Ato único de uma noite qualquer
Giordano
Tipo: Lírico
Postado: 14/03/16 21:20
Editado: 13/08/16 14:23
Avaliação: 9.33
Tempo de Leitura: 2min
Apreciadores: 18
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Palavras: 324
[Texto Divulgado] "O Jarro De Carne" O recém formado doutor Haward, inicia sua jornada de trabalho ao lado de seu mentor. Juntamente com sua equipe, ele inicia um experimento que mudara, para sempre, o futuro da humanidade.
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Notas de Cabeçalho

"...Que sol! que céu azul! que dove n'alma

Acorda a natureza mais loucã!

Não me batera tanto amor no peito,

Se eu morresse amanhã!..."

Se eu morresse amanhã! - Álvares de Azevedo

Capítulo Único Ato único de uma noite qualquer

Moça, fica mais alguns segundos,

Deixa que eu me perdure perante teu riso,

Deixa-me bagunçar teu cabelo, fio a fio,

Neste nosso infinitésimo tempo,

Façamos do limbo um segundo,

Quando, no encontro de nosso lábios,

O coração bater irrefutável,

Leve tal qual pluma.

(*)

Moça, não vai agora,

Inunda minha memória com mais um momento,

Para o relógio, só por esse momento,

Faz escarro de só mais uma piada minha,

Retribui meu abraço, não deixa meu peito tão vago,

Rebobina a fita! Ainda dá tempo!

Só mais um suspiro, qualquer acontecimento...

(**)

Moça que foste tão cedo,

Levaste contigo minha alma e sossego,

Levaste minha calma, peço arrego,

Levaste metade do que eu era,

Do que eu já fui, já tivera,

Moça que tanto amei,

Que de tanto querer e cuidar,

Envolveu-me e dividiu,

Criou-me essa casca que vive por ti a um fio.

(***)

Moça de quem me tornei metade.

Agora, a metade minha que já não há,

Chora por dentro da carne,

Dilacera-se e se corrói perante tal sina,

Ser um inteiro de quem não és

Ou destonar-se de tamanha vil realidade,

Dessa tristeza e desconserto,

Apesar da mocidade,

Apesar de tão curta vida,

Tão cheia de amarguras,

Tão profana e tão ferida.

(****)

Moça, hoje o céu está encoberto

Espero ansiosamente pela chuva,

Quando as gotas mais densas

Estiverem confrontando o asfalto,

Cobrirei, eu, a esse de vermelho,

Entre minhas vísceras e fluidos sobre o chão,

A chuva não parecerá tão forte e em vão.

(*****)

Hoje o dia está belo, moça,

Hoje, apesar de abrupta,

A queda não parece tão profunda,

Apesar da vista tão linda,

Do alto deste prédio,

O resto do mundo me melindra.

(******)

O dia está deslumbrante, moça,

As nuvens encobrem os raios

Que me incomodavam o rosto,

A claridade se esvai rapidamente,

As pontas do sol putrefato que

Impedem a escuridão

Aumentam minha expectativa,

Aproximo-me do clímax...

(*******)

O dia já anoitece, moça,

E esta noite, hei de ir dormir com ele.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Obrigado por ter chegado até aqui! ^^

Apreciadores (18)
Comentários (13)
Comentário Favorito
Postado 30/03/16 00:50

Queria poder escrever um comentário digno comparado com a beleza e pureza contida em cada verso desse lindo poema. Este sem dúvida foi a melhor obra que li no desafio, e você não tem noção do quanto me sinto plenamente satisfeita. Vale ressaltar antes de mais nada que o poema em si me lembrou muito da música Amianto, do Supercombo, então é capaz de eu interligar um pouco as duas coisas no meu comentário.

Ao ler a primeira vez, para os leigos de plantão, em nada parece similar ao tema felicidade mórbida. Mas é exatamente o que acontece quando nos deparamos com uma genialidade fora do comum e lemos como um texto qualquer, sem nos aprofundarmos em cada verso, sem enxergar os sentidos ocultos. Então vamos por partes:

A primeira estrofe é como um aviso do que iríamos nos deparar: um amor demasiado que foi interrompido por uma simples ironia (na qual citarei mais tarde). No decorrer do poema a ideia é clara sobre os sentimentos do eu-lírico pela sua amada; coisas simples como as risadas ouvidas, o bagunçar dos fios, o reencontro dos lábios. E o apelo a partir da segunda estrofe é de doer o coração: pare o tempo, não é tarde demais, ainda é cedo pra esse amor terminar.

