Lobisomem
Amara Helena
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 05/03/16 15:41
Editado: 19/03/16 18:37
Tags: Lobisomens
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 5min
Apreciadores: 9
Comentários: 5
Total de Visualizações: 2030
Usuários que Visualizaram: 25
Palavras: 619
[Texto Divulgado] "Desejo Insano — Versão Hot" No camarim número 6, entre espelhos quebrados e fantasias rasgadas, Rafael ainda veste a pele do monstro — literalmente. Quando Dênis, o produtor, entra no recinto, o que começa como provocação teatral se transforma em um ritual de instintos primitivos. Desejo Insano é um conto de terror queer onde o medo e o desejo se confundem, e o palco se torna território de caça. Quando a luz apaga, não há mais personagem — só carne, suor e pulsação.
Não recomendado para menores de dezoito anos
Notas de Cabeçalho

Na real, o título original era ''Lobisomens têm medo de raios'', mas eu não queria mudar o nome na capa q

Capítulo Único Lobisomem

‘’Dizem que matar um animal não é pecado, mas um homem sim.

Contudo, aonde começa um e termina o outro?’’

Gwen – O Lobisomem

A lua cheia ascendia ao céu negro, mostrando-se formosa e forte em seu esplendor platinado. Passos pesados, mas cautelosos, caminhavam sobre a grama molhada, enquanto os sons tenebrosos vindos da floresta densa e úmida arrepiavam ouvintes temerosos e assombrados. A tempestade, cuja uma hora atrás era impiedosa, cessara, dando espaço para as criaturas noturnas – que não se atreveriam, de modo algum, caçar com trovejos fatais – fazerem suas vítimas livremente.

O clima era desoladora para qualquer viajante que tivesse que cruzar a mata, ainda mais para a assustada típica mãe viúva chamada Elisa. Quando em casa, ouvira um barulho alto e rouco vindo de fora. Pela janela, de supetão, vira uma sombra se locomovendo em uma velocidade assombrosa em linha reta. Com isso, saíra para o quintal. O medo fez-se presente, mas o instinto protetor materno sobressaíra-se ao sentimento que se mostrará perdurável. Posteriormente, a criatura misteriosa a atacara, obrigando a correr.

E então, começara a perseguição.

...

Presentemente, Elisa encontrava-se descansando sobre um tronco derrubado. Sua respiração, ofegante e trêmula, denunciava os quilômetros que percorrera; entrementes, as lágrimas constantemente derrubadas demonstravam o pavor, tanto pela ameaça à sua vida, quanto às dos filhos que deixara. O monstro nem se quer dera as caras, o que fazia a mente da mulher vagar por campos demasiados horrorosos para uma mãe. Imaginara a caçula jogada no chão cinza, a barriga pálida à mostra, os olhos arregalados de terror, as feridas visíveis de garras enormes em todo corpo, as roupas rasgadas e...

Seus pensamentos foram interrompidos por um quebrar de galho seco perto dela. Sobressaltara-se, levantando-se e agarrando com força um pedaço de pau morto. Não era a melhor arma, ela tinha consciência disso, contudo, era a única que podia encontrar por lá. Se seu marido estivesse com ela, afugentaria a fera como um bom cavaleiro protegendo sua donzela.

Se ele estivesse, claro.

Afastando qualquer distração, Elise se concentrou em ouvir as pisadas céleres na terra. A clareira em que se metera não era extensa o bastante para a criatura ficasse longe da mulher. Não, era bem pequena, e o monstro aproximava-se de modo fugaz.

De repente, um raio caiu próximo aos dois, e então, a viúva pôde ver de relance a verdadeira face da fera: o rosto era afilado, revelando um focinho repleto de pêlos negros e ásperos; a boca, naquele momento aberta, era cheia de dentes afiados, grossos e amarelos; o olho vermelho vivo e as pupilas dilatadas, gritavam o desejo imenso da criatura por sangue e carne relativamente jovem.

O monstro era horrendo.

Assustada, gritou pedindo socorro, enquanto corria. Contudo, o cansaço tentava vencê-la, de modo a querer deixá-la caída. Alguma parte dela, talvez a racional, já tinha aceitado o fato de que não havia mais escapatória e sua morte era certeira, portanto, apenas queria deixar seu vestido rodado tocar a terra molhada da floresta.

Mas não, seu instinto de sobrevivência era mais forte. Elise nunca fora uma mulher movida ao racional, e sim, ao emocional e ao instintivo, tal qual a criatura que a perseguia.

Entrementes, o lugar ia ficando silencioso, como se tentasse escutar qualquer mínimo ruído que ousasse irromper a tranquilidade da mata. E então, um barulho estrondoso atreveu-se, corajosamente, como um herói honrado entrando em uma cena de luta.

Posteriormente, tudo cessou, menos a tempestade que voltara vitoriosa e gloriosa. A Lua, escondida pelas nuvens carregadas, fazia-se de tímida, igualitária às crianças sem mãe numa casa escura e fria.

‘’Mas tudo irá passar’’, dizia a sábia irmã mais velha dos pequeninhos, conhecedora do destino de todos assim que ouvira o herói orgulhoso e triunfante.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Sabe quando tu escreve na pressa? Então, foi este o caso desta vez.

Vai ser bem pequena :D Agora quero ver quem consegue interpretar :D

Beijosss

Apreciadores (9)
Comentários (5)
Postado 05/03/16 16:06

a-do-ro

Postado 19/10/16 16:40

Que bela história. Muito bem escrita.

Postado 19/01/17 19:57

Wow! Amei essa frase do início, é fantástica! Vou roubar, hehe

Eita, que história! Achei bem interessante, principalmente por causa do suspense. Aqui vai meu palpite: o herói é o trovão/raio?

Você escreve bem, estou curiosa para ver seus outros textos do mesmo assunto :3

Postado 19/01/17 19:58

Ah, só uma coisinha: você chamou a personagem de Elisa duas vezes, e de Elise mais duas outras vezes, hehe

Postado 07/08/20 00:57 Editado 07/08/20 00:58

Adorei! Sua escrita é perfeita, tem uma descrição de cenários incríveis! Parabéns!

Postado 26/08/25 10:49

Esse conto me pegou de jeito. Senti como se estivesse ali, correndo com Elisa, sentindo o peso do medo e da saudade, o cheiro da terra molhada, o som da floresta que parece respirar junto com a gente. A autora não escreveu só uma história de lobisomem — ela escancarou o lado mais cru da sobrevivência, aquele que mora dentro de nós, mesmo quando fingimos que não.

Elisa não é só uma mãe. Ela é todas as mães que já enfrentaram o impossível por amor. Ela é instinto puro, carne viva, coragem que nasce da dor. E o monstro... talvez ele nem seja o vilão. Talvez o verdadeiro horror seja o que acontece quando a gente perde o que nos torna humanos.

O final me deixou com um nó na garganta. A irmã mais velha, tentando acalmar os pequenos, me lembrou da minha infância, dos abraços que salvavam noites ruins. Me lembrou do meu gato, que deita no meu peito quando o mundo parece demais. Porque no fim, é isso: mesmo quando tudo desaba, o amor é o que segura a gente.

Esse conto não é só sobre medo. É sobre o que resta quando o medo passa. E isso... isso é profundamente humano.

Outras obras de Amara Helena

Outras obras do gênero Ação

Outras obras do gênero Crítica

Outras obras do gênero Drama

Outras obras do gênero Erótico ou Adulto