Ramificações de um Poeta (Terminado)
Lobo Negro Johny
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Tipo: Romance ou Novela
Postado: 10/01/24 03:39
Editado: 07/04/24 14:51
Qtd. de Capítulos: 9
Cap. Postado: 24/01/24 23:17
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 54min a 73min
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[Texto Divulgado] "Cinzas no Deserto" Uma história baseada em algumas histórias baseadas em histórias que tanto amamos, de coração. Bora ler.
Não recomendado para menores de doze anos
Ramificações de um Poeta
Capítulo 3 Ato III

Ato III

I

Mais um dia e dessa vez recebi a ligação de uma entrevista de emprego, vendedor, a entrevista seria na semana seguinte, no qual daquele momento passei a ficar uma pilha de nervos, fiquei conversando com minhas amigas e nada, vi meus filmes e nada, séries e nada, li Watchemen, adiantou, porém, acabei muito rápido. Não conseguia escrever, e estava uma pilha de nervos, a semana foi cruel, Thalia me distraía, Suzana me mostrava seus poemas com amor e ternura, Maya desabafava sobre seu relacionamento, não fui para a célula pois iria me sentir mais ansioso. Procurei uma igreja pois sentia falta e encontrei, mas não aliviou minha ansiedade, e quando finalmente chegou a entrevista de emprego fui tão ruim que nunca fui chamado para trabalhar na loja. Me senti perdido, talvez eu nunca devesse ter saído do orfanato, voltei para o apartamento, agradeci pois não faltava nada, o orfanato continuava enviando dinheiro mensalmente para mim até que eu pudesse me sustentar sozinho, com o dinheiro que tinha poderia comprar um videogame. Cheguei em casa e a limpei ouvindo música, aconselhando Maya que desabafava de seu namoro, jogando conversa com Thalia e com Suzana que me disse que haveria um novo lugar para poetas, seria chamado de Caverna do Poeta, perguntei se ela iria querer ir comigo, mas ela não poderia, então me preparei para ir sozinho. Tentei desabafar com Suzana:

— A entrevista de emprego foi um fiasco.

— Poxa, o que houve?

— Eu estava tão nervoso que parecia que eu tinha jogado água em baixo de meus braços pelo suor, e nem o gaguinho gaguejava tanto quanto eu.

— Sinto muito Elliot, mas logo você consegue um emprego, isso é normal, não cobre muito de si.

— Vou tentar, passei uma semana sem produzir poemas.

— Mas logo você volta.

— Talvez, eu não consigo conhecer ninguém, me sinto tão sozinho e sem nada para fazer.

— Não se sinta assim, você sabe que pode falar comigo e com Thalia o tempo que quiser, como estão as coisas com ela?

— Ela adora minha amizade, e só isso.

— Você gosta dela, é óbvio.

— Não é que eu goste, eu tenho bastante afinidade, mas não estou morrendo de amores, e afinal ela não gosta de mim desse jeito, ela me vê como amigo, assim como todas da minha adolescência, quando eu passava as férias aqui na cidade, elas gostavam de mim apenas como amigo.

— Você vai encontrar alguém Elliot, tenha paciência.

— Eu não entendo, me dão vários adjetivos, e depois ficam com alguém que não tem nenhum, isso sem contar que elas “ficam” muito, é muito vazio para mim sabe.

— Você tem algum problema com isso? Eu já fui em festas bebi e fiquei com alguns caras! Não tem nada demais!

— É que eu não sou assim, e parece que para conhecer eu teria que ser! Desculpa. — A conversa acabou ali. Invés de comprar um videogame achei melhor comprar um computador. Pede para entregarem, e iria demorar a quantidade de dias para iniciar a caverna do poeta. Entediado decidi escrever:

“É um grande vazio

E eu estou sendo tragado

São todos iguais

O que fizeram

Com meu amor sagrado?

Sentem-se ameaçados?

Ou apenas eu

Que devo ser evitado?

Um pária

Nos dias atuais

Amor não é nada

O prazer é tudo!