E claro, está mais do que óbvio o que se seguiria: a morte de sua amada (que ocorreu em circunstâncias misteriosas) foi o clímax para o suicídio do eu-lírico. O vermelho manchado no chão é o motivo da qual a visão de cima de um prédio é animador. Afinal, essa queda era apenas um novo passo para, talvez, se reencontrar com a sua amada.

E sobre a ironia? A morte foi a vilã, pois tirou a amada de seus braços, mas também foi sua amiga, a sua salvação, pois somente ela o traria de volta à sua felicidade em estar novamente com a sua amada, mesmo que em outro plano, mesmo que talvez esse plano não exista.

O que mais? Eu amei o jogo de palavras, principalmente aqueles existentes na última estrofe. Se você for metaforizar (e não sei se foi essa a sua intenção), o dia claramente é sinônimo da vida, da beleza, das cores fortes, e a noite torna-se a morte, tão fria e obscura quanto o próprio céu. Talvez, só talvez, por isso ele adormece com a noite. Pois assim como o dia termina, a sua vida também chega ao fim.

Meus sinceros parabéns pela brilhante obra!

Postado 30/03/16 10:10 Editado 30/03/16 10:11

Moça, da malévola, cê ñ tem nada, um amor de pessoa :3

Eu já havia ouvido Amiato de Supercombo, mas não foi minha ideia relacionar os dois por um simples motivo, em Amiato, a pessoa que tem a intenção de pular está claramente em exitação durante toda a música, ela não quer acabar a vida dela, mas sente como algo necessário, isso fica bem claro para mim no desfoque e ,posteriormente, o enfoque dado na rua, nas pessoas, carros. Eu creio que se eu tive inspiração de alguma música foi de 'Oitavo andar - Clarice Falcão', na qual fica muito mais evidente o sentimento de contentamento em juntar-se com a pessoa amada em morte. O motivo de ele esperar o poema todo para jogar-se não é exitação, mas a procura pelo momento perfeito.

Nas últimas estrofes realmente tentei realizar essa associação vida - dia, noite - morte, por isso tentei descrever a claridade como algo que era insuportável e de beleza alguma para ele.

É isso aí, acho que você entendeu tudo que tinha a entender, quem sabe um pouco mais hahaha ^^

Postado 05/09/16 13:44

Relembrando essa delícia de comentário! <3

(Teu nick na época era malévola)

Postado 06/09/16 15:43

♡ ♡ ♡

Postado 14/03/16 22:42

Jesus, cara. Sei lá.. é complicado comentar. Tá muito bom. Como já comentei, teus textos costumam ser de um gosto extremo. Parabéns e sucesso!

Postado 15/03/16 13:16

Seu jeito te escrever me alucina...não consigo definitivamente escrever algo assim. parabéns...

Postado 15/03/16 13:37

^^

Obrigado xD

Ah, não diz isso, posso atestar que você escreve coisas ótimas!

Postado 15/03/16 22:44

Eu não sei nem o que dizer, fico com medo de ter interpretado errado '-' pra falar a verdade estou com medo de dizer qualquer coisa, está tão majéstico que os dedos simplesmente tremem em cima do teclado e... céus.

Queria ter essa sua riqueza de vocabulário, você consegue deixar um texto quase sair da tela por causa das disposição das palavras *-* eu consegui sentir o sentimento do eu-lírico ao se entristecer com o amor e tirando sua vida devido ao vazio que o mundo se tornou depois de perder o que ele mais adorava, foi intenso.

Na última parte, porém, o "ele" se refere ao dia? Eu entendi que o personagem "adormece", mas adormecer junto com o dia... meu deus, nem sei mais o que pensar, me pergunto por quê a moça não quis ficar mais com ele.

