Com muita truculência, fizeram Josias sentar-se em uma cadeira com as pernas abertas e os braços para trás. Os dois brutamontes foram os responsáveis por ter o levado até o centro de um depósito antigo, além de garantirem que respondesse todas as perguntas que lhe fizesse. Ele estava com o corpo muito dolorido após tanto apanhar e com a mente atordoada, inconformado com a situação que se encontrava, pois o mais provável acontecerá por ter sido tão imprudente.
— Pois bem, Josias. Quem diria que teríamos esse encontro nesta manhã de outono?
— Quem é você?! Eu não tenho nada a ver com qualquer coisa que seja!
— Claro que você tem, Josias. Afinal, é você quem paga pelos serviços da Jussara.
— Porra! Eu sabia que aquela vagabunda era a responsável por isso.
— Então, responda-me: onde ela se encontra?
— E eu vou saber? Se eu soubesse, era óbvio que eu não estaria aqui.
— Uau! Essa é uma informação e tanto. O que vocês estão tramando?
— Eu não estou tramando nada, mas ela está, certamente. Tentei falar com ela hoje pela manhã cedo e não consegui.
— E o que você queria com ela?
— Porra, mas não é óbvio? Aquela vagabunda escondeu minha cueca amarela!
— O quê?! Para de gracinha, seu merda! Nós vamos lhe fuzilar se não abrir o bico. A Jussara é uma mulher morta com você ajudando-a ou não.
— Mas é verdade! Vocês acham que estaria aqui por qual outro motivo? A cueca amarela é minha cueca da sorte nas quartas-feiras. Eu estou com uma verde e deu merda! Tudo é culpa da Jussara! Nunca deveria ter contratado uma doméstica tão desajeitada.
— Jussara doméstica? O que você está falando, seu pedaço de merda? A Jussara é principal contrabandista de ouro do país!
— O quê? Então não pode ser da mesma Jussara que estamos falando.
— Pouco importa. Não fui com sua cara e não gostei das suas respostas. Você vai morrer.
Um tiro certeiro na testa foi o suficiente para matar Josias. Seu corpo estava estirado no chão, no entanto sua alma continuava viva. Josias olhava para seu corpo e para o que se tornou e ficou muito frustrado com o fim de vida que tivera.
— Porra, essa merda de cueca verde além de não dar sorte, traz azar. Tenho que achar a minha cueca amarela.
Com os sentidos aguçados, Josias os utilizou para sentir a presença de tudo que o cercava. Pode sentir a cadeira onde esteve sentado, o carro das pessoas que o mataram estacionado fora do depósito. Pode sentir as árvores, os arranha-céus e, principalmente, sua cueca amarela. Um largo sorriso surgiu em sua face e Josias começou a rumar ao seu objetivo. Estava muito faceiro com suas novas habilidades de atravessar paredes e sentir tudo que o cercava, mas nada superava sua felicidade em achar o que tanto almejava naquela manhã.
Em poucos instantes, Josias estava frente-a-frente a sua cueca amarela, mas também a uma situação inusitada: Jussara a vestia. A mulher estava em casa contando o dinheiro que receberá por seu último contrabando. Ela ria e se contorcia de felicidade. No telefone, ela contava o segredo de seu sucesso para sua mãe:
— Mãe, de fato eu estava certa! O segredo de tudo era a cueca amarela do Josias. Eu nunca vi um cara tão afortunado e fico muito feliz em ter descoberto o motivo de seu sucesso.
Jussara estava em estase por algo muito trivial, segundo Josias. Para ele, era óbvio que a cueca amarela era a certeza de triunfos. Mas isso não importava, ele queria sua cueca de volta. Por isso, fez um esforço gigantesco e conseguiu projetar sua imagem no espelho que Jussara usava para ver o reflexo de seu dinheiro e de si mesma, vestindo a cueca amarela. Com o grande susto, ela desmaiou e Josias viu que seu plano estava dando certo. Novamente, esforçou-se muito e conseguiu materializar uma mão, a qual despiu Jussara e possibilitou que ele recuperasse sua cueca.
Naquele dia, o auge de felicidade e satisfação em um alma foi atingida por Josias. Ele recuperará sua cueca e não pestanejou em vesti-la. Andava pelas ruas da cidade curtindo as suas novas habilidades e tranquilo que mais nada lhe daria errado. No entanto, a cidade nunca teve um dia tão trágico em sua história. Várias pessoas, ao verem uma cueca amarela voando e se deslocando no meio do povo, desesperaram-se com medo de assombração e saíram correndo em direção à rua, sem o mínimo de atenção. Muitas pessoas foram atropeladas e hospitalizadas com quadros graves. Mas isso não importava a Josias, afinal, ele não foi atropelado justamente por estar protegido, por estar com sua cueca amarela da sorte.