Aqui...
Meiling Yukari
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 22/03/21 12:26
Editado: 05/05/21 13:32
Avaliação: 9.65
Tempo de Leitura: 5min a 7min
Apreciadores: 9
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Palavras: 918
Este texto foi escrito para o concurso "Concurso de Aniversário da AC" O Concurso de Aniversário da AC, é em homenagem aos 5 anos que a Academia de Contos completa este mês! Os usuários terão de escrever obras com o tema "Academia de Contos" e que vençam os mais memoráveis! ❤️ Ver mais sobre o concurso!
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Acho que eu devo pedir perdão. Eu adoraria ter escrito algo bonito e alegre para comemorar o aniversário do melhor lugar do mundo, mas infelizmente eu não tive muitas alegrias como inspirações para esse dia... fiquei apenas com a tristeza de minha própria covardia, e assim surgiu esse texto. Perdão, querida Academia...

Capítulo Único Aqui...

Aqui nasci

Aqui morri

.

Aqui amizades consegui

Mas aqui também amizades perdi

Aqui

Sempre aqui

.

Aqui um dia entrei

Daqui um dia saí

Em um certo momento retornei

E agora sempre permanecerei

.

Pois aqui é o lugar onde mais floresci

Na mesma medida em que mais apodreci

.

Aqui é o templo em que por tudo agradeci

Principalmente pelo fato da querida AC existir

A menina interrompe abruptamente o movimento de seus dedos, que digitavam freneticamente. Ela suspira longa e pausadamente enquanto seus olhos melancólicos pousam na tela do computador.

Ela sente todo o peso dos anos. O peso das inúmeras saudades... dos inúmeros arrependimentos... O peso da enorme tristeza... do enorme pesar que levava em seu âmago. O tempo não para, pois ele é cruel. E assim ele vai levando consigo tantas memórias, tantas lembranças...

Seu nome era Meiling. Sua vida era triste. Sua existência era um erro da natureza. Sempre se sentiu solitária, excluída e rejeitada. Dedicou todo o seu tempo aos estudos. Ler e escrever eram as suas paixões.

A menina censurou-se mentalmente. Queria conseguir calar essa voz interior que nunca ficava quieta. Sua mente estava sempre a tagarelar consigo mesma, mas agora ela precisava se concentrar, afinal, era o aniversário de sua querida Academia de Contos e ela queria muito escrever algo significativo para participar do concurso de aniversário.

Cinco anos. Parece tão pouco e tão muito ao mesmo tempo. A menina usou toda sua alma para colocar no papel aquele poema que gritava ao sair de seus dedos. Mas no fim, só sentiu-se insatisfeita, como na maioria das vezes em que escrevia algo a respeito da própria Academia. Ou quando escrevia qualquer coisa que fosse.

Essa menina sempre foi muito insegura, em todos os aspectos possíveis. Quando começou a escrever, achava seus textos uma diarreia pura, mas por sorte, a única grande sorte de sua vida, ela resolveu postar alguns deles na internet... E foi assim, aleatoriamente após ver um texto da Meiling, que a Carioca-Mais-Linda-do-Mundo a convidou para fazer parte da Academia. E a partir desse dia, toda a sua vida mudou.

Meiling encontrou um lugar tão lindo, feito com tanto carinho pelo Chefinho. Um lugar tão acolhedor, no qual a solitária menina finalmente conseguiu fazer amigos, finalmente conseguiu se sentir aceita e querida. Aqui ela encontrou pessoas que sinceramente gostavam do que ela escrevia.

Foi na Academia que Meiling conheceu seus autores preferidos da vida inteira. Foi na Academia que Meiling conheceu seus amigos. Foram altos e baixos, idas e vindas ao longo do tempo, mas recentemente houve o momento mais bonito, em um certo Sindicato... Uma Moça-das-Facas, uma Pãozinha-Linda, uma Ternura-Ternurada, uma Jovem-Cadáver, uma Cantora-Profissional, uma Seis-Fofinha e um Diab-do-Hell...

Mas deve ser como dizem por aí, que tudo que é bom dura pouco...

A menina censurou-se novamente por suas divagações, agora dando tapas nas próprias pernas e xingando em voz alta. Não podia se desconcentrar tanto assim... Ela precisava escrever... Mas tudo aquilo estava preso dentro de si, querendo sair... Afinal, essas pessoas são para ela muito mais que apenas amigos... Eles foram sua família... Sua Família Infernal...

Em algum lugar, perdida no Inferno, existe uma mansão... Seus habitantes deveriam ser imortais, mas provavelmente agora eles estão mortos... Será que em algum lugar ainda existe uma deusa? Ainda existem trigêmeas do apocalipse? Ainda existe um casal que se ama e que vive com as suas queridas sobrinhas?

