Aqueles caçadores. Todos querem caçar minhas pernas e braços.
Ah, caçadores! Ah, caçadores!
Eles gostam de caçar em domingos ensolarados, na época de verão. Mas eles esquecem que sou amante do sol. Vejo através das árvores suas balas, atravessando cada centímetro de madeira.
Eles chamam meu nome, em vão.
No fim do dia saem de mãos vazias. “Até logo, amor”, eles dizem.
E assim passam-se décadas e mais décadas. Milênios e mais milênios.
As árvores crescem, a água brota entre as pedras.
Ah, caçadores! Ah, caçadores!
Suas raizes são muito grossas e estruturosas. Parece algo divino.
Felizmente posso voar com meus olhos, vejo tudo, vejo além da falsidade.
Eu posso voar sem tirar os pés do chão. Minhas raizes são mais profundas que as deles.
São tão fundas que atravessam a terra e rompem o céu pelo outro lado.
Eu sou livre da doença, e não da peste. Isso é perigoso demais, é uma emoção muito forte. Permaneço livre até agora e assim permanecerei.
Ah, caçadores! Façam de tudo. Quebrem as tábuas, ateiem fogo onde quiserem, estimulem a rebelião. A minha vida não será perdida, ela transcende a noite e o dia. O meu amor é cabalístico, assim como a música que toco.
Meu piano continuará a ressoar, até os caçadores retornarem. Demore o tempo que for, eu estarei lá. Em todos os lugares, em todo o tempo.