A porcaria da beleza que eu nunca vi,
Nayara Cristine
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 12/12/17 00:00
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 3min a 4min
Apreciadores: 3
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Palavras: 598
Não recomendado para menores de dezesseis anos
Capítulo Único A porcaria da beleza que eu nunca vi,

Capítulo único - Enfiem a beleza no meio da bunda

Sentir-se só em uma multidão não é uma ato isolado da minha mente que não consegue parar nem por um minuto sequer em meio ao conhecido das minhas lembranças que se fundem com o desconhecido do amanhã que insisto em prever, falhando miseravelmente; todas as vezes.

Chega a ser um ato comum, não é mesmo? Comum as mentes que como a minha não conseguem parar, comum como as dores que vem e vão na minha cabeça por pensar demais naquilo que nunca terei certeza. Comum com a vontade de me manter deitado na cama esperando os pensamentos simplesmente morrerem em si mesmos enquanto passam.

Mas eles nunca passam, sabe?

Continuam a fluir desgraçadamente por entre minha mente, alma e coração de uma forma que nem mesmo a dor consegue fazer parar. Continua fluindo como água em um rio, como aquele filosofo insistia em dizer, “nem sempre a mesma água e nem sempre a mesma pessoa”. Mas pelos deuses que nunca acreditei, os pensamentos me parecem os mesmos enquanto eu sou a porcaria da mesma pessoa.

É como se tudo se perdesse em meio ao suor que escorre frio em minha testa, seguido pelos malditos tremores no corpo que sei que existem pois não consigo parar a minha mente. Segue sempre um ritmo, como o coração que sinto que falha uma ou duas batidas quando tudo se inicia.

Mas a mente?

Ah...

Essa desgraçada não para, e nem creio que vai parar. Continuo vendo as desgraças que vão acontecer, continuo prevendo aquele futuro que nunca vai chegar, continuo me vendo naquela imagem borrada de batom no espelho do bar quando eu tento apagá-la com o álcool.

Mas a merda toda volta, no dia seguinte, em forma de ressaca.

Minha mente não para.

Nem por um segundo.

Eu tento explicar como isso dói lá no fundo da minha alma (que hoje eu creio que nem existe mais), mas as pessoas continuam dizendo que é normal.

Que eu sou só mais um em um total, cansado da correria do mundo, que como humano é isso que tenho.

Só é estranho que minhas enxaquecas nunca foram bonitas, poéticas ou boêmias.

Que o álcool que queima a garganta não queima as memórias do passado que me corrói e que nem mesmo apaga o futuro que eu vi segundo após segundo depois de calcular o que deveria fazer.

Mas vocês me obrigam a aceitar como comum, não é?

Como arte, poesia, como boemia da alma que matei.

Mas ainda dói.

Como qualquer porcaria que me fazem enfiar goela abaixo.

Queima como o álcool descendo em mim, me esquenta como a cachaça que peguei embaixo da pia, me fazendo suar e tremer.

Mas vocês dizem que é bonito.

Então apenas fecho os olhos e desejo que tudo passe de uma vez.

Por que a minha mente não para nem por um minuto, mas a de vocês também não para, a de vocês ainda insiste em ver a maldita beleza na minha dor.

E talvez este seja o motivo de me sentir só em meio a multidão. Pois eu nunca vou entender a poesia, o lírico e a beleza nos sinais claros que meu corpo me manda dizendo que nada vai bem.

Talvez seja melhor eu ficar sozinho, deitado na minha cama.

Estou esperando que o mundo não veja isso como mais um ato preguiçoso de quem não consegue mais se ver no espelho.

Ou ver um futuro.

Ou se ver em um futuro.

~

~

~

Adeus, a toda boemia, a toda poesia e a todo lirismo que corrói.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Adaptei o filósofo sim. Tá num' linguajar chulo sim. Desculpe.

Apreciadores (3)
Comentários (3)
Postado 13/12/17 02:33

Ual, essa obra é a personificação de todo e qualquer desabafo que não só um poeta, mas também um ser humano, gostaria de fazer ao mundo. Tudo é cheio de um sentimentalismo vívido que percorre todos nós, seres de pensamentos de nunca param ou se esgotam.

Eu realmente amei essa obra. Meus parabéns ❤

Postado 13/12/17 04:08 Editado 13/12/17 04:10

Satã, como ri alto do título (ou sub título, não sei como denominar)!

A reflexão a qual este indignado e inóspito texto remete é de fato bem peculiar e profunda, na minha modesta opinião. Usemos a história do filme Gladiador ou mesmo a atemporal Romeu e Julieta. Nessas obras, os protagonistas sofrem o Diabo e no final ainda morrerm. Todo mundo acha tudo aquilo belíssimo, edificante, etc, etc, etc. Ovações. Aplausos.

Todavia... Será que para os próprios protagonistas existe um mínimo de beleza em todo aquele sofrimento que estão passando? Não, creio vigorosamente que não. E quando a história/poesia do autor se baseia em fatos reais e/ou é intimista? Piorou, não é mesmo?

Acredito que é sobre isso que esta obra sagazmente trata: o famoso (perdão pelo linguajar) pimenta no cu dos outros é refresco. Realmente deveras inteligente, diferenciado e instrutivo!

Muito bom trabalho, Srta Nayara!

Atenciosamente,

Um ser feio por dentro e por fora que só vê beleza nas tripas desmembramentos alheios, Diablai.

Postado 06/03/18 15:51

Amo esses textos emputecidamente sinceros! ELES SÃO MUUUUUITO NECESSÁRIOS!

Mesmo! Compartilho desta frustação. Adoraria que os motivos dela não existissem, mas vivendo em qualquer sociedade, acho que sempre existirá.

Parabéns, ótima reflexão!

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