O navio viking cruzava o mar. Nas noites tranquilas, os guerreiros reuniam-se sob a luz da lua para contar histórias de deuses, homens e criaturas lendárias, deliciando-se com chifres de hidromel.
— Esta noite, ouçam bem! Fiquem em silêncio... que o hidromel desça como a chuva dos deuses! — rugiu Ragnar, o mais velho dos guerreiros.
— Escutem, nobres irmãos de batalha — continuou ele — pois contarei a saga de um tempo em que os reinos eram governados por homens de coragem indomável.
Entre esses homens, destacava-se Gerard, rei de um reino glorioso. Ele habitava o Castelo Valhalla, uma fortaleza que se erguia majestosa, principalmente quando a alvorada do inverno iluminava suas torres de pedra. As primeiras luzes do dia dançavam nas paredes imponentes, criando uma cena digna das mais grandiosas lendas. A neve cobria o solo e os telhados, transformando a paisagem em um reino encantado — onde o frio se misturava ao calor das lareiras, aquecendo os corações dos que ali viviam.
O ar gélido da manhã fazia a fumaça das chaminés subir em espirais, como se os próprios deuses sussurrassem segredos nas brisas. Ao longe, as montanhas cobertas de neve se erguiam contra o céu rosado — um espetáculo que fazia o coração de qualquer viking pulsar com força. Sob a luz suave do sol nascente, o Castelo Valhalla tornava-se ainda mais imponente, como um farol de esperança em tempos sombrios.
Mas, ah... a paixão de Gerard pela luxúria o conduziu a um destino inesperado. Deixou-se enredar pelos encantos de Ashera, sacerdotisa do Deus Negro. Com o corpo esculpido pelos deuses, cabelos dourados como o próprio sol e olhos verdes como águas profundas, ela o seduziu com promessas de poder e prazer.
Gerard, homem de honra, também se preocupava com seu povo — e essa dualidade o lançou em dilemas profundos, enfrentando escolhas que moldariam o seu destino e o do reino.
Certa noite, durante um ritual sombrio, Ashera o convenceu a cultuar o deus das trevas. Tomado pela paixão e pela ferocidade que lhe era inata, Gerard não percebeu o preço que pagaria. Na noite da lua cheia de sangue, o ritual o transformou. Tinha então trinta anos, corpo atlético e olhar penetrante. Mas a dor da metamorfose o dilacerou: seus ossos se quebravam e realinhavam, seus dentes cresciam afiados como lâminas, e seus olhos — antes humanos — tornaram-se selvagens, revelando a besta prestes a emergir.
A transformação era uma cena de horror. Enquanto a criatura tomava forma, uma besta-lobo colossal — do tamanho de um cavalo robusto — emergia, uivando para a lua, sedenta por sangue e destruição. O lado humano de Gerard parecia fadado à morte. Mas Ashera, apavorada, sentiu a dor crescer em seu coração. Amava seu consorte, e a tristeza a consumia ao vê-lo assim — esse era o preço de sua escolha.
O Deus Negro, astuto como sempre, sabia que apenas um homem de honra como Gerard poderia suportar a maldição do licantropo. Em sua desolação, Ashera ousou desafiar o deus e implorou a Odin por uma cura.
Odin, em sua sabedoria, propôs uma barganha: Gerard voltaria a ser humano, mas Ashera deveria tornar-se valquíria, guerreira dos deuses, recebendo o nome de Ireena, que significa Paz. Como símbolo de sua nova missão, ela receberia um unicórnio negro alado de guerra, Ciclone, e uma armadura forjada pelos próprios deuses.
Jamais poderia deitar-se com outro homem — lutaria pela paz entre os mundos, eternamente. O amor de Ireena por Gerard era verdadeiro, e ele, por sua vez, nunca mais se uniria a outra mulher, dedicando-se ao sacerdócio real e à devoção a Odin.
Com a ajuda dos magos da Islândia e a bênção de Odin, Gerard forjou um artefato mágico: um brasão com a imagem de um lobo feroz, adornado com penas e runas de sua amada Ashera — agora Ireena — simbolizando sabedoria e sacrifício. Assim nasceu a Dinastia do Lobo, marcada por um brasão capaz de curar os aflitos pela licantropia.
E assim, a história de Gerard, o Lobo-Rei, ecoou através dos séculos — uma saga de paixão, transformação e renúncia, contada em canções e baladas por todos os valentes que cruzassem os mares e as montanhas. Que os deuses nos protejam, e que a memória de Gerard e Ireena jamais se apague!
Todos os vikings presentes vangloriaram-se, erguendo seus chifres como se a lenda fosse real — e seguiram em frente, pelo mar tranquilo, rumo ao destino de seus lares.