Hanni sempre gostou de contar histórias. Lembro-me de nos aconchegar próximas à lareira, suéteres combinando e mãos dadas, e ela sussurrava contos dramáticos ao pé de meu ouvido.
Diga-me, Hanni, eu serei a vilã das tuas histórias assim como ela foi? Agora que você não me olha mais através da janela, agora que a única coisa que resta é o coração que fez com os dedos no vidro embaçado numa noite de neve, agora que minhas mãos continuam geladas mesmo com luvas… irá contar histórias sobre mim também?
Contarás a todos como te olhei com meus olhos frios, como contaste a mim que ela o olhou assim? Dirá à próxima como eu tenho as mãos geladas e os olhos afiados? E que eu em meu gramado não florescem rosas fora do inverno?
Diga-me, Hanni, pois estou ansiosa para saber se eu serei a próxima personagem de seus contos de terror. Serei eu estampada na página da frente de seus pesadelos, Hanni? Você já foi a dos meus.
Diga-me se você dirá que se arrepende, que a lareira te queimou. E, por fim, diga-me, Hanni, contará que meus olhos frios somente a olharam assim pois foi você quem soltou minha mão?