As mãos estavam encharcadas pelo sangue. A respiração descompassada denunciava que havia feito muito esforço. Os braços não tinham mais forças para erguerem-se e as pernas estavam tremulas. Era a própria visão do horror. As roupas estavam rasgadas, o cabelo estava completamente despenteado e sujo. Vivia o caos. Era o Caos. Havia uma coisa, entretanto, que chamava atenção em meio a todo aquele amontoado de sujeira, sangue e ossos: O sorriso. Sua face estava serena e um sorriso carinhoso ornava os lábios.
Amara finalmente havia encontrado sua paz. Depois de dias, meses, anos em busca daquele ser deplorável, finalmente havia conseguido. Ela, apenas ela, havia vingado o seu amigo, e da forma mais justa que conseguiu. Primeiro tratou das orelhas com um corte diagonal e pouco preciso, depois focou os braços e as pernas. A faca não foi suficiente, precisou usar martelos, marretas, serras e até mesmo um tijolo, para ajudar a esmagar aquela podridão que habitava a terra em forma de mulher asiática de meia idade.
Repetiu cada passo repugnante que a mulher fez com seu precioso amigo. Cada corte, cada soco, cada grito. Repetiu as mesmas palavras. Repetiu. Repetiu.... Amara assistiu ao vídeo da tortura por todo o tempo em que caçou a monstruosidade que atendia pelo nome de Angel. Sabia até mesmo os minutos, os segundos, os milésimos de segundos. Sabia o tempo exato que Angel levou em cada parte do corpo de seu amigo, mas Amara não fez no mesmo tempo, não, longe disso! Amara queria o melhor ou o pior para Angel. Demorou duas, três, quatro, vinte vezes mais. Cuidou para que os objetos estivessem prontos para aguentar, que não estivessem afiados além da conta e tratou de manter seu alvo vivo pelo máximo de tempo possível. Ela queria que fosse doloroso, por cada dia que passou caçando, por cada lágrima que derramou, por cada noite em que a cama de seu amigo esteve vazia.
Angel não percebeu o que estava acontecendo até se encontrar amarrada, acorrentada, amordaçada. Usava uma focinheira. A mesma focinheira que usou para não ser mordida. Ela não sabia pelo que estava sendo castigada, mas aquele era o menor dos problemas. Sentia dores excruciantes em partes de seu corpo que nem ao menos sabia que existiam. Ela não conseguiu formular qualquer pensamento. Amara não lhe deu tempo, assim como ela própria não havia dado tempo ao amigo da outra.
Amara havia conseguido sua justiça, Angel seria um demônio a menos na terra, e por mais que soubesse que seu ato de justiça não poderia trazer seu amiguinho de quatro patas de volta, ela poderia finalmente deitar em sua cama e dormir; sonhar com um mundo em que seu precioso cachorrinho correria para os seus braços, livre da crueldade humana, e lamberia seu rosto.
Amara poderia sonhar, mas antes ela precisaria de um banho.