Na minha casa havia um cômodo abaixo do térreo. A porta desse cômodo dava pra rua. E eu todas as quartas-feiras saía por ela. Para sair de bicicleta. Os outros meninos da rua ficavam me olhando seguir de bicicleta.
Até que certo dia um daqueles meninos me parou e perguntou:
- Onde você vai sempre às quartas-feiras?
Eu olhei-o e respondi-lhe:
- Vou à aula de música no conservatório.
Ele disse:
- Você estuda lá?
- Sim. - E segui meu caminho.
E aqueles meninos viram o piano que meu pai comprou chegar. E meu pai tocava de ouvido, no piano.
Minha mãe ouvia o que meu pai tocava embevecida.
Certo dia meu pai recebeu uns amigos dele. Os amigos tinham vindo da capital. Se hospedaram lá em casa.
E antes do almoço meu pai me chamou:
- Menino, toque alguma coisa para meus amigos.
Eu arrisquei alguma coisa no teclado. Os amigos de meu pai aplaudiram. Eu sorri e vi o quanto eu estava despreparado.
Então decidi comigo mesmo. Ia treinar no piano muito mais. Queria ficar bom.
Mas meu pai morreu. Minha mãe vendeu o piano. Eu virei bancário. A vida tocou em frente. Seguimos todos lá em casa a estrada da vida.