Eu não sou nada

Pois sinto apenas

Amor

Viajante do Tempo”

II

Os dias passaram e o dia da caverna do poeta chegou, duas semanas, sempre em busca de algo novo, onde poderia conhecer alguém, e evitar os conflitos que tanto o afligem, ouvindo músicas dos quais trazia a memória de seus dias no orfanato, chegou ao local, parecia um pequeno bar. Ao chegar não tinha mais que 11 pessoas, o criador Valério, e algumas pessoas, a que chamou atenção foi a jovem Jennifer, 1,69, cabelos pretos escorridos, rosto fino, olhos pretos e um belo sorriso, e corpo atlético, quanto todos viram que Elliot havia chegado, o saudaram, foi explicado que ainda era o início, e que como ele chegará dez minutos atrasados e todos já haviam recitado, então Elliot teria que recitar um, menos Jennifer pois ela foi apenas para observar, nervosamente Elliot fica dentro do círculo, as paredes eram amarelas e laranjas, mão havia nada de especial por lá:

“Quando adolescente

Era cedo demais

Para falar de amor

Agora que sou mais velho

Ainda não querem ouvir

Talvez o problema

Não seja as pessoas

Mas eu

E meu amor

Que não querem

Eu talvez nunca seja

Bom o suficiente

Pensei

Que inundaria

Pessoas

Com meu amor

Que seria igual uma enchente

Mas está sendo uma garoa

Do qual todos evitam

E eu

Me afogo

Na secura

Do vazio de amor

Viajante do Tempo”

Elliot foi bem aplaudido, e outros mostraram seus respectivos poemas, Elliot amava poesias, era algo natural, porém com a dos outros ele sempre seguia uma linha crítica primeiro e depois buscava a sentimental, só não gostava quando os poemas eram horrivelmente sem sentimento algo, ou querendo criticar algo de política, porém acaba apenas desferindo palavras de ódio e palavras chulas. Ao acabarem havia um pequeno café, e algo que Elliot amava, bolinhas de queijo, logo fez questão de ficar perto delas, Jennifer logo se aproximou dele, afinal eram os mais jovens da “Caverna do poeta”. Jennifer pegou uma bolinha de queijo e começou a puxar assunto:

— Adorei seu poema, embora triste é muito lindo! — Elliot se acostumara a falarem bem de seus escritos, mas tinha sempre em mente para não sentir-se superior por isso.

— Obrigado! Muito prazer em conhecer Jennifer, a reunião foi incrível, mas me senti em uma reunião de alcóolicos anônimos. — Disse sorrindo pela piada.

— Verdade, acho que é pelo começo, logo as coisas começam a crescer, e as pessoas começam a vir, essa é a cidade dos artistas.

— Não sabia disso.

— Bom é assim que as pessoas a chamam há tempos.

— Embora aqui sempre foi chamado JaciPolo.

— Sempre achei esse nome horrível.

— Dizem que os fundadores tiveram uma discussão, entre nomear o local de Apolo, deus do sol na mitologia grega que era responsável pela arte, e outros queria o nome da Jaci, deusa da lua dos indígenas, no qual era deusa da noite e despertava os amantes. Pois a maioria que veio para esse local eram artistas.

— Interessante, não sabia disso.

— É algo que é relembrado direto no aniversário da cidade, isso conclui que você não é daqui, certo?

— Não exatamente, morei no orfanato a vida toda, afastado da cidade, e por isso não sabia.

— Não te ensinaram sobre isso?

— Lá eles batem muito encima de filosofia, artes e sociologia, a história local não é algo que fizeram questão de ensinar. — Pela primeira vez, alguém não se espantou ou fez cara alguma sobre o fato dele ser órfão, era como se apenas dissesse que ele era de outra cidade.

— Entendi, que legal, a filosofia que estudei era chata.

— Meus professores, mentores eram minha família, então as aulas eram incríveis.

— Que legal, mas você nunca veio para a cidade?

— Vim, com o passar dos anos entrando na adolescência nós éramos enviados a vários locais da cidade alugados pelo diretor para os alunos, e ficamos aqui até a volta as aulas, quando mais novos vínhamos com algum professor e por pouco tempo, mas conforme crescemos o tempo aumentou e o professor não era mais necessário.

— Entendi, você tem amigos daquela época na cidade?

— Não, era difícil manter amizade pois não era permitido celulares para nós, então não tinha como manter contato, e eu sou antissocial. — Falou sorrindo, embora detestasse muitas pessoas Elliot gostava de conversar com pessoas queridas para ele, o problema era que todas ficaram no orfanato.

— Entendi, e do que você gosta Elliot?

— Gosto muito de coisas nerds, Star Wars, Marvel, DC Comic’s, Senhor dos Anéis, e comecei a assistir animes, são bem legais, até, também gosto de escrever e ler. E você?