Meiling tenta acreditar que em algum lugar uma moça pronta para matar está abraçando um hunter... Em algum lugar uma mocinha está chorando e espirrando... Em algum lugar uma menina docemente abraça um príncipe do inferno... Em algum lugar uma imperatriz do massacre abraça um vampiro... Em algum lugar uma sacerdotisa das trevas abraça um imperador do extermínio... Em algum lugar... Em algum lugar... Em algum lugar que talvez não exista mais...

Meiling se levanta gritando consigo mesma. Minuto a minuto ela se desespera de tristeza, pois sabe que tudo mudou. Ela chora, ela grita, ela olha para fotografias de seus amados amigos, ela lê mensagens antigas...

Ela toma uma decisão. Mas ela desiste logo em seguida. Pois é uma covarde.

Ela então usa toda a sua covardia para esfriar a cabeça tomando um banho e depois comendo algo fingindo ser um jantar. Ela então tem uma grande ideia covarde: esquecer tudo que estava tentando escrever, e apenas escrever um poema sobre ela própria e seu caminho até a Academia.

Meiling passava seus dias imersa em poesias.

Adorava ler e, principalmente,

Adorava passar as tardes a escrever.

.

Tudo começou com seu amor por Pokémon,

Quando pensava em histórias comendo bombom,

Depois escrevia as fanfics, tomando um sorvete congelante.

A vontade de algum dia ser escritora era sempre constante!

.

Para as maiores e incríveis inspirações

Buscava coisas de terror e se perdia em divagações.

.

Assim foi, por aí, por muitos anos,

Até que começou a escrever textos cada vez mais profanos,

Principalmente depois de vir para a Academia de Contos,

Este recanto mágico, Antro Maldito de queridos juntadores de pontos!

Quando terminou o poema, a menina novamente sentiu-se insatisfeita. Choveu de críticas a si mesma, ao seu modo infantil de fazer rimas, ao seu pouco desenvolvido estilo... Sentiu vontade de ter escrito o poema em um papel, para poder amassá-lo com toda força e rasgá-lo em mil pedacinhos.

Acho que quanto mais cresce a minha covardia, mais cresce a minha incompetência como escritora...

É... talvez o melhor mesmo seja eu apenas não participar do concurso...

Afinal... o que de bom eu teria a oferecer?

❖❖❖
Notas de Rodapé

Novamente peço desculpas por ter escrito algo tão melancólico...

Mas agradeço imensamente a quem tirou um tempinho de sua vida para ler...

Apreciadores (9)
Comentários (5)
Comentário Favorito
Postado 02/04/21 18:57

Querida Mei, como eu queria poder abraçar essa voz atormentadora dentro da sua cabeça até ela se tornar apenas luz... Como eu queria que você se visse e se lesse pelos meus olhos, através da minha alma... Fico imensamente triste, por tantos sentimentos e culpas fazerem parte do seu corpo, infelizmente não posso te salvar deles, mas saiba que eu te amo. Saiba ainda que, apesar das bilhões de coisas malucas que levaram à uma greve em nosso sindicato, sempre tenho a cada um com amor, com gratidão, pois cada um de vocês, me salvou da morte cada dia em que passávamos a madrugada toda conversando, as vozes, as risadas, as figurinhas, textos mirabolantes, fofocas cósmicas, tretas aluscinantes, memórias arrojadas, cantorias desmioladas, amor e web-suru--- ops, foi mal hehehe, sempre levo todos no meu coração e sinto falta de cada um aqui na Academia pra fazer baguncinha. Mas alguns ciclos ou se encerram, ou precisam hibernar por um tempo, para voltarem mais fortes. Espero que a parte em negrito, venha a ser real.

Obrigada por ter me salvado tantas vezes, doce Meiling! Sou grata por sua existência, sou grata por você tentar e quero continuar te vendo persistir, vencer e brilhar!

Ao contrário do que você pensa, achei sua obra formidável em tantos aspectos, que faltam palavras para descrever, profunda, intensa, cheia de nuances, português, como sempre impecável, essa métrica que nos faz ir do inferno ao céus em segundos... Como sempre, genial!

Te agradeço por fazer parte da AC, te agradeço por ter me presenteado com esta obra tristemente linda e verdadeira, espero que seu coração possa estar se curando, você é fabulosa! Te amo <3

E boa sorte no concurso! <3

Postado 24/03/21 03:04 Editado 24/03/21 08:40

Aqui nasci

Aqui morri

.

Aqui amizades consegui

Mas aqui também amizades perdi

Aqui

Sempre aqui

.

