Querido R.,
Ontem à noite, na incerteza, no desespero – e por mais incrível que pareça, sem incentivo do álcool, consegui verbalizar o que estava sentindo, ou melhor, o que ainda sinto. Não sei se você sabe, mas é muito difícil expressar através de palavras o que sinto.
Depois de ter enrolado, gaguejado, e finalmente ter falado, percebi que não falei tudo. Falar “eu gosto de você” me assusta muito. Minha maior fobia. Tenho medo de dizer o que penso e sinto, tanto medo que desenvolvi um bloqueio. Então, você não tem ideia o quão difícil foi admitir para mim mesma primeiro e logo tirar esse peso da consciência, já que o “e se...?” martelava na minha cabeça por semanas.
A conversa não terminou do jeito que eu realmente queria: com um beijo igual aquele filme Um Lugar Chamado Nothing Hill, mas você fez eu me sentir bem e me deu um abraço. De início não correspondi, o que não demorou para você pegar os meus braços e entrelaçá-los em sua volta.
Sei que você nunca vai se sentir do mesmo jeito que eu, mas o seu carinho de amigo nunca fez eu me sentir tão bem. Por isso escrevo essa carta que você irá ler. A minha cabeça sempre está cheia de pensamentos, mas tomar o primeiro passo foi aflitivo. Ser sincera com você - mesmo o resultado não sendo o esperado, me fez perceber que falar a verdade é a melhor opção. Guardar tudo para si mesmo pode te sufocar.
Como eu disse, tenho esse bloqueio há anos, e para parar de me sufocar eu precisei gostar de alguém (uma raridade), ser atormentada pelos meus pensamentos e admitir o que sinto.
Então, R., obrigada. Obrigada por ter sido paciente, aguentar um bom tempo de nervosismo e por me dar aquele abraço tão reconfortante.
Com carinho,
Leonor.