Tudo O Que Não Fomos
Sabrina Ternura
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 16/08/20 16:04
Editado: 27/08/20 23:21
Avaliação: 10
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 7
Comentários: 6
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Palavras: 362
[Texto Divulgado] "O Jarro De Carne" O recém formado doutor Haward, inicia sua jornada de trabalho ao lado de seu mentor. Juntamente com sua equipe, ele inicia um experimento que mudara, para sempre, o futuro da humanidade.
Não recomendado para menores de dez anos
Notas de Cabeçalho

“Eu me trabalho pra ser otimista,

Mas se eu brinco de ir embora 'cê me deixa ir.

Será que eu sou a melhor coisa da tua vida, ou

Só o melhor que você conseguiu até aqui?

(Enquanto Me Beija - Jão)

Capítulo Único Tudo O Que Não Fomos

Existe um legado de tragédia em nós. Desde o início, ambos estavam destinados a partir, mas não queríamos ver. Afogar nossas mágoas em beijos e noites de paixão era muito mais importante do que visualizar a catástrofe emocional iminente que estava perante nossos olhos.

Tudo era importante.

Menos nós mesmos.

Tentamos viver essa mentira por dois anos, sendo que com dois dias de existência essa nossa peça teatral chamada Relacionamento já era o maior fiasco da história das artes cênicas. Eu nunca fui boa em atuar. Você nunca foi bom em mentir.

Não nascemos para os palcos.

Muito menos um para o outro.

Eu te beijava de olhos abertos e via ela refletida em suas pálpebras completamente fechadas. Eu te abraçava e as batidas de seu coração urravam pela presença dela. Eu segurava a sua mão e seus dedos tratavam a minha como um corpo estranho e invasor, pois aquela não era a superfície de contato compatível com a sua. Eu gemia seu nome baixinho no pé do ouvido e seu corpo se contraia de dor em resposta, pois aquela não era a voz que você sentia prazer.

Eu não era ela.

Você não era dela.

Você é ruivo, magro e sua voz é estranhamente fina. Eu odeio o barulho que você faz quando mastiga bolacha. Suas roupas são desgastadas. Você nunca lembra do meu aniversário. Odeio sua mania de fazer barulhos enquanto pensa. Você é desorganizado. Seu corpo parece uma casca vazia que emana dor e solidão.

Você é tudo o que eu não quis.

Você é tudo o que eu sou.

Nossa única igualdade encontra-se na auto-sabotagem. Nós dois queríamos esquecer bebendo da fonte errada. Você achou que esqueceria a minha irmã morta namorando comigo. Eu achei que continuaria te amando estando ao seu lado. Nós somos um amontoado de erros e nada de bom poderia derivar disso. Abrimos ainda mais nossas feridas, sem dar a elas tempo de recuperação. Nos tornamos dois fudidos e por isso decidimos encerrar nosso falso compromisso.

Você nunca esqueceu ela.

Eu nunca vou esquecer você.

Eu te amo, mas sou completa sem você.

Nós não fomos feitos para ficar.

Muito menos para nos amar.

❖❖❖
Apreciadores (7)
Comentários (6)
Comentário Favorito
Postado 16/08/20 19:48

Eu senti a dor do começo ao fim, mas há um alívio oculto no final do texto. É extremamente doloroso amar alguém que não nos ama; é extremamente doloroso estar com alguém sabendo que não é recíproco. Li o texto ouvindo a música do Jão, e nossa, eu terminei a leitura com um aperto no peito enorme.

A desistência da protagonista é palpável, e talvez não por falta de tentativas, acho até que foi o contrário: muitas tentativas em algo sem futuro; um poço de desilusão e dor, para ambos. Em primeiro momento afogar as mágoas no outro parece uma ideia boa, não? Ela amava ele, ele sentia falta da irmã dela (e por consequência, há traços similares que o faz lembrar). Todavia, qual a probabilidade disso ser um erro?

Nós sabemos a resposta. E acompanhamos a nossa protagonista saber também.

Ela não deixará de amá-lo, mas nunca será ela.

Ele nunca esquecerá ela.

Continuar em um relacionamento tóxico dessa forma é morrer aos poucos a cada dia. E realmente, ela é completa sem ele.

Parabéns pela obra ♡

Postado 16/08/20 20:04

É sempre um deleite ver o quão atenta você é com a leitura. Fico muito feliz que as ideias tenham sido passadas com clareza e a mensagem de não se entregar a um relacionamento tóxico, tenha ficado bem clara.

Obrigada pelo comentário lindo e pela doce presença, Pãozinho ♥

Postado 16/08/20 16:45

Senhorita!! Mas que espetáculo temos aqui!!!

Como descrever o emaranhado de sentimentos que invadiram meu peito com essa leitura? Não sei dizer se amo mais os textos sanguinolentos ou os textos tristes, ambos estão disputando o primeiro lugar em meu coração!

Cada frase foi uma facada bem dada no leitor, que vai se entristecendo junto com a narradora, e se perguntando como o casal deixou que as coisas ficassem assim. Ou melhor, como eles sequer puderam começar algo assim.

Eu amei completamente as palavras que abrem o texto, "existe um legado de tragédia em nós", a alma ficou até arrepiada com essas intensas palavras de abertura!!

Tudo foi lindo, no sentido de lindamente triste, e eu amei demais!!

Muito obrigada por escrever essas preciosidades, Brina <3

Um grande abraço <3 <3 <3

Postado 16/08/20 20:03

Fico muito feliz que esse texto tenha te agradado, amiga! É sempre um prazer poder fazê-la feliz!

Obrigada pela presença adorável e comentário encantador, Mei ♥

Postado 31/08/20 07:08

Primeiro, eu queria dizer que me senti um pouco enganada - de um jeito bom. Eu imaginei tudo quando comecei a ler, menos o que realmente era.

São palavras tristes e dolorosas que batem na alma e te fazem refletir sobre a vida e as escolhas ao longo dela. A poesia do seu texto é simplesmente incrível.

Parabéns!

Postado 02/09/20 14:52

A intenção era enganar mesmo!! KKKKKKKKK nem eu esperava por esse final quando escrevi. Fico muito feliz que tenha capturado a ideia de maneira tão certeira.

Obrigada pela presença e pelo comentário, Flavinha

Postado 09/09/20 20:36

Nossa, excelente!

Ao ler seu poema somos capazes de sentir o vazio e a dor de um relacionamento sem amor!

Ao final se sente uma imensa tristeza e vontade de chorar, é como se fôssemos tomados pela dor da personagem.

Obrigada por compartilhar conosco!

Postado 09/09/20 23:56

Me encanta muito saber que consegui transmitir tais sentimentos!

Obrigada pelo comentário e presença, Monise

Postado 30/10/20 11:25

Eu consigo entender desgraças mas não infelicidades cotidianas. Isso me deprime ao mesmo tempo que me faz perceber que existem coisas no mundo impossíveis de se alcançar. Não consigo entender esse emaranhado de emoções, sentimentos e sensações. Entendo a narrativa, mas não seu significado maior. Não consigo sentir.

Outro ótimo texto. Enxergo isso mesmo não o "sentindo".

Postado 31/10/20 17:24

Fico feliz que tenha gostado.

​Obrigada pela presença e comentário ♥

Postado 18/11/21 15:33

Cara, o plot desse texto derruba qualquer um, além dos muitos sentimentos que saltam da narrativa.

Excelente como sempre, meu amor. Parabéns :)

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