Moça, fica mais alguns segundos,
Deixa que eu me perdure perante teu riso,
Deixa-me bagunçar teu cabelo, fio a fio,
Neste nosso infinitésimo tempo,
Façamos do limbo um segundo,
Quando, no encontro de nosso lábios,
O coração bater irrefutável,
Leve tal qual pluma.
(*)
Moça, não vai agora,
Inunda minha memória com mais um momento,
Para o relógio, só por esse momento,
Faz escarro de só mais uma piada minha,
Retribui meu abraço, não deixa meu peito tão vago,
Rebobina a fita! Ainda dá tempo!
Só mais um suspiro, qualquer acontecimento...
(**)
Moça que foste tão cedo,
Levaste contigo minha alma e sossego,
Levaste minha calma, peço arrego,
Levaste metade do que eu era,
Do que eu já fui, já tivera,
Moça que tanto amei,
Que de tanto querer e cuidar,
Envolveu-me e dividiu,
Criou-me essa casca que vive por ti a um fio.
(***)
Moça de quem me tornei metade.
Agora, a metade minha que já não há,
Chora por dentro da carne,
Dilacera-se e se corrói perante tal sina,
Ser um inteiro de quem não és
Ou destonar-se de tamanha vil realidade,
Dessa tristeza e desconserto,
Apesar da mocidade,
Apesar de tão curta vida,
Tão cheia de amarguras,
Tão profana e tão ferida.
(****)
Moça, hoje o céu está encoberto
Espero ansiosamente pela chuva,
Quando as gotas mais densas
Estiverem confrontando o asfalto,
Cobrirei, eu, a esse de vermelho,
Entre minhas vísceras e fluidos sobre o chão,
A chuva não parecerá tão forte e em vão.
(*****)
Hoje o dia está belo, moça,
Hoje, apesar de abrupta,
A queda não parece tão profunda,
Apesar da vista tão linda,
Do alto deste prédio,
O resto do mundo me melindra.
(******)
O dia está deslumbrante, moça,
As nuvens encobrem os raios
Que me incomodavam o rosto,
A claridade se esvai rapidamente,
As pontas do sol putrefato que
Impedem a escuridão
Aumentam minha expectativa,
Aproximo-me do clímax...
(*******)
O dia já anoitece, moça,
E esta noite, hei de ir dormir com ele.