Império Além do Império
Calígula
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 12/04/16 19:56
Editado: 12/04/16 22:10
Gênero(s): Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 2min a 3min
Apreciadores: 8
Comentários: 5
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Palavras: 369
[Texto Divulgado] "Cinzas no Deserto" Uma história baseada em algumas histórias baseadas em histórias que tanto amamos, de coração. Bora ler.
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Não sabia como classificar a coisa, então pus aqui. Vá lá.

Capítulo Único Império Além do Império

As estrelas são feitas de cristais de luz, um brilho congelado que não desfaz; são desejos e paixões que galgam aos céus só para espiar o que quer que nele exista, e no império além do império (além das danças das nuvens brancas e da tela azul do firmamento) morrem e permanecem. Naquele plano são sempre frias, sempre o que são e jaz em tumbas além das tumbas, solidão além da solidão. Onde nada é nada e tudo é nada elas simplesmente são…

Lá cortejam como se cantassem, mas não cantam; rodopiam na abóboda celeste como se bailassem, mas não bailam; seduzindo e não, não vibrando, não ansiosas do próximo olhar que lhes verá o rosto sempre igual de coisa morta. Lá arcanjos penduram e rebuliçam entre hastes de diamante, e de asas douradas chovem pratas e chove paz sobre os crentes daquilo além daqui; mas não importa: a paz existirá somente na última noite, e todos sabem que é verdade quando os anjos suspiram: “A vida é longa demais”.

Da etérea neve das montanhas cardinais do outro espaço — do não espaço — chove o fogo límpido e leve das coisas nenhumas. É fogo branco, clara fumaça sem fundamento, incenso que não fede e miragem do futuro que passou depressa demais (passado que muito demora a chegar). São ânsias de desejos infinitos e já aplacados pelo impossível; impossibilidades e sacrifícios de mártires daqueles tempos de ninguém; ritos cabalísticos da eternidade que o cosmos dita enquanto os astros assoviam sem preocupação: “Tudo é morto, e tudo morto permanecerá”.

É o brilho do desalento no sonho que sobrevive em formas do original; origem que nunca houve ou poderia ter havido. Reflexo do cristal que é luz primária, mas luz que também sangra como a carne da mulher nunca antes violada, como rio de éter que em eflúvio luminoso faz-se em ondas para transpassar, mas igual aurora sem cor que não encanta não aparenta, não é sentida. Luz, uma última ilusão, um pólen seco das flores nem boas e nem más, semente dos ínfimos espíritos inexistentes e dispersos, inefáveis, idênticos e aéreos unidos a chorar um choro há muito repetido e que afirma: “Tudo existe, mas tudo nada diz e não precisa existir”.

❖❖❖
Notas de Rodapé

Não culpem ninguém, fui eu mesmo.

Apreciadores (8)
Comentários (5)
Postado 12/04/16 22:21

Jesus amado. Onde querias chegar com esse texto? Eu precisaria de uma semana lendo esse texto para chegar a alguma conclusão, hehe. De repente eu releia e tente compreender melhor o que tu quis nos trazer.

No mais, gostei da tua escrita. É um texto maduro, bem trabalho, que busca a perfeição. Parabéns e sucesso!

Postado 13/04/16 12:40

O significado é o de menos, acredite.

Muito obrigado!

Postado 12/04/16 23:37

Você definiu lugar nenhum e um lugar específico. Acho que fico mais com o lugar nenhum, porque mesmo que eu esteja apaixonada por esse Império do Além, ele parece ser bonito somente de fachada, ou é uma metáfora para algo maior, ou minha cabeça está cheia de matemática e filosofia, e por isso eu fico tentando colocar o mundo insensível de Platão e o mundo divino daquele filósofo medieval cujo nome não me recordo onde não existe.

Sinceramente, o lugar, para mim, se parece muito com um plano metafísico '-' um lugar "onde nada é nada e tudo é nada", inexplicável para nossos sentidos por enquanto, pois é um futuro que ainda não vivenciamos, mas que logo seremos os futuros espíritos ecoando o lamento da criação, que só leva a um final: esse Império Sem Fim, cujo fim é tão distante quanto a nossa trajetória até lá. Não deve ter sido isso o que você quis dizer, mas foi o que eu entendi à essa hora da noite, shuashua. Vou relê-lo alguma outra hora, quem sabe a visão muda.

E, senhor, sua escrita é simplesmente maravilhosa. São tantas palavras bonitas de se pronunciar colocadas juntas de um modo coerente *u* é de tirar os óculos, já que um chapéu não tenho no momento, shaua. Parabéns!

Postado 13/04/16 12:42 Editado 13/04/16 12:43

Seria Sêneca, talvez?

Ah, sua interpretação é milhões de vezes melhor que qualquer significado oculto.

Muito obrigado!

Postado 11/07/16 06:01

Minha compreensão sobre o texto foi/é muitíssimo limitada, posto o abismo intelectual e cultural que separa a mim de ti, Mestre Pablo... Todavia, o que pude entender é que somos fascinados, iluminados e assombrados por fantasmas celestiais, cujo fulgor e beleza na verdade há muito se foram mesmo que ainda nos alcance.

E que há um lugar além de tal espetáculo de certo modo macabro, ainda que lindo e misterioso, um local que não é composto de espaço, todavia existente em uma forma que nós, concretos, somos falhos em alcançar, sequer conhecer/perceber.

Um Império insondável, enigmático e grandioso, tal qual teu conto...

Perdoe-me por tão débil divagação e muitíssimo obrigado por, como de praxe, compartilhar de sua genialidade para conosco, ainda que alguns (como este miserável leitor, pupilo e fã teu) falhem em captar e compreender totalmente a essência e majestade de suas palavras.

AVE, MESTRE PABLO!

Atenciosamente,

Um ser opaco e sem vida, Diablair.

Postado 15/07/16 10:47

Abismo nada. E perdoar nada também. Tua interpretação é muito melhor que qualquer coisa que eu poderia ter bolado para o texto. Tanto é assim que, caso revelasse a (falta de) sentido, creio que toda a graça se perderia.

Postado 25/01/17 21:32

Olá

Esperamos, aprendemos... No Império Além do Império? Não sei, talvez. .

A superação da superação. A vontade da vontade. A vontade de poder.

A transvaloração de valores passados. Valores équios. Do acreditar. Da fé.

Essa foi uma leitura fervorosa. Crítica. Cínica. Poderosa. O Leão.

Obrigado.

Postado 26/01/17 11:21

Ah, eu nunca sei. E devo escrever essas coisas justamente por não saber. Ou, melhor: por nem saber se não sei.

Ora, eu que agradeço.

Postado 25/08/18 15:20

Adorei a sua escrita! Extremamente profunda, e a maneira com a qual você combina as palavras ao escrever ém magnifica!

Estou sem palavras para dizer o quão encantada eu estou com esse texto! <3