O vestido adequado
De vestido amarelo, olhei-me no espelho. Dei meia volta para esquerda, meia volta para direita, analisei o caimento atrás, passei a mão pelo decote e depois pela fenda na coxa; fiz umas dezessete poses diferentes.
– Você acha adequado, Bea? – perguntei.
– Não acho, eu vejo tudo daqui! – disse ela apontando para meu peito.
– Para, Bea! Momentos como este pedem um look mais quente – Betty contestou enquanto alinhava o decote do vestido – eu ainda prefiro o outro, aquele branco de renda.
– Não, não, não – Bea correu até o vestido branco e o agarrou – Já concordamos em não usar ele, é demais!
– Meninas, se acalmem! – ordenei depois de ter o vestido de renda em minhas mãos.
Houve sete segundos de silêncio.
– Não vamos usar o vestido branco… – respirei fundo antes de continuar – Bea, o vestido amarelo é o melhor que temos, você precisa concordar.
– Você sempre ficou linda de amarelo – uma lágrima escorreu de seu olho esquerdo – que seja esse então.
– Ótimo! Então vou fazer sua maquiagem, Beatriz, e estamos prontas – disse Betty já escolhendo os produtos que usaria.
Olhei-me no espelho uma última vez. O vestido amarelo combinava perfeitamente com meus cabelos pretos. O brilho em meu rosto estava adequado para a ocasião.
Toquei o meu reflexo no espelho, sorri e disse:
– Eu amo vocês, meninas.
Fui até a cozinha, busquei a caixa de palitos de fósforo e uma vasilha de álcool; fiz um rastro pela casa inteira e terminei no quarto. Risquei o fósforo na lateral da caixinha e o lancei ao chão.
Do espelho, Betty disse:
– Você está linda, Beatriz! – escorria uma lágrima do seu olho direito. Ela brilhava com as chamas e o meu rosto cintilava.
De vestido amarelo, olhei-me no espelho. Dei meia volta para esquerda, meia volta para direita, analisei o caimento atrás, passei a mão pelo decote e depois pela fenda na coxa.
– É adequado – disse Bea ajeitando o decote.
Eu sorri.
Pela primeira vez, estávamos linda. Pela primeira vez, concordamos em algo. Pela primeira vez, fomos apenas uma. Uma pela primeira e última vez.