vidro espesso, vejo a minha vida como um mero espectador. Gritando e socando essa porra de vidro, para apenas escutar a minha voz ecoar no vazio em que estou existindo.

Olho, e vejo minhas mãos, vejo meus pés, minha família, amigos, mas aquele que vejo em meu corpo não sou eu. Como um semiacordado, minha consciência parece o único boneco de “Divertida Mente” vivo, justamente aquele azul dos sentimentos de tristeza, todos os outros morreram de overdose de dopamina barata e suja diante de uma grande farra, irresponsabilidades e orgias sem sentido.

Pornografia, Jogos Eletrônicos, Vídeos Inúteis, Comidas Gordurosas e Açucaradas me deixam ainda mais impotentes frente a esse grande vidro que me afasta do meu corpo e de seu controle. Sem um pingo de racionalidade desse ser que me controla, me sinto inútil. Sem qualquer análise, o corpo age como um mosquito que não resiste uma lâmpada acesa, e desse lado me afogo em um desespero profundo fantasiado de prazeres momentâneos.

Como se ignorasse a fonte do meu problema, para resolver o meu gatilho de ansiedade, pego a minha própria algema virtual para voltar ao ciclo vicioso e sem fim. De forma inofensiva, tento ter um último momento de prazer, sabendo muito bem que só vou parar de farra ao dormir na cama ao fim da noite. Após uma série de informações inúteis, desvios de rota e uma incessante vontade de ter aquela tão desejada sensação de suficiência, "necessária" para estar feliz o suficiente para fazer o que deve ser feito, acabo parando em locais que não gostaria.

Que bela moça dançando sensualmente esta coreografia do TikTok neste vídeo! Um corpo sarado, bronzeado, um rosto bonito e sorridente bem em frente a uma praia paradisíaca que terei poucas oportunidades de passar perto ao longo da minha vida. Detrás daquele vidro espesso, eu já não soco mais em desespero. Se já havia me sentido cativado pelo ótimo vídeo de humor produzido sobre animais inesperados que já derrotaram pombos, o que dizer deste belo par de seios. Posso imaginar, e até sentir, o gosto salgado de mar do seu mamilo que se arrepia enquanto lhe chupo. É como se estivesse pegando fogo e sem nenhuma água ou extintor para apaga-lo. Tento fugir de uma beldade para cair nos braços de outra em questão de segundos, graças a este berço de perfeição que são as redes sociais. Que me perdoem, pois eu mesmo não tenho qualquer chance de sequer ser comparado a beleza de um Chris Hemsworth ou George Clooney, mas essas beldades femininas, tão frequentes no Instagram, raramente aparecem nas calçadas de meu bairro. Enquanto no Instagram, uma moça, desenhada a mão, e que seria uma paixão mais que certeira se a encontrasse na fila do mercado, é desqualificada por ter o nariz ligeiramente mais apontado para baixo do que gostaria.

O caminho é sempre o mesmo, a rede social abre o apetite por dopamina, a imaginação pede mais estímulos visuais, e de repente o biquini já bem revelador, não é mais o suficiente para alcançar um pico de dopamina conhecido e que virou o novo foco. Detrás do espesso vidro entro em modo de aceitação, pois na tela entrava em cena “Meu malvado favorito” com gráficos mais reveladores e todas as fantasias possíveis ao alcance de um click. Me sinto mal, pois sei quão horrível é ter essa felicidade tão facilmente, mas a mente desliga e de repente eu não paro até conseguir aquela famosa brisa no alcance da mão, literalmente...

Alcanço a minha onda, diante daquele forte estímulo. Não preciso de confirmação visual para identificar que meus olhos negros se dilatam em êxtase. Minha energia desce pelo ralo, o corpo e mente pedem descanso, mas já pensando na próxima onda.

Por que não ter essa onda enquanto descanso? Abro um vídeo para esquecer dos meus problemas, e logo depois eu passo a jogar algo no celular ou computador pra me dar um novo êxtase para um dia enganosamente bom.

Juntando forças para gritar mais uma vez, sinto o vidro ficando cada vez mais espesso. A dopamina que supostamente deveria me causar alegria, ironicamente se torna uma prisão. Se há alguém que diga que um homem que vive dessa forma é um homem livre, estaria completamente errado.

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