Meninos e meninas são diferentes
Nilton Victorino Filho
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 14/11/20 14:52
Gênero(s): Cotidiano
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
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Palavras: 489
Livre para todos os públicos
Capítulo Único Meninos e meninas são diferentes

E, se engana quem pensa que é função dos avós educar os netos, educar os filhos já foi um serviço desgastante, ver os filhos desobedecendo a tudo e dando certo na vida, nos faz ver que a vida vai mesmo é com desarmonia. Quando fomos pais, carregávamos o fardo da responsabilidade de, sem saber o resultado, dar o nosso melhor pra não falhar, envelhecemos e descobrimos que não precisava ser tão duro, de um jeito mais tranquilo se conseguiria o mesmo resultado. Tornamo-nos avós, quando temos a tranquilidade da visão longa e todo o carinho que faltou aos filhos, os netos ganham com juros e correção.

Portanto, nossa função é ensinar aos netos a fazer foleragem, ver um neto arremessando uma pedra ou subindo numa árvore, tem o mesmo peso de um diploma do filho.

Nessa batida, ensinei meu neto Miguel a jogar dominó, não aquele ensinamento didático, de regras e tudo mais, aquela coisa chata de escola, ensinei como o dominó é jogado nos bares, olho no olho, gritando, contando pedras, blefando e xingando o adversário.

É da natureza dos meninos, essa competitividade sadia, aprendeu comigo e desafiava o pai, depois de certo tempo, passou a bater no pai e a chama-lo de marreco.

Uma tarde simulei uma aposta, usamos as notas falsas do Banco Imobiliário começamos as partidas, quando ganhava gritava pra comemorar, quando perdia alegava que havia sido roubado. Tarde à dentro prossegue o jogo, numa concentração de dar inveja num profissional, meu dinheiro foi acabando, travou o jogo e na contagem das pedras, virou a bucha de branco:

_Toma marreco. E subiu na mesa, pôs-se a dançar.

Falido e sem graça, não me restou nada, senão cobrir o rosto e, diante da dança da vitória, lamentar:

_Meu Deus, eu criei um monstro.

Dia desses a neta estava em casa, resolvi ensinar o mesmo jogo pra ela, é claro que a menina é mais delicada por natureza e a gritaria a assustou no início, mas eram dois mestres a ensiná-la e foi fácil, bastaram algumas horas e estava entendendo tudo.

Bateu o jogo, timidamente colocou a pedra na mesa e anunciou a vitória, o primo, apesar de ser mais novo, pegou a pedra e disse:

_Julia, é assim que se faz_ bateu a pedra com violência e gritou:

_Bati marreco.

Tive a nítida impressão de que ela jamais faria a coisa desse jeito, ter ganhado ou não, não lhe fez a menor diferença.

Recolhi todas as pedras, embaralhei-as e cada qual pegou as suas sete.

_Julia meu amor, Já que você bateu agora você sai. Disse eu.

A menina levantou-se da cadeira, foi até a minha, me deu um beijo na testa e disse:

_Depois eu volto tá vovô. Disse isso e foi-se embora.

Com a boca aberta ficamos, eu e Miguel, sem acreditar no que havia acontecido.

Ficamos assim por uns longos minutos, depois o neto bateu no meu ombro:

_Deixa vô, ela é menina.

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Postado 07/04/21 09:44

Um divertido relato familiar!

Apesar de eu achar muito que as diferenças entre meninos e meninas são criadas culturalmente, e não são diferenças da natureza deles, também acredito que existam diferenças entre meninos e meninos, e entre meninas e meninas, que são da própria personalidade de cada ser humano, que é um ser único e maravilhoso!

Seus netos devem ser incríveis, Sr. Nilton!!

Um grande abraço <3

Postado 30/01/22 13:40

Que delícia deve ser ter netos! Acho que os meus vão demorar bastante...

Suas reflexões me deram ainda mais vontade de ser avó...

Amo seus textos!

Obrigada por compartilhar conosco!