Nascida no início dos anos 20, Mathilde queria o amor de sua mãe. Mas sua mãe, Valéria, era uma mulher muito apática, completamente indiferente à maternidade. Chegava até mesmo a desprezar a própria filha.
De bebê, sua mãe lhe negava o peito. De criancinha, negava-lhe brinquedos. De criança negava-lhe brincadeiras. De adolescente negava-lhe compreensão. De adulta lhe privou de encontrar o amor. E no final de tudo, lhe privou de receber sua herança, a deserdando.
Desde sempre lhe negou qualquer forma de afeto, carinho ou amor.
A pobre coitadinha desde nova já era morta por dentro. Sem vida alguma, apenas um poço de tristeza e solidão. Já tinha quase 70 anos quando sua mãe faleceu a deixando sem 1 real para comer. E durante todo esse tempo, Mathilde implorou pelo amor da mãe.
Mesmo depois de finalmente morrer, aos 94 anos, Mathilde continuou vagando por aí, como uma criatura tristonha e medonha, semelhante a um ácaro gigante, feito de ossos e pelos nos braços que se assemelhavam a aranhas, com sua miserável face no lugar no coração, bem no meio do peito.
Vaga querendo amor, mas só conseguindo causar medo em quem ela se aproxima durante as tristes noites frias.