“Aquele dia havia sido agradável, mas naquele momento o vento frio batia fortemente contra as janelas antigas, o barulho era assustador e o vento que conseguia passar pelos vidros batia contra o rosto de Leo. A noite estava mais fria que o normal para o mês de agosto, mas em Curitiba isso era algo comum, o clima da cidade gostava de brincar com seus moradores. Os cabelos loiros do jovem balançavam no ritmo da ventania e os lábios do loiro estavam trêmulos, quase ninguém ia até o terceiro andar a essa hora, contudo, isso não o impediria de continuar. Leo e mais cinco amigos resolveram averiguar o suposto fantasma que apareceu nas filmagens da câmera de segurança na noite anterior.
A escola era bem conhecida, afinal um prédio rosa no centro da cidade não passava despercebido, assim como os rumores das assombrações que rodavam a estrutura com mais de cem anos. As lendas eram variadas, existia até um livro na biblioteca sobre elas, as mais conhecidas eram a da menina que tocava piano ao anoitecer e a do quadro cujo homem nele pintado mudava a expressão e o objeto em suas mãos conforme quem olhava. Leo já havia visto o quadro várias vezes e ele sempre causava arrepios, mas nada se comparava ao medo que o garoto sentia agora.
Na noite anterior a câmera havia gravado um espírito próximo as escadas do saguão principal, os rumores se espalharam, Leo e os amigos resolveram que valia a pena investigar. As escadas de mármore branco pareciam ainda mais assustadores durante a noite, o garoto loiro se lembrava de seu primeiro dia na escola a esse horário e de como ficou aliviado de não estudar no terceiro andar. O vento ainda batia nas janelas e quanto mais subiam a escadaria mais gélido o ar ficava. Os pelos do braço de Leo se arrepiaram e ele podia jurar que ouvia uma respiração próxima demais do seu ouvido, o que não fazia sentido já que ele era o último da fila.
Os amigos do loiro estavam tão assustados quanto ele, mas continuaram o percurso. Ao ritmo que o terceiro andar se aproximava, a respiração no ouvido do jovem parecia mais nítida, assim como o ar se tornava mais gélido. Quando finalmente o garoto pisou no último degrau a respiração parou, todavia o ar ainda era frio, Leo e os amigos caminharam pelos corredores, um dos meninos ainda brincou chamando “hey fantasma”, aquilo deixou Leo incomodado. Quando chegaram na porta do salão nobre, onde ficava o quadro assustador, o som do piano começou a soar e sem dizer nada os amigos de Leo correram o deixando sozinho, e logo quando o garoto estava prestes a fazer o mesmo uma garota apareceu em sua frente, o loiro fechou os olhos e murmurou um pai nosso de qualquer forma, já que sua mente estava toda atrapalhada, a menina aproximou-se e mesmo que a mente de Leo mandasse ele se afastar o corpo não obedecia, a menina sorriu “vamos tocar piano?” perguntou e o garoto gritou, mas nenhum som saiu de sua boca e ele desmaiou.
Quando recobrou os sentidos, Leo estava caído no chão do terceiro andar, o garoto correu escadas a baixo e percebeu um tumulto nos corredores, quando se aproximou o suficiente, percebeu que ali no meio do saguão principal estava seu corpo, os olhos abertos e uma expressão de horror, o garoto tentou se aproximar, contudo não conseguia sair do lugar, as sirenes eram audíveis e os murmúrios também, os amigos que haviam deixado Leo para trás estavam congelados de medo. E assim, o corpo foi levado e o espírito confuso foi deixado ali sem saber para onde ir...”
“Que mentira ‘seu’ José” murmurei, devolvendo o papel velho e amassado onde as palavras haviam sido escritas, mesmo não acreditando muito estava realmente assustada.
“Não sei se é verdade. Foi o antigo vigia que achou esse texto numa noite qualquer há alguns anos” o senhor de sessenta anos comentou alegremente e sorriu “O coitado ficou tão assustado que pediu demissão”.
“Não acredito nisso, vou indo que já está tarde” resmunguei um tchau e segui até o ponto de ônibus, mas antes encarrei o prédio rosa uma última vez e podia jurar que havia alguém na janela do salão nobre, balancei a cabeça para afastar os pensamentos. Enquanto ia para casa me perguntei o quanto da história poderia ser verdade “talvez eu vá ao terceiro andar só para olhar” pensei.