Meu maior sucesso
Francisco L Serafini
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 31/01/16 20:31
Editado: 16/02/16 13:53
Gênero(s): Cotidiano
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 5min a 7min
Apreciadores: 6
Comentários: 3
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Palavras: 861
Este texto foi escrito para o concurso "Aproveite o dia" Concurso de textos inspirado na escola literária conhecida como "arcadismo" ou "neoclassicismo" Ver mais sobre o concurso!
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Escrito de qualquer jeito, infelizmente. Espero que gostem.

Capítulo Único Meu maior sucesso

Hoje foi um dia muito bom. Faturei um bom dinheiro no negócio que fiquei três meses coordenando. O dinheiro da comissão já está no banco e com certeza garanti o sustento e o padrão de vida para os meus netos. Na verdade, garanti o sustento dos netos dos meus netos, pois o futuro dos meus netos já está seguro há um bom tempo. Eles vão poder comprar seus iates e viajar pelo Mediterrâneo tranquilamente, sem precisar saber do meu esforço. Felizes deles e que aproveitem bem a minha fortuna quando eu morrer.

Mas enquanto estou vivo, quem aproveita do meu dinheiro é minha esposa — e o gerente do meu banco. Ao chegar em casa, certamente ouvirei todas as gastanças que minha mulher pretende fazer. Esquiar na Suíça, fazer compras em Paris, repousar nos antigos templos dos monges do Tibet. Chega a me impressionar a gama de atividades que ela arruma para fazer com o meu dinheiro. Mas felizmente ela não supera meu gerente. Eita carinha chato. Já joguei o meu celular fora pela janela do carro para não ouvir sua voz rouca querendo que faça investimentos e mais investimentos para triplicar minha fortuna. Como se eu precisasse de meu gerente para ganhar dinheiro. O problema é o que o infeliz é muito persistente e me livrar do celular não será o suficiente. Tenho certeza que antes de eu chegar em casa, ele já estará lá, a minha espera, enquanto aproveita para encher a cabeça de minha mulher de minhoca. Quando chegar, nem um afago nos meus cachorros poderei fazer, que os dois já estarão no meu encalço, querendo me mostrar suas ideias mirabolantes para torar minha grana.

Sabendo disso, farei um pequeno desvio de rota e chegarei mais tarde em casa. Não que é que não suporte o convívio com minha esposa e com o gerente do meu banco, mas é que eles têm o dom de complicar a vida. Se eu chegar em casa agora, só escutarei de cifras e de como usá-las pode ser trabalhoso e entediante. Não trabalhei tanto nesses últimos três meses para isso. Trabalhei para poder ficar um tempo de boa, relaxando sem me preocupar com dinheiro. E é por isso que esse desvio é muito esperto de minha parte, pois vou a um lugar que me entende perfeitamente: a minha cidadezinha natal.

— Ei, gurizada! Olha quem chegou! O fantasma Zezin!

— E aí, Jorjão, e aí gurizada! Tudo certo com vocês?

— Obviamente bem, Zezin! Não fomos nós quem ficou trancado num escritório por três meses sem aparecer.

— Bah, Jorjão, nem me fale. Esses últimos três meses foram cansativos demais, mas o negócio era bom. Faturei uma grana da boa.

— Tá com ela aí?

— Com a grana?

— É.

— Óbvio que não. Tá tudo no banco.

— Perfeito, porque se tu estivesse com a grana aí, ia dizer para tu leva-la ao banco, pois para onde vamos hoje à noite, ela não se faz necessária.

— Opa, isso me agrada. Onde é o churrasco hoje?

— No teu sítio, como sempre, haha. E sabe, isso até me intriga. Tu, que é um cara que adora tanto a simplicidade da vida, ficar três meses sumido, sabendo que teus amigos estão na tua propriedade fazendo aquilo que mais te agrada.

— Chega de ser dramático, Jorjão. Sumo três meses por ano e depois estou livre. Gosto do dinheiro e da falsa sensação de liberdade que traz, mas gosto mesmo é de um bom churrasco e uma boa cerveja.

— Hahaha. Tá certo, Zezin. Tu sabe, até hoje o Ricardinho tem inveja do teu negócio ter dado tão certo.