— Gosto desses filmes de heróis mas apenas ás vezes sabe, nada muito como você, mas curto comédias românticas, sair para comer e beber um vinho.

— Entendo, eu não bebo nada alcóolico.

— E o que gosta de comer?

— Adoro uma comida italiana, lasanha, pizza.

— Eu sei fazer uma boa lasanha viu.

— É mesmo? Que interessante, agora você me deixou com vontade.

— Haha, quem sabe um dia você não experimenta?

— Vou cobrar hein!

— Bom, me passa seu número e me envie seus lindos poemas e quem sabe... — Elliot passou o contato dele com muita alegria. — Agora você tem chances, eu tenho que ir, meu namorado está esperando, você é um ótimo poeta.

— Obrigado, a gente se fala!

Ela deu um beijo em sua bochecha e saiu, Elliot sorriu, mas logo voltou a se sentir um azarado pelo fato de outra garota que gostou dele estar namorando, não que não sabia a diferença de gostar para um relacionamento e amizade, mas uma garota passar a conversar com ele, no qual era sem jeito e tímido, já era motivo de esperança. Ele comeu um pouco mais e conversou bem pouco com os outros participantes ali reunidos e foi embora, ouvindo suas músicas, decidiu esperar para chegar em casa para escrever seu poema no computador e ficou animado em publica-lo em sua rede social, com a expectativa que iria chamar atenção. Ao chegar em casa, Alcides estava com os amigos dele, bebendo e conversando, Elliot se apresentou e eles o cumprimentaram com gírias, Elliot quis ir logo para o quarto, mas Alcides e Ellen não o deixaram, iniciaram uma conversa com ele apenas para ele socializar, as conversas não eram produtivas, pois ele parecia falar outro idioma ou até mesmo vir de outro planeta, e passou a observar o quanto Alcides conseguia ser duas pessoas completamente distintas em uma só. Depois de conversar com ele finalmente pediu licença dizendo que iria se deitar, pois estava cansado, mas o disseram que era cedo e que era sexta-feira, Elliot não respondeu mais nada e foi para o quarto, ligou o computador e escreveu:

“Seus lábios vermelhos

Como se fosse a única

Cor existente

Como um convite

Para que eu sentisse

Tão gentil

E tratou-me

De forma natural

Não como um esquisito

Ou estranho

Adorei sua gentileza

Gamei em sua beleza

Seu beijo

Aqueceu tanto

Como se uma estrela

Me tocasse

E meu coração

Incendiasse

Viajante do Tempo”

Ele publicou cheio de expectativas, porém quase ninguém deu credibilidade, dormiu na esperança de que ao acordar teria maior visibilidade, porém acordou triste pois não aconteceu. As conversas eram incrivelmente fluídas com Jennifer, e havia química entre eles, os dias passaram e Elliot passou a escrever com mais frequência, encantava suas amigas, mas não o suficiente para que elas o vissem de outra forma.

No sexto mês na cidade, Elliot comprou seu videogame, assim o distraindo mais de sua solidão, e seus fracassos. Mas continuava a escrever e procurar alguma forma de renda e sua faculdade, o curso de inglês foi para o brejo, com o tempo a célula parou de tratar de poesias e era mais um lugar de conversa, os dois poetas que também participavam passavam por algo que Elliot definiu como “aridez poética”, e todas as conversas tinham Maitê falando de suas paixonites, as pessoas incentivando e sexualizando uma adolescente de 15 anos, fizera aniversário no último mês, mal o ouviam recitar poesias, Maya ainda conversava com ele, mas ele se fechava cada vez mais. Ele passava mais tempo conversando com Jennifer, o que fez deixar de lado qualquer esperança que tinha com Thalia, mas não preenchia esperanças apenas surfava no sentimento que emanava por ela. Preparou um poema para ler na Assembleia e na Caverna do Poeta sobre essa mudança:

“Queria que fosse minha musa

Que fosse minha poesia

Porém não quis

Ainda procuro outra

Que me queira como poeta

Ainda não encontrei

Mas largo seus cachos

Por um cabelo escorrido

Na esperança

De ter uma paixão

Que não me deixe tão

Dolorido

Viajante do Tempo”

