Ah, minha progenitora... Como sou grato a ela...
Eu lhe rasgo o útero internamente em um piscar de olhos. Sigo retalhando-lhe as entranhas rumo ao coração para enfim o abocanhar. A freira urra a plenos pulmões e ao prantos: é o desastroso final de doze meses de gestação do filho gerado sem sexo nem pai... E que mudará toda a vida na Terra. Mil padres soluçam enlouquecidos demais para continuarem a ladrar suas inúteis frases em latim enquanto eu, o infante, gargalho recoberto por pedaços de minha própria mãe. Uma cúpula da mais absoluta escuridão surge e se expande agressivamente igreja afora.
O mundo será um lugar infinitamente pior agora, com o renascimento de algo muito mais antigo que qualquer deus ou demônio existente neste Universo. Conforme o meu riso hediondo ecoa tão alto e terrível que estilhaça vitrais e tímpanos com a mesma facilidade, eu, recém-nascido, violo a mim mesmo com uma das minhas pequenas mãos, enquanto com a outra entalho palavras imemoriais de poder e de autoridade em minha própria carne.
Ao término do retalhamento, minha mão se incendeia com a energia monstruosa e crescente da Pura Doença que me habita e representa. A fina película da realidade se distorce e estilhaça a cada gota de sangue e a cada morte neste recinto não mais sagrado ou mesmo cristão, pois uso tudo e todos (incluindo a mim) como ritual e portal para As Abominações que espreitam nas Trevas do Cosmo em busca de uma oportunidade para ressurgir em uma Existência indefesa.
Tudo graças ao rebento maldito e imensuravelmente poderoso que estava antes do Alpha e ainda estará após o Ômega. À coisa cósmica e sombria que era, é e será, vociferando os nomes dos novos senhores de um pobre planeta e sua desesperada população. Àquele que, sendo a chave, também se tornou o portão mesmo que sempre tenha sido o guardião de tal entrada desde o ventre materno.
Graças a mim.
Em meu nome, eu grito: que nunca mais haja luz!
E assim será.
Assim será!