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[TUTORIAL] Fluxo de Consciência e Monólogo Interior [ABERTO] Entenda as principais diferenças entre essas duas técnicas narrativas. Iniciado por Sabrina Ternura em 02/01/21 23:51
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Sabrina Ternura Deusa dos T's 8361 pontos
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Alguns autores dizem que o fluxo de consciência é também o monólogo interior. Entretanto, outros autores os separam, pois apresentam diferenças significativas. Enquanto o monólogo interior é uma camada da mente humana, o fluxo de consciência pode ser descrito como se fosse um mergulho mais profundo em diversas camadas, ao mesmo tempo, da mente humana. Luiz Antonio de Assis Brasil, no livro Escrever Ficção, ensina que: “[…] o que acontece no fluxo de consciência é uma radicalização do monólogo interior, que dá a ideia de que o leitor está dentro do puro ato de pensar do personagem, durante o qual as ideias vêm a mente de forma errante.”

Abaixo, veremos mais um pouco acerca desses dois conceitos.

• Fluxo de Consciência

Todos nós, a todo tempo, estamos em um estado violento de pensamentos. O grande psicanalista Sigmund Freud disse que “o pensamento é o ensaio da ação”, sendo assim, nossos pensamentos não são lineares e tampouco abordam um tema por vezes. Ele é um poderoso fluxo de ideias, de compreensão, de lembranças, de dúvidas e de sensações. Transferir tais pensamentos para a linguagem escrita é o que denomina-se de técnica do fluxo de consciência, que tem como objetivo registrar os infinitos caminhos do pensamento.

O próprio nome já diz que se trata de um fluxo de tudo aquilo que está no consciente do personagem, mas é importante frisar que é no consciente e não no subconsciente. Essa técnica vai misturar raciocínio lógico com impressões momentâneas e associações entre ideias que passam pela cabeça do narrador, tudo isso de forma desorganizada, fluindo como o fluxo de um rio, ao contrário do que ocorre no monólogo interior.

Enquanto técnica narrativa, pode-se até dizer que o fluxo de consciência é um aprofundamento do monólogo interior. Outro ponto importante é que ele pode ser apresentado em 1ª ou 3ª pessoa.

Vejamos um exemplo de fluxo de consciência:

Mas quem sou eu, recostada neste porão a observar meu setter que fareja em torno? Às vezes penso (ainda não tenho vinte anos) que não sou uma mulher, mas a luz que cai neste portão, no solo. Sou as estações, penso às vezes, janeiro, maio, novembro, a lama, a neblina, a madrugada. Não posso agitar-me nem esvoaçar docemente, nem misturar-me com outras pessoas. Mas agora, recostada neste portão até o ferro deixar marcas nos meus braços, sinto o peso que se formou dentro de mim. Algo foi-se formando na escola, na Suíça, algo duro. Nem suspiros nem risos; nem volteios nem frases engenhosas; nem as estranhas comunicações de Rhoda, quando olhos além de nós, sobre nossos ombros; nem as piruetas de Jinny, membros e corpo uma coisa só. O que sou é peso” (As Ondas, por Virginia Woolf)

• Monólogo Interior

É uma técnica narrativa que representa a fala de apenas uma pessoa. Quando essa pessoa organiza suas ideias a fim de transformá-las num texto ou fala compreensíveis, chamamos de solilóquio. Entretanto, quando não existe essa organização antes da exposição das ideias, chamamos de monólogo interior. Nesse caso, soa como uma pessoa conversando consigo mesma, num discurso não pronunciado onde teremos o personagem fazendo uma confissão emocionada, tentando tomar uma decisão importante, refletindo ou até mesmo discutindo consigo mesmo.

O monólogo interior pode ocorrer tanto com a intervenção do escritor, através de construções como “pensava ela” ou “dizia a si mesmo”, quanto livre dessa intervenção. No primeiro caso teremos, então, um monólogo interior indireto e no segundo caso um monólogo interior direto.

Vejamos abaixo um exemplo de monólogo interior:

Como foi mesquinha a minha conduta! Exclamou ela, eu que me orgulhava tanto do meu discernimento, da minha habilidade! Eu que tantas vezes desdenhei a generosa candura de minha irmã [...]. Como é humilhante esta descoberta! Mas como é justa esta humilhação! [...]. Mas a vaidade, não o amor, foi a minha loucura! [...]. Até este momento eu não conhecia a minha própria natureza.” (Orgulho e Preconceito, por Jane Austen)

Espero que tenha ajudado vocês. Beijinhos ;)


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Mr Black Caçador da Escuridão 1174 pontos
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Postado 06/11/21 21:29 Link direto

Que post bacana, meu amor! Eu ainda estou aprendendo como funciona o fórum e tive a sorte de me deparar com esse post super didático e fofo!!!

Você é sempre maravilhosa. Obrigado por compatilhar da melhor forma esse conteúdo conosco.




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