Aqui um dia entrei

Daqui um dia saí [...]

.

[...] Pois aqui é o lugar onde mais floresci

Na mesma medida em que mais apodreci

.

Creio que raras vezes fui tão bem, sucinta e atualmente representado em trechos de um poema como o fui agora.

Em minha singela opinião, este melancólico conto expressa com devastadora exatidão uma das mais marcantes, expressivas, recorrentes e, ainda assim, pouco representadas facetas da Academia de Contos: a confidente, pois muitas vezes o site costuma ser um local onde, por meio da escrita, podemos externar nossas dores, medos, problemas e tudo de pior que nos assola a mente e a alma, buscando (e por vezes alcançando) uma dose praticamente sagrada de alívio, catarse ou o que quer que seja de bom, útil ou preferível àquilo que antes estava retido no ãmago.

Com um pouco de (ou em alguns casos, muita) sorte e esforço, até mesmo se encontra alguma espécie de solução entre uma linha ou outra, entre um improvável review e outro.

Embora a leitura seja impactante devida a sua carga emocional pesarosa e amargurada, esta obra me fez refletir em várias coisas, não só a respeito da Academia em si, inclusive... O que por si só (novamente, na minha modesta opinião) já demonstra a validade e importância da postagem para o concurso, bem como da presença da autora nele, por sinal.

E, mesmo arriscando ser bastante inadequado ou inoportuno agora, gostaria de frisar que a senhorita pode até ter considerado (ou talvez e infelizmente ainda estar considerando atualmente) sua existência um erro da Natureza, mas saiba (e também lembre) do quanto ela foi uma benção e de grande importância na minha existência; que se sua vida foi algo triste em algum/vários momentos, ela igualmente representou em vários e inesquecíveis momentos simplesmente a felicidade na minha vida.

E, por fim, se julga seus textos pura diarreia, vá procurar o Asilo Arkham, pois está completamente louca... És uma das autoras cujas obras mais me despertaram interesse, inspiração e prazer (em N sentidos)!

Meus sinceros parabéns pelo conto imerso em emoção e boa sorte no evento, Srta Meiling...

(Reticências no fim pois compartilho do mesmo pesar acerca de muita coisa narrada e descrita aqui)

Postado 24/03/21 08:10

Hey Mei!

Seu texto realmente tem uma grande carga de tristeza da qual compartilho em menor intensidade, pois ainda sou um bebê na AC.

Entretanto é realmente triste quando as pessoas se vão, principalmente amigos como vcs que tinham uma química e história tão incríveis! Sempre ficarão as saudades... O que também me lembra um poema que agora não recordo o autor;

"Se você sente saudades,

muitas saudades de alguém

Maior infelicidade...

É não tê-las de ninguém!"

Se há saudades é porquê foi bom e valeu a pena viver tudo o que se passou.

Agradeço muito estar na AC e poder ter conhecido algumas das pessoas maravilhosas citadas no seu texto, com certeza grandes autores e grandes personalidades cheias das mais diversas nuances...

Uns vem outros vão e que bom que você ficou!

Sou grata por sua vida e por seus maravilhosos textos (uns bem perturbadores e traumatizantes... Já outros simplesmente encantadores!).

Grata pelo seu texto, pelas memórias e também mistérios que ele evoca, afinal não conhecemos todas essas histórias e ficamos naquela de que "será que algum texto irá revelar esse mistério?"

Seu texto é precioso e muito válido. Obrigada por postar e participar do concurso.

Sucesso querida!

Postado 25/03/21 17:28

Perfeito....me tirou lágrimas mas também me foi reflexivo

Você sempre faz com que suas poesias penetrem no íntimo da alma e por lá fiquem, vc é maravilhosa

Abraços

Postado 04/04/21 02:42

OOOHH~ Pequena Meiling, provavelmente nada do que eu diga vá realamente lhe confortar, pois não é de mim que deseja ouvir doces palavras. Contudo não posso concordar quando a sua critica sobre seus textos, eu os adoro e o quanto traz uma profunda reflexão ou a diversada maravilhosa com a qual escreve! Só não consigo concordar, mas eu entendo em parte esse pensamento tanto o desprezo por seus próprios textos quanto a perda de amigos~

Eu espero sinceramente que possa ver o quanto cativa a todos e que pode fazer mais amigos aqui no site~ ( desculpe qualquer coisa)

Eu adorei seu texto, foi de um pesar forte e pude experiementar um sentimento de triste, agônia e arrependimento ao ler, siplesmente épico! Agradeço por compartilhar sua obra e participar do concurso, boa sorte!

Assinado uma pequena vampira, <3

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