— Hahaha. Pobre do homem, ele tem que superar isso. Falando nele, ele estará no churrasco também?

— Com certeza. Só tu quem perde as nossas jantas de quarta-feira. Hoje o Canela vai trazer um barril de seu novo chopp artesanal. Espero que ele acerte dessa vez.

— Hahaha. Verdade. Senão, teremos que comer carne no seco.

Nasci, cresci e me tornei gente numa cidade pequena. Saí daqui aos 22 anos de idade, com uma ideia de negócio que me permitisse trabalhar apenas quatro horas por semana, mas acabei não tendo tanto sucesso. A ideia sempre foi estar junto aos meus amigos, meus familiares, à minha esposa e aos meus cachorros. Fazer meus churrascos, minhas viagens, meus jogos de futebol, minhas idas aos principais parques de diversão do mundo e encarar as mais intensas montanhas-russas. E para isso precisava de tempo e de um pouco de dinheiro. Acabei tendo um sucesso tremendo nos negócios, faturo infinitamente mais que preciso — e por isso faço muitas doações — mas que me privaram alguns meses por ano do que eu mais gosto. Fazer o que? É a vida. Mas felizmente, o que prevalece dentro de mim é a vontade de viver as pequenas coisas, de procurar e encontrar a felicidade e a motivação de viver no sorriso das pessoas que eu amo. Pena minha esposa não estar aqui agora... Eita! Minha esposa, me esqueci de avisa-la! Putz, serei fortemente espezinhado quando chegar em casa. Bom, paciência. Amanhã preparo um jantar bem gostoso, depois faço uma massagem bem relaxante e ela ficará calma comigo, afinal, ninguém resiste a esses pequenos e simples detalhes da vida.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Aberto a críticas.

Apreciadores (6)
Comentários (3)
Comentário Favorito
Postado 28/09/16 22:07

Eu tô aqui, querendo saber o que acontece na vida dessas pessoas. hahaha

Queria muito saber o trabalho desse guri, porque olha, ser rico a esse ponto e apenas trabalhar três meses (tudo bem que deve ser árduo, mas poxa, são três meses!!!) é meu sonho de consumo... Se bem que meu sonho era ser rica sem precisar trabalhar, de preferência apenas escrevendo e lendo. Mas né, assim como o nosso protagonista bem sabe, querer algo não é poder.

Agora... A imagem que me passou é que ele é cercado por interesseiros, com exceção dos amigos que demonstraram ao menos não ligar (exceto Ricardinho, que olha, olho gordo mata).

Aliás, falando em matar, eu já disse que eu tenho crises de risos com os nomes que você escolhe? Não sei porque, mas tenho. O que é bom, diga-se de passagem.

E bom mesmo foi esse texto. Ele de fato é bem rotineiro e demonstra essa ânsia do protagonista em aproveitar o dia, o que ele tem, e infelizmente, nem sempre é o que acontece. Belo texto, rapaz!

Postado 28/09/16 23:06

Trabalho foda, o dele. Eu também queria algo assim, mas o bosta não compartilha seus segredos.

E é complicado: interesseiros tem por tudo e lidar com eles é sempre exaustivo. As vezes, é melhor deixar eles sugarem um pouco, mas ser livre pra fazer o que se gosta, sem se incomodar.

Fico feliz que tenha interpretado o texto de forma tão "vida da boa" que o protagonista quer. Era isso que queria transmitir.

Obrigado pelo comentário, o qual é melhor que o texto, heeheh :p

Postado 08/03/16 15:06 Editado 08/03/16 15:32

Nossa, que texto maravilhoso! Fiquei à espera de algum plot twist incrível, como ele revelar-se um um assassino por contrato, mas não, surpreendeste ao não surpreender! Adorei realmente a crónica!!!

Postado 08/03/16 15:17

Hahahaha. Quem sabe, quem sabe. Nunca tinha pensado nisso, hehehe.

Muito obrigado, pelo comentário. Sério, gostei muito mesmo =D

Postado 27/06/16 18:22

Carambolas. É um texto e tanto. Cheio dos detalhes que sempre devem existir em uma narrativa. Muito bom.

Postado 04/07/16 18:18

Bah, muito obrigado! Bom saber o que fiz de bom, hehe.