Ao ler isso na célula, Maya e alguns outros o parabenizaram, o resto de tudo falaram menos de sua poesia, na Caverna do poeta onde já tinha 100 pessoas, foi bem recebido e Jennifer o aplaudiu e Elliot ainda mais sorriu. Ao chegar na assembleia Elliot ainda não estava sendo visto com bons olhos, porém Marcela e outras meninas eram vistas como incríveis mulheres que descontroem o “machismo”, ao subir Elliot recitou porém não foi muito aplaudido, e logo após o poema dele Fábio que era um dos administradores da assembleia, subiu e quis mostrar a frase, antes mesmo de falar ele foi aplaudido como se fosse algum grande famoso, e a frase foi: “Você não é mais minha poesia”, todos aplaudiram e ficaram até de pé, ele sorriu humildemente, era um garoto de 17 anos, cabelos claros e enrolados, franzino e no mínimo com 1,65, Elliot sentiu-se frustrado e irritado, afinal era basicamente sua poesia em uma frase, e ele foi bem recebido, começou a sentir raiva e foi embora antes da reunião acabar. E explicou para Thalia por mensagem porquê ficou tão frustrado:

— Uma frase que resume meu poema!! Aquilo foi ridículo!

— Calma!

— Eu escrevo versos falando este sentimento, um cara faz uma maldita frase, e todos o recebem bem! Aquilo não é poesia, é um insulto a minha inteligência!

— Você está nervoso demais por algo tão bobo.

— Thalia, eu passei anos estudando e ainda tento me aperfeiçoar todos os dias e além daquela idiotice da que eu sou “machista”, Marcela ainda se posa como heroína pois “descontruiu” minha mente machista, aí me vai o Fábio e escreve uma mísera frase e de repente ele está sendo aplaudido por todos como se ele fosse Homero.

— Okay, eu entendi, mas ele é um dos fundadores, então isso é normal, apenas fique calmo.

— Vou tentar, e eu conheci uma pessoa garota nova.

— Ah! Boas notícias, conte-me sobre ela.

— Conheci ela na caverna do poeta, ela é linda e não se espantou nem um pouco quando contei que eu tinha vindo do orfanato, porém...

— O que Elliot?

— Ela tem namorado. — Mandou um emoji triste.

— Você não tem sorte mesmo hein. — Ele pensou em dizer “não mesmo, nem você me quer”, mas não ajudaria em nada.

— Pois é.

— Vou tentar conhecer uma pessoa legal e solteira. — “Que não seja você” não enviou a mensagem.

— Isso aí! — A conversa acabou ali, ao chegar no apartamento viu Ellen saindo correndo e ofendendo Alcides, quando entrou Alcides sorriu e disse:

— Estou solteiro novamente. — Elliot suspirou, frustrado e decepcionado com seu amigo. Frustrado por pessoas como ele conseguirem encontrar alguém tão rapidamente, por ele mesmo não conseguir nem um encontro, e decepcionado pois seu amigo não é como ele diz ser.

— Sinto muito. — Falou Elliot com sinceridade mas não sobre o término.

— Obrigado, ela era louca, reclamou do relacionamento mas foi ela que sugeriu, ela ficava me provocando, ela é louca! — A expressão facial de Alcides e os gestos fizeram Elliot entender.

— Eita! Realmente, complicado, quem sabe assim você para de fazer estas coisas.

— Eu irei, não mais dessa coisa de ficar, vou me deitar, boa noite Elliot.

— Boa noite. — Elliot sentou-se no sofá, ainda estava cedo, 21:30 da noite, mandou mensagem apara Suzana:

— Tudo bom Suzana? Você viu “o poema” de Fábio?

— Tudo sim, você está bem? Saí antes da assembleia acabar.

— Estou bem, tirando aquela frase simplória que resumiu meu poema.

— Como assim?

— Como assim? É como se ele decidisse fazer um resumo do que escrevi e decidisse tomar fama por isso.

— Está dizendo que ele plagiou você?

— Não tinha achado isso, porém agora acho que sim!

— Elliot, não exagere, não é nada demais, e pelo pouco que sei dele, deve ter feito antes, e decidiu esperar você recitar.

— Mesmo assim, aquilo não é um poema, é uma mera frase, meu poema foi bem mais construído.

— Você leva isso muito a sério!

— É claro, eu procuro melhorar meus poemas todos os dias, quero ser escritor, e alguém com algo raso que é o resumo de um poema meu de repente é melhor!

