A tempestade veio pingando…
Água e sangue
pelo piso branco;
senti que algo estava
se quebrando,
dentro e fora,
me castigando…
Eu não fui uma boa menina?
Não lavei a louça quando deveria?
Não fiquei para ver no que daria?
Não sorri e aceitei
oitenta, mil, milhões
de vezes essa míngua?
Não mais, pois hoje eu rebati,
urrei como uma fera do abismo,
com a morte nos olhos,
e o diabo na língua!
FINALMENTE
deixei minhas unhas
c r e s c e r e m
e
rasguei a amarga rotina.
Perfurei meu rosto,
num ritual brutal e prazeroso
para ver se a dor eu aguentaria…
E sim, dominei toda a algia.
E, se todas as minhas coisas
estão agora
a m a l d i ç o a d a s,
então, a sua casa está assombrada,
meu lado vazio da cama mofado,
o que deixei para trás,
petrificado:
Faça força para se desfazer
do assombro que agora vai
perseguir você.
Eu fui uma deusa num pêndulo,
amarrada aos seus dedos
a todos os seus medos,
para lá,
para cá,
suspensa no ar,
sem sair do lugar...
Foi quando,
entre as lágrimas e a
devastação,
calculei um
Feitiço de Libertação.
E sem desespero,
cerrei a algema invisível
aos poucos, com meus dentes,
me permiti cada "exagero",
pois meus sonhos,
são mesmo divergentes.
E, enquanto você me vomitava
de seu banquete de amarguras,
eu gargalhava e regozijava!
(E em segredo!)
Pois tudo que eu quero, funciona,
Tudo que eu desejo,
uma hora acontece
e cada problema se soluciona
afinal, meus caminhos
estão abertos...
Para mim, agora
dias de sol e brisa.
trabalho e cantoria,
e, leveza, e
liberdade e sabedoria.
Para mim, que não sou
mais uma tola menina,
vida plena e alegrias,
e comilanças,
a n d a n ç a s
e amizades e vinho,
pois, disto tudo
eu nunca me farto,
e de fato,
meu feitiço funcionou.
Como uma boa e velha
artista herege,
ou, como uma ladra, uma desgraçada,
uma escritora medíocre,
já me acostumei,
com o fervilhar das chamas,
e criei imunidade
à solidão,
ao barulho externo,
a todos os fins.
E se o seu reino de palha,
inteiro se queimou,
se o pó se
a p o s s o u
de seus pulmões,
se a fumaça te sufocou,
se o silêncio te ensurdeceu,
se o vazio te preencheu,
se mais ninguém te adulou,
se mais nenhuma alegria restou,
deve ser porque…
você mesmo, no caos, se trancafiou.
.
E até pensou
que me
dominou...
Que minha alma
para sempre calou...
Mas eu,
sim, eu
s e m p r e,
resgato meus tesouros
os encaixo magicamente
embaixo dos braços
e prossigo convicta,
eu,
sim, eu,
s e m p r e
gargalharei
por último.