“Eu juro que nunca mais...”, foi a última frase que Jorge disse naquela casa.
Jorge era um homem da elite, muito bondoso, durante sua vida ajudou muitas instituições de caridade, levava comida para mendigos, e sempre praticava boas ações para com os pobres.
Certa vez Jorge se apaixonou. Ela era uma moradora de rua, mas tão bonita que fazia o coração do homem pular de alegria. Infelizmente quando ele contou para sua família que havia conhecido o amor, quase foi deserdado, tamanha a repugnância que os pais dele sentiram ao ouvir a notícia.
Mas querendo evitar um escândalo na sociedade, o pai de Jorge acabou resolvendo as coisas do jeito mais fácil. Simplesmente mandou que matassem a moça por quem o filho havia se apaixonado.
Quando o coitado do homem descobriu que fim teve sua amada, ele virou uma poça de ódio, espumando raiva e rancor contra a alta sociedade da qual fazia parte. Mas manteve-se quieto e aguardou a oportunidade de agir.
Fingiu para seus pais que na verdade pouco havia ligado para a morte daquela indigente, e comprou uma enorme casa para ostentar seu dinheiro.
Com seus contatos importantes conseguiu arranjar uma visita de um político de outro estado do país. Mas depois do dia da visita, o tal político havia sido declarado desaparecido. E assim, pouco a pouco, Jorge foi juntando suas vítimas.
Começou por políticos, ricos, famosos, ricos, ricos, parentes, ricos, ricos, conhecidos da família, e por fim, mais ricos, e claro, mais ricos. Foi juntando devagarinho várias pessoas de alta classe em seu porão, que havia sido decorado como um belo quarto de hóspedes para receber suas odiadas visitas.
Ele escolheu muito bem cada um de seus ilustres convidados... todos com um histórico de nunca terem doado dinheiro para a caridade, e com certos hábitos de menosprezar pessoas pobres. Inclusive, fez uma limpa em um grupo neonazi que havia descoberto existir em sua cidade.
A entrada do porão ficava muito abaixo de uma longa escada, então Jorge podia ficar lá do alto observando suas cobaias humanas irem entrando em desespero dia após dia, semana após semana.
Ele dava comida apenas um dia sim, um dia não, para deixá-los famintos, mas não a ponto de morrerem, e uma vez por dia despejava água com uma mangueira, para se divertir ao ver aqueles malditos rastejando no chão para lamber a água do piso imundo.
Imundo porque ali não havia banheiro, e todos mijavam e cagavam no chão mesmo. O mesmo chão no qual era jogada a água e a comida, que geralmente consistia em pedaços de fruta envelhecida, carne crua, arroz velho, e muita sopa fervendo, para queimar suas vítimas.
Os primeiros a ficarem presos quase enlouqueceram, se recusaram a cagar e a comer. Mas logo tiveram que ceder ao desespero da fome e se alimentar daquelas podridões, que lhes causavam diarreia. Quanto mais pessoas chegavam, mais merda ficava acumulada no chão, e mais imunda ficava a situação.
Os últimos sortudos a entrarem nesse divertido quarto da miséria foram os próprios pais de Jorge, que quase morreram de desgosto, horror e nojo com tudo o que viram. Aquelas pessoas todas que viviam em berços de ouro, agora estavam ali vivendo no meio da bosta.
Haviam ao todo 23 pessoas presas ali, e a partir de determinado momento, começou a diversão real, pois Jorge cortou completamente o fornecimento de alimentos. Passados três dias, jogou cinco carcaças de gatos mortos e disse aos prisioneiros que aquela seria a refeição.
Muitos vomitaram, vários choraram, mas alguns desesperados foram para cima dos bichos mortos e começaram a devorá-los. Era o início da perdição. Passados mais três dias, mais gatos mortos foram jogados, e muito mais pessoas se alimentaram daquela carne pútrida.
Agora sim, era carnificina que Jorge queria ver. Ele queria ver destruição, aquele bando de hipócritas se destruindo feito loucos. E para tal feito, ele deu para seus prisioneiros dez facas afiadas, e ordenou-lhes que se matassem para poderem comer uns aos outros.
Todos ficaram assustados, pareciam não acreditar na insanidade daquela situação. Mas não foi necessário nem sequer esperar por quatro horas... que o pandemônio se iniciou.
A maioria estava com as roupas rasgadas, alguns já pelados completamente. Todos fediam podridão, e todos descalços tinham os dedos dos pés encrustados em bosta fétida. O chão era um verdadeiro aterro sanitário, no qual o lixo era composto de merda, mijo, vômito, ranho, baba, sangue, menstruação, e até mesmo sêmen, pois alguns homens haviam se masturbado ali. E claro, os próprios humanos eram o pior lixo que estava habitando aquele recinto.
Com as facas em mãos, aqueles humanos ensandecidos foram para cima um do outro, esfaquearam-se e morderam-se, querendo acabar um com a vida do outro, para ter o que comer. E Jorge se divertia, assistindo tudo isso de camarote.
Sua vingança estava feita, aqueles humanos podres estavam do modo que eles mais desprezavam: na mais pura miséria.
Jorge então faz um último aviso para seus odiados prisioneiros:
– Hoje mesmo vou me mudar desta casa, irei morar na Suíça. Mas não se preocupem, eu juro que nunca mais vocês serão encontrados, pelo menos não com vida, pois o isolamento acústico da casa nunca deixaria ninguém saber que vocês estiveram aqui. Podem se matar e se devorar a vontade. Nos vemos no inferno, seus filhos da puta.