— Cada poesia é de um jeito, e você é um ótimo escritor, vai chegar lá.

— Obrigado. — A conversa parou ali, menos sua inconformidade.

Jogou videogame e adorava se sentir dentro das histórias e aventuras, mandou mensagem para Jennifer, mas ela não respondeu, devia estar dormindo. Jogou até o sol nascer, e adormeceu quando Alcides levantava para trabalhar, acordou 12:00 e viu a mensagem de Jennifer, logo acordou e ela perguntou se ele estava bem, e se poderia fazer um favor para ele:

— Oi Jennifer, acordei agora, estou bem, e você? Se eu puder te ajudar, claro!

— Eu preciso escrever um poema ara um trabalho da escola, e não sou boa nisso.

— Okay, posso ajudar, isso é fácil para mim.

— Que bom, eu fico perdida com isso!

— Que tal almoçarmos juntos e aí eu te ajudo.

— Ótimo, tem uma lanchonete que eu gosto, hoje estou a fim de comer besteira.

— Me avisa o endereço e me juntarei a você.

— Ótimo, e muito obrigado! Você um anjo!

Elliot saiu do apartamento renovado e animado, foi ouvindo suas músicas animadas e românticas, o qual davam novas ideias de poesias alegres. Ao chegar na lanchonete ele decidiu experimentar torta de pizza, e ela pediu pastel e suco, ela não tomava refrigerante.

— E como você está? Gostei do seu último poema que mostrou na caverna do poeta.

— Obrigado, eu estou ótimo, ontem estava meio chateado, mas já passou.

— O que houve?

— Na assembleia dos poetas depois de recitar o último poema, um dos fundadores decidiu recitar o dele, e o poema dele foi “você não é mais minha poesia”. — Os olhos de Elliot se reviraram sem esconder a frustração.

— Era só isso?

— Sim, eu tento trazer conteúdo, e me aparece alguém com essa mera frase que é um resumo do que eu disse na anterior, e todos o aplaudiram como se fosse Shakespeare.

— Entendo, mas você vai conseguir se tornar um escritor excelente, e as pessoas vão perceber isso, por isso pedi para você me ajudar com o poema. — Jennifer disse sorrindo e ajeitando o cabelo mandando um certo charme. Elliot sorriu imediatamente como um reflexo não intencional.

— Entendo, não será difícil, mas em que ano está da escola?

— Terceiro, termino esse ano, logo acaba graças a Deus. — Elliot ficou aliviado, pois pensara que ela tinha a idade dele, mas quando falou de escola temeu, mas aliviou ao saber que tinham apenas um ano de diferença.

— Então trouxe o caderno para eu fazer o seu poema? Não o poema para você, mas para sua tarefa, não que não mereça um poema, mas é para sua tarefa então não tem como eu fazer um poema especificamente para você. — Ele ficou vermelho, e ela riu.

— Então, aqui está, e relaxa, fica para outro dia. — Ele pegou o caderno e escreveu:

“O amor parece zombar de mim

Sempre com coisas impossíveis

E as pessoas o deixam de lado

Eu não sei

E não entendo

Devo entender?

Ou me abster?

Quero amar

Desejo ser amado

Mas há tanto no caminho

Como se fossem só espinhos

E nenhuma rosa

Viajante do Tempo”

Elliot entregou o caderno, ela leu e adorou:

— Amei, vou ganhar uma ótima nota, vou até mostrar para meu namorado ele não sabia como me ajudar ele não é romântico sabe. — Aquilo foi como um soco no estômago, tentou disfarçar ao máximo o desconforto, e depois mudou o assunto.

Passou a tarde com Jennifer andando pela cidade, e quando foi 17:00 decidiu ir embora, se despediram e seguiram separadamente, Elliot só pensava em como mulheres queriam alguém romântico mas aceitavam quem não era, e que deveria tentar conhecer alguém que estivesse solteira, mesmo que apegado a Jennifer era melhor não se apegar a alguém em um relacionamento.

