O Homem sem Rosto
Robson Pinheiro Cruz
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 22/09/25 14:10
Editado: 22/09/25 14:25
Avaliação: Não avaliado
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Notas de Cabeçalho

Título: O Homem sem Rosto

Autor: Robson Pinheiro Cruz

Data:03/03/2023

Capítulo Único O Homem sem Rosto

Era uma noite de tempestade na densa floresta amazônica. Os trovões ecoavam como gritos distantes, e a chuva torrencial batia nas copas das árvores, criando uma sinfonia caótica que envolvia a aldeia de São João. Os moradores se reuniam em torno da fogueira, trocando histórias de assombração e mistério, mas nenhuma causava tanto pavor quanto a do Homem Sem Rosto.

Diziam que ele perambulava pela floresta nas noites mais escuras, e os que cruzavam seu caminho eram agraciados com um olhar que paralisava a alma. Ninguém sabia de onde viera, mas sua presença era sentida por todos. As crianças não saíam ao anoitecer, e os adultos evitavam caminhar sozinhos, temendo o encontro com a criatura enigmática.

Miguel, jovem de bravura e curiosidade, decidiu investigar a origem da lenda. Certa noite, enquanto os outros se recolhiam, ele se aventurou pela mata. Com o coração disparado, segurou a lanterna e seguiu o sussurro do vento. Logo, chegou à clareira dos ossos, onde se dizia que as almas perdidas se encontravam. O silêncio predominava, mas Miguel sentiu uma energia pesada que o envolvia.

De repente, surgiu uma figura envolta em sombras. O Homem Sem Rosto se revelou, e Miguel sentiu o terror tomar conta de seu ser. A ausência de traços humanos era intimidadora, como se a própria escuridão houvesse tomado forma. Miguel congelou, incapaz de se mover, enquanto a figura se aproximava lentamente. O frio da noite emanava do corpo do homem, e um murmúrio quase inaudível dizia: “Você deveria ter ficado longe.”

Num impulso, Miguel gritou e correu, mas a presença o seguiu, rápida e silenciosa. Sem saber para onde ia, apenas sabia que precisava escapar. Ao cruzar um riacho, ouviu novamente: “Você não pode fugir de seus medos.” Tropeçou nas raízes expostas, e ao se virar, o Homem Sem Rosto estava mais próximo do que nunca.

Miguel, ao se deparar com a figura envolta em sombras, sentiu o tempo parar. O vazio onde deveria haver um rosto começou a se expandir, como um buraco negro faminto. A floresta se calou, e a realidade pareceu se curvar diante da entidade.

O murmúrio tornou-se um rugido gutural: “Você ousou contemplar a minha face, meu abismo. Agora será parte dele.”

Tentáculos de sombra emergiram do chão, serpenteando como víboras famintas. Enrolaram-se em seus tornozelos, sendo envolvido por uma lama negra fétida, que queimava como ácido. Miguel gritou, sendo engolido pela escuridão.

A terra se abriu sob seus pés, revelando um portal para um mundo que não deveria existir — um umbral de trevas eternas, onde tudo era envolvido por ossos e lama negra. Serpentes rastejavam por entre cadáveres que só lamentavam. Demônios desformes, com bocas onde deveriam haver olhos, observavam Miguel esfomeados.

O Homem Sem Rosto flutuava acima, como um deus profano. “Aqui, não há redenção. Aqui, você será moldado pela dor.”

Miguel foi arrastado para esse mundo, seu corpo se contorcendo, sua mente se fragmentando. Cada memória foi arrancada e devorada por criaturas que se alimentavam de identidade. Tentou resistir, mas a escuridão era absoluta. A bravura virou desespero. A empatia, agonia.

No centro do umbral, Miguel foi erguido por correntes feitas de tendões humanos . O Homem Sem Rosto se aproximou, e pela primeira vez, algo surgiu onde antes havia apenas vazio — um rosto, feito da própria essência de Miguel. Ele havia sido absorvido, transformado, fundido à criatura.

A floresta amazônica nunca mais viu Miguel. Mas nas noites de tempestade, quando os trovões soam como gritos e a lama parece se mover sozinha, os moradores de São João juram ouvir uma nova voz entre os sussurros:

“Eu fui luz. Agora sou trevas.”

E assim, o Homem Sem Rosto ganhou um novo semblante — o de sua última vítima — e o umbral, um novo prisioneiro. A lenda continua, mas agora, com um novo prisioneiro.

❖❖❖
Notas de Rodapé

“Nem toda sombra é ausência de luz — algumas são presença de algo que não deveria existir.”

“A floresta escuta. E às vezes, ela responde.”

“O medo não precisa de rosto para ser real.”

“Há lugares onde o tempo não passa — apenas observa.”

“Quando o trovão soa como lamento, é porque alguém foi esquecido pela luz.”

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