O relógio bate cinco da tarde,
Pela brecha da janela pode-se ver,
Apesar do vidro fosco que transpassa apenas borrões,
Que as pétalas começam a desprender-se,
As flores que eram firmes e enfeitavam a frente da casa
Iniciam sua queda derradeira,
Utilizam de seu formato e aerodinâmica
Para atrasarem seu ínfimo estado.
Aquelas que já foram a beleza e grandeza
Agora são o lixo do quintal,
Aquilo a ser jogado fora,
A ser retirado abruptamente.
Um dejeto da natureza
E da própria árvore
Que a compôs e sustentou.
As flores não são mais nada,
Coisa alguma as restou.
Dentro da casa,
Uma sensação muito semelhante se passa,
A esposa jogada ao chão da cozinha
Com um corte transversal em seu pescoço,
Um único corte em sua carótida...
Indicações simples do que poderia ter ocorrido,
Um golpe único de piedade,
O corpo da vítima indicava veementemente
Que, primeiramente, a extensão havia sido uma katana
E que a senhorita estava sobre os joelhos quando se esvaeceu.
Puxada da altura da cintura,
Para fora de sua bainha,
Cortando horizontalmente o ar
Até que este se esgotasse
E a carne fosse, por fim, uma resistência física
Ao braço que se estendia através da lâmina.
Agora vemos o ato final de um samurai que visa purificar sua alma
Provavelmente, limpa sua lâmina,
O sangue tende a manchar se deixado sobre o material,
Embainhou-a, e pôs em sua frente.
Posicionou-se em frente à janela
Onde podia ver a cerejeira,
O símbolo derradeiro de autodestruição,
Aquilo que se tornou belo,
Mas desgastou-se até cair em uma completa ausência
E que, por fim, caiu inerte sobre o chão.
Desembainhou seu tantô,
Ergueu-o com os braços,
Cumprimentou-a como
Quem diz “olá”
Para uma velha amiga
E também um “adeus”
Para quem encerrará sua vida.
Posicionou a lâmina
Encostando-a em seu corpo,
Um último e sutil toque antes do fim...
Um último inspirar profundo...
Cravou-a em seu abdômen,
Puxou-a enfurecidamente na horizontal
Até que tocasse o lado oposto do corpo,
Retirou a lâmina enquanto seu sangue jorrava
E suas vísceras tornavam-se visíveis,
Enfiou-a novamente,
Mas desta vez,
Posicionada verticalmente,
Transpassando o primeiro corte
Unicamente em seu umbigo.
O ritual estava finalizado,
Não merecia a decapitação,
Sofreria até seus últimos instantes
E teria sua alma purificada
Em seus derradeiros momentos de dor,
Já sofrera tudo que poderia impor a si mesmo.
Sua calma agora era inata,
Sua alma, límpida
E sua vida, finada.