III

Os outros seis meses passaram rápido e Elliot não conseguia nem emprego, ou faculdade, embora seus poemas evoluíam, e fazia novas amizades, mas nada que o levasse a ter um encontro, sentia-se sempre desprezado e sozinho. Alcides continuava a vida que dizia que não fazia parte, se divertiam juntos pelo videogame, conversavam e Elliot mantinha a esperança de que ele deixaria aquelas coisas fúteis. Maya ainda continuava com seu namorado e o relacionamento complicado, Thalia era sua amiga do qual ele não deixava se aproximar demais e nem se distanciar muito deixava na “medida certa”, Suzana passara a não recitar mais seus poemas na assembleia passando por um momento de escassez criativa, isso e Elliot detestava quando ia conversar com ela e estava bêbada, e acabava zombando do jeito de ser de Elliot. Jennifer ainda estava namorando, e ia e vinha algo a mais, as reuniões pararam quando iniciou dezembro. O natal estava adiante de Elliot, e este estava deprimido pois teria que passar o natal com Alcides na esperança de que não convidaria os amigos dele, sentia saudades do orfanato, a mansão toda era decorada naquela época, uma grande árvore feita no salão, uma comida deliciosa para todos os gostos, ficar acordado a noite toda conversando com o professor Marcos ou se divertindo com jogos de tabuleiros e outros colegas. No ano novo também passava a noite acordado, mas adorava esperar pela meia noite, era de costuma comer antes da meia noite e quando fosse a hora irem para trás do orfanato e ver os fogos de artifício que soltavam na cidade, todos ficavam olhando, Elliot era sempre o último querendo estender cada momento com todos, e depois ficava acordado até todos irem dormir e ia para a biblioteca e lia seu livro “A ilha do tesouro”. Agora já não havia nada disso, nenhuma das amigas o convidou para isso.

Era véspera de natal, e no fim das contas era apenas Elliot e Alcides, pediram pizza, jogaram videogame, Alcides foi dormir, enquanto Elliot parou para escrever algo, e responder as mensagens de “Feliz Natal”, respondeu educadamente, apenas Jennifer que dedicou mais carinho, e então decidiu escrever:

“Ano passado estava cercado

De família e esperança

Hoje completamente só

Apaixonado por alguém

Que está com outro

Poemas profundos largados

Por poças rasas e sujas

Meu amor sempre em dúvida

Um mundo que não

Consigo entender

Muito menos viver

É natal

E nunca estive tão só

Sem esperança

Família

Ou amor

Mas

Feliz natal

Digo a todos sorrindo

Viajante do Tempo”

Passou a noite em claro jogando videogame, e dormiu ao raiar do sol, não fez absolutamente nada de produtivo o dia todo. As semanas passaram rápido e não viu ninguém a não ser Alcides e seus amigos inconvenientes, a única coisa que jamais deixara de fazer foi escrever e por isso invés de vários poemas, ele decidiu fazer um único poema escrevendo um pouco todos os dias até o fim do ano:

“Saí repleto de esperança

Não sabia que seria tão ruim

Viver em mundo que não conhecia

E de companhia verdadeira

Apenas minha poesia

Sinto que nunca me contaram

Como o mundo realmente era

E que mentiram

Sobre quem eu poderia ser

Vejo que não sou especial

Que sou estranho

É um fato incontestável

Que talvez

Eu não seja amável

Sirvo para ouvir

Fazer rir

Ajudar

Mas para amar

É um limite

Do qual não consigo ultrapassar

O mundo é grande

Mas parece ser pequeno

Para meu amor gigante

E meu ser ultrapassado

O diretor disse

Para não nos apegarmos

Mas como não querer

O que tive de melhor?

É um mundo estranho

Sou completamente ignorado

Chamado de intolerante

Sinto-me

Tão insignificante

Querem ficantes

E queixam-se

De não ter amante

Não amam

Eu talvez

Não seja profundo

Apenas estranho

Nenhuma delas me olha

Como eu gostaria de ser visto

Como um amor

A ser nutrido

Eu sou divertido

Mas vim para cá

Demasiadamente iludido

De ser amado

E reconhecido

Talvez fracassei como escritor

Como alguém a ser amado

Pelo menos a poesia não me abandona

Estou tão inseguro

E minhas dúvidas

Aumentam

Mas sem respostas

Lodo duvidarei da poesia

Logo é dia 1 de janeiro

Quem sabe

Espero eu

Que Deus tenha algo melhor para mim

Feliz Ano novo!

Viajante do Tempo”

Os fogos começaram, enviou mensagens para as amigas, e passou a noite acordado sozinho novamente jogando, cada uma delas com a família, namorado ou viajando, Suzana em festa bebendo. Crescia cada vez mais a sensação de que estava deslocado, não pertencendo a lugar algum. Duas semanas depois do ano novo, Elliot recebe uma mensagem de Jennifer:

— Oi Elliot, como foi seu ano novo?