Um abraço, senhor, vou me aventurar em mais textos seus quando o sol raiar ^^

Postado 15/03/16 22:56

Uau, muitíssimo obrigado ^^

Respondendo sua pergunta, sim, "ele" na última estrofe refere-se ao dia. A moça morreu antes dele, triste, não? : /

É uma espécie de carta suicida para uma pessoa com quem ele se reencontrará, o motivo de ele não querer estar mais neste mundo é ela não estar lá.

Postado 15/03/16 23:14

Ah, eu não pensei que ela tivesse morrido '-' imaginei que ela o tinha deixado por algum fator como mudança de cidade, ou luto por algum familiar, ou o amor desvaneceu... isso deixa o poema ainda mais triste.

Esse tema é realmente muito reflexivo, não é? Mesmo que eu entenda que a morte aqui serviu como caminho para ele ver sua amada novamente, essa mesma morte a tirou dele, e imagino que a moça não tenha se entregado de bom grado a essa figura ;w;

Postado 15/03/16 23:48

Pensi nisso enquanto tava escrevendo,"poxa, que ironia louca procurar a pessoa naquilo que a tirou dele", mas acho que isso é a vida até seus momentos finais, um bocado de ironia que ou a gente aprende a conviver com elas ou vive se perguntado o motivo.

Postado 21/03/16 20:21

Uma pessoa acaba azeda a ler estas coisas. Eu quando li achei que ela apenas tinha ido embora, tipo "foi bom enquanto durou" e foi embora. Mas falar em vísceras e vermelho lavado pela chuva, dá a entender que algo lhe aconteceu num dia cinzento, um acidente de carro ou uma bala perdida. Algo do género. E o moço não soube lida com a cor do chão ou com a falta dos risos dela e tentou do seu jeito lidar com isso. E entristece-me profundamente que uma pessoa não consiga ver que a melhor razão para se viver é ela mesma.

Postado 21/03/16 21:44

"... E entristece-me profundamente que uma pessoa não consiga ver que a melhor razão para se viver é ela mesma."

Não há uma afirmação que eu concorde mais do que esta sua. ^^

Postado 22/03/16 15:27

Ainda bem que temos ideias parecidas 8D

Postado 23/03/16 14:18

UAU! Com toda a certeza já venceu o desafio!

Postado 23/03/16 14:22 Editado 23/03/16 14:24

Que nada, moça. hahaha

Muitos textos bons ^^

Obrigado pelo comentário. xD

p.s.: Inlusive o seu :D

Postado 27/03/16 10:10

Estupefata seria a palavra certa? Acho que não, mas depois de tantas contidas nesse texto, de forma ritmica, de forma deslumbrante, de forma.. Estupenda! Meu Deus, que profundidade, que... Tudo. Eu tô totalmente sem palavras, só.. Você é genial!

Postado 27/03/16 10:15

(respira) kkk

Obrigado ^^

Um pouco (tipo, muito mesmo) de exagero da sua parte nessa exclamação final. xD

Postado 28/03/16 17:04

É muito lacre pra um jovem só. Parabéns por vencer o desafio!

Postado 28/03/16 17:27

Já deu com esse troço de lacre, né? kkkk

Obrigado, senhorita da menção honrosa.

Postado 04/05/16 02:34

Irei reler esse texto até... ?! Favorito (se é que posso fazer essa distinção).

Postado 04/05/16 09:26

Obrigado! ^^

Postado 31/07/20 18:58

Quanta tristeza e beleza juntas nesse poema!

Tudo é tão melancólico, ao ler me deixou quase a beira das lágrimas, e a frase final foi a mais tristemente linda e perfeita.

Dormir igual o dia... Isso foi de uma sensibilidade indescritível...

Como tudo que você escreve, moço Giordano, está perfeito!!!

Um grande abraço da Meiling!!

Postado 11/09/20 18:59

Nem sei o que dizer, seu poema tem uma mistura perfeita de desespero, fogo, paixão e angústia que faz o leitor verso após verso ficar numa expectativa...

Postado 21/10/20 20:08

Caramba, Gio, como que posso tecer um comentário depois de ler essa obra? Impossível... Foram tantas emoções sentidas ao mesmo tempo... Esse poema é perfeito em todos os sentidos dessa palavra.

Obrigada por compartilhar conosco!

Parabéns, Gio ♥

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