Últimas ações
Tháiza Lima
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 01/07/16 22:47
Editado: 03/07/16 20:34
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 4min a 6min
Apreciadores: 6
Comentários: 2
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Palavras: 727
[Texto Divulgado] "O Jarro De Carne" O recém formado doutor Haward, inicia sua jornada de trabalho ao lado de seu mentor. Juntamente com sua equipe, ele inicia um experimento que mudara, para sempre, o futuro da humanidade.
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Eu devia tanto responder os comentários nos meus textos antes de postar mais um, mas eu não sei como fazer ;---;

Não é um texto para o desafio - ainda. Só um esboço. Eu queria fazer um poema, vamos ver se dá certo, esse último mês foi tão pesado que parece que esqueci como se escreve qualquer coisa u.u

Boa leitura~

Capítulo Único Últimas ações

Dançaram à luz da lua, devia estar tocando forró, eles não sabiam e provavelmente nem notariam se estavam escutando valsa ou xote. Só se via os dois naquela luz pálida, o garoto com nome de escuridão e garota com nome de estrela.

Os cabelos loiros dela estavam lilases, o spray ligeiramente desbotado. Os olhos dele brilhavam com lentes de contato roxas por cima de íris já azuladas. Eles eram um estranho casal, dançando naquele dia dezesseis de julho.

Uma última dança, para minha última alma gêmea.

Escondida da escuridão, uma pequena garotinha esperava quem havia lhe mandado uma rosa e um bilhete convidando-a para ser seu par no baile de inverno. Ironicamente, inverno no hemisfério sul é quente, então parecia mais um baile de verão ameno.

A garotinha aceitara se encontrar com a pessoa, pois já tinha ideia de quem seria pela caligrafia ilegível. Ela ainda se recusava a acreditar que seu amigo de longa data mudaria de país sem mais nem menos, sem previsão alguma de voltar por anos.

Uma pequena lágrima escorreu por seu rosto delicado.

Uma última lágrima para um último encontro.

A menina de nome estranho balançava as pernas sentada na beira da ponte. Ela tinha uma garrafa de Vodka na mão direita e um buquê de suas flores favoritas – peônias, já murchas a dias – na outra. Ela tentava se convencer de que estava tudo bem, embora não estava.

Ela estava tão cansada, e por mais que a entristecesse despedir-se de seus familiares, pessoas que se importavam consigo e outras por quem nutria algo próximo de companheirismo, a menina sabia que não havia outro jeito.

Ela rezou baixinho e beijou as flores.

Um último beijo, para a última brisa noturna sentida.

O rapaz de tênis caro corria. Tinha apenas alguns minutos antes que perdesse o trem; ele precisava parar o trem, necessitava, carecia, devia, era um ato mandatório: ele iria parar o trem a qualquer custo.

À medida que o tempo passava e seus passos ecoavam na rua vazia, o rapaz diminuiu a velocidade. Ainda estava a quilômetros de distância da estação, e àquela hora o trem já devia estar soando seu último apito e tomando velocidade por cima de trilhos férricos, com dezenas de corações pulsantes em seus vagões. Entre eles, um em especial que batia apertado.

O rapaz despiu seus tênis suados, andou apenas de meia pelo asfalto e os jogou no riacho.

Eles fizeram um barulho engraçado, o rapaz deu uma risada.

Uma última risada para sua última lembrança do pai.

Dentro de casa um homem falava ao telefone, ele parecia aborrecido. De certo terminava com a décima sexta namorada, e ainda tinha menos de trinta anos. Um homem como ele deveria estar casando, tendo filhos, com um emprego fixo e uma boa casa.

A realidade do homem eram casos esporádicos que raramente duravam mais que três meses e uma interminável fila de manhã sempre que era demitido do emprego por causa de seu gênio estressado.

O homem olhou para o sofá verde-limão, presente de seus pais quando decidira morar sozinho no centro da cidade. Aquele sofá já fora testemunha de tantas facetas do homem que agora se acalmava, o telefone quebrado em algum lugar do outro lado da sala minúscula.

Agora, o homem decidiu se mudar novamente, começar uma nova vida. Ele foi para o quarto, afundou o rosto no travesseiro e gritou o mais alto que conseguiu: aquele seria seu último dia no apartamento apertado, encarando aquele sofá velho e fingindo ser doce com mulheres que fingiam estar interessadas.

Um último grito sufocado de desafio, uma despedida de braços abertos.

No riacho, dois peixes se analisavam.

Seus olhos esbugalhados observavam as cores vibrantes das escamas de cada um, pensando do jeito abstrato que peixes pensam, de um modo tão único e incompreensível que o garoto com nome de escuridão e a garota com nome de estrela faziam barulhos bobos tentando imitar a melodia de amor dos peixes.

Devia estar tocando forró para os humanos, e valsa para os peixes.

Os peixes se tocaram, e assim também fizeram o garoto e a garota.

Um último toque no último dia dezesseis de julho que passariam juntos.

Um último inverno, uma última flor, uma última memória, um último apartamento.

Uma despedida triste, sufocada, melancólica, nostálgica, neutra.

Sentimento único dentro de cada um que trocava o último olhar, as últimas palavras.

“Adeus.”

❖❖❖
Notas de Rodapé

<3

Apreciadores (6)
Comentários (2)
Comentário Favorito
Postado 01/07/16 23:50

Thai, se você se esqueceu como se escreve não quero nem pensar no que será do meu coração quando você lembrar... Menina, esse texto realmente está incrível! Sinceramente, amei essa maneira de você colocar várias situações discernidas e juntá-las praticamente em uma só no final. É como se você fizesse uma história a partir de cada verso de uma poesia... Ou melhor - consciente ou inconscientemente - você o fez. E como fez.

Foi interessante ler cada história individual, com esse ênfase nas frases finais em itálico. Deu uma harmonia prazerosa na leitura, e uma aproximação com o leitor maior. Agora o título faz todo o sentido, porque né, todas de alguma forma foram as últimas ações, seja as últimas ações com o par amoroso, com o crush, ou com alguém familiar. Mas houve essa última ação que se sucedeu a despedida.

E você escreveu tão bem, com detalhes tão simples mas muito bem citados, que é fácil imaginar todas as cenas. Imaginar o nosso casal estranho dançando sua última dança, a menina de nome estranho que possivelmente deu seu último beijo antes de fechar definitivamente os olhos, o rapaz que deu sua última risada ao se lembrar de seu pai quando o mesmo acabou de partir para não mais voltar, ou do nosso azarado no amor (ou seria um cafajeste?) soltando seu último grito.

São situações totalmente diferentes, é claro, e são ligadas a questões discernidas, todavia, há uma coisa essencial em concordância: a despedida, o nosso tão doloroso adeus para alguma coisa; a última ação de cada personagem aqui descrito.

E essa junção nos últimos parágrafos realmente é magnífico! Não tenho o que falar, eu sinceramente amei o seu texto. Parabéns, Thai ♡

Postado 01/07/16 23:10

Vou fingir que não vi "parece que esqueci como se escreve qualquer coisa u.u".

Vou fingir, viu! Texto incrível, Thaíza :3

Postado 04/07/16 22:17

Finge não, tem a palavra "parece" ali. Só parece mesmo -qq

Obrigada, Gio, de coração <3

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