— Oi, foi como o natal, e o seu?

— Ruim, eu queria desabafar, pode sair?

— Claro, o que acha de irmos à praça central e tomarmos um sorvete?

— Pode ser, que tal 15:00?

— Está combinado. — Não demonstrou muito entusiasmo pois estava finalmente conhecendo uma garota que estava interessado nele, e as coisas iam bem, mesmo que não haviam marcado um encontro, estava indo na alegria de conhecer ela, mas sem expectativas ou nenhuma paixão evidente.

Ao chegar na praça, foi direto ao centro atraído pela obra de arte escultural, Uma estátua de Apolo Tocando a mão De Jaci, a “deusa” da lua dos indígenas, a estátua era grande, de dois metros no mínimo e as duas pareciam aquelas estátuas feitas por Michelangelo, os dois se encontrando e buscando conhecer.

— Oi Elliot. — Jennifer falou atrás dele com uma voz entristecida e o rosto também como pode ver quando se virou para ela.

— Oi, o que aconteceu, você está abatida!

— Então, é uma longa história. — Ela deu um sorriso sem graça.

— E eu tenho tempo, afinal viemos aqui para isso, ou veio apenas por querer ver meu rosto? — Disse brincando.

— Vamos nos sentar primeiro. — Sentaram em um banco.

— Então Jennifer, o que houve?

— Então, eu terminei com meu namorado. — Elliot agora ficara em choque, os pensamentos estavam a mil, seria essa chance que ele tanto queria? Seria cedo demais para se declarar? Ela o rejeitaria? Ou apenas o usaria como carência?

— Sinto muito. Quer falar de como aconteceu?

— Resumindo, ele vai se mudar da cidade, vai para o Rio de Janeiro.

— E não irão tentar a distância? — Elliot fazia perguntas que deixava na linha tênue de cuidar dela como amigo e se poderia investir como um futuro amante.

— Não dá, não conseguiria, e ele está indo sem necessidade, apenas para dizer que viajou e uma jornada de auto descoberta. — Ela começara a chorar e Elliot logo a abraçou.

— Eu sinto muito, se houver qualquer coisa que eu possa fazer, me fale.

— Apenas passar tempo comigo até esquecer isso, pode ser?

— Claro. — Sorriu sinceramente, embora em seu pensamento haja um medo de não querer tirar vantagem, mas querer ter algo com ela, sem se esquecer da garota que estava conversando. Passaram a tarde conversando e fazendo Jennifer se sentir melhor e em nenhum momento ele comentou sobre o horrível final de ano que tivera.

Enquanto o mês ia passando, Jennifer e Elliot se tornaram mais íntimos, e ao mesmo tempo ele e a Geórgia que tinha interesse nele também, ficando em dúvida e decidindo conversar com Alcides sobre que fazer?

— Então como estão as coisas mano?

— É estranho te ouvir dizer mano Elliot, estão indo, e você?

— Tirando o desemprego? A falta de curso e faculdade, ótimo!

— Relaxa, você vai conseguir, não se cobre tanto, e namorada, alguma?

— Então, estou conhecendo a garota nova, Geórgia porém há alguns dias Jennifer me contou que terminou com o namorado dela.

— Isso é bom para você certo?

— Ela está fragilizada, e eu não quero me declarar neste momento frágil e depois ser magoado, ou magoar Geórgia.

— Bom, vá conversando com as duas mas sem investir sabe, no caso de Jennifer acho que deva investir mas sua preocupação sobre ela estar frágil é normal, agora a tal de Geórgia, no pior dos casos você tem mais uma amiga.

— Entendo, realmente não parece nada demais.

O mês de janeiro passava, e não conversava com Suzana, Thalia ou Maya, e aguardava ansiosamente o retorno das reuniões de poesia, algum lugar onde poderia ser lido e expressar de forma artística o que havia no cerne de sua alma. Quando se iniciou o mês de fevereiro a primeira reunião que teria seria na caverna do poeta, onde iria se encontrar com Jennifer, e recitar um poema que fez pensando nela, embora ajudasse ela, continha-se para não fazer nada, mas dava sutis sinais de que gostava dela. Agora a caverna estava lotada, logo teria que mudar para um lugar maior, Elliot logo foi chamado para recitar, sendo um dos primeiros a participar do início, davam prioridade para tal:

“Os dias são mais alegres

Sua presença fascina

O seu sorrir

Bálsamo a minha alma

Quando chorava

Senti-me impotente

Mas ao te ver sorrir

Fico alegre

Escondo-me

Através dos versos

E meu coração grita

A poesia pode ser alta

Mas eu sufoco

Para que ao sair

Meu coração não seja lesionado

Pois nego de pé firme

Que por ti

Estou apaixonado.

Viajante do Tempo”

Aplaudido, reconhecido, Elliot estava feliz, foi até Jennifer ela o parabenizou:

— Maravilhoso como sempre!

— Obrigado!

— Talvez você possa me ajudar novamente? — Falou com um certo sorriso malicioso

— Claro!

— Eu quero um poema para me declarar para um garoto que estou apaixonado. — Ela sorriu alegremente, mas Elliot não conseguiu disfarçar a tristeza que aquela frase trouxera, cerrando os olhos para não haver lágrimas, ele respondeu:

— Claro, só me falar um pouco sobre ele...

— Ele se chama Elliot sabe... — Ela sorriu olhando para ele, que abriu os olhos e ficou grandemente feliz. Ele a abraçou fortemente, ela se perdeu em seu abraço de urso, tudo havia parado ao redor deles, Elliot não se importou com nada, havia alguém recitando algum poema ao fundo mas não queria saber, nem das pessoas olhando aquilo.

— Eu sei que temos que conversar, mas eu preciso ir embora.

— Por quê Jennifer? Esse momento é tão magnífico...

— Teremos mais, e melhores.

— Mas porquê?

— Como acabei o ensino médio, minha família irá viajar comigo.

— Entendo, e é amanhã de manhã?

— Exato, eu só não aguentei mais não te falar.

— Tudo bem, não vai demorar. — Eles se abraçaram e Elliot a acompanhou até o ônibus, cada um foi para casa, mas Elliot sentia-se nas nuvens.

Ao chegar em casa Elliot contou para seu amigo:

— Jennifer disse que está apaixonada por mim!! — Elliot nem fechou a porta do apartamento quando falou isso.

— Que maravilha, aí sim, finalmente! Você merece, você beijou ela? — Elliot então parou de andar e hesitou em responder.

— Não.

— Porquê?! — Alcides perguntou alterado.

— Eu abracei ela, estávamos na caverna do poeta e então, ela disse que precisava ir.

— E deixou ela ir sozinha?

— Eu a acompanhei até o ônibus.

— E porque não beijou ela lá?!

— Eu não sabia se ela queria. — Falou Elliot cabisbaixo. — Não parecia o momento.

— Cara se ela está apaixonada por você, acredite ela quer, mas logo que voltar vocês se beijam e se amem.

— Realmente. Obrigado Alcides. — Elliot foi escrever sua alegria:

“Ouvir que está apaixonada por mim

Parece uma grande alegria

Poesia finalmente

Fez sentido

E posso rimar amor

Sentir o seu abraço

E sua beleza

Tanto pedi a Deus

Para essa sensação

Meu coração é teu

E quero receber o teu

Trocar e transbordar

De amor

Sentir seu beijo

Dizer que me quer

Expressar tudo

Que com palavras não consigo

Só de estar apaixonado!

Viajante do Tempo”

Ficou alegre, e então contou para Thalia, Suzana e Maya, a primeira a responder foi Thalia:

— Fico feliz por você, sabia que ia encontrar alguém!

— Obrigado, estou ansioso e nervoso.

— Por que nervoso?

— Eu não sei o que fazer agora.

— Saia com ela, fique com ela.

— E se ela só quiser ficar? Eu não sou assim!!

— É aí que você conversa com ela rs. Não fica nervoso por algo que você não sabe, espere ela voltar.

— Entendo. Obrigado Thalia, e você alguma novidade?

— Na verdade não. — Disse Thalia escondendo algo de Elliot, que agora estava uma pilha de nervos pelo medo de Jennifer só querer ficar com ele, ou usá-lo como alguém a matar carícia. Enquanto pensava Suzana mandou mensagem:

— Aí sim, parabéns Elliot, finalmente teve seu primeiro beijo romântico? — Com uma sútil chacota.

— Ainda não... Eu estava nervoso e não sabia o que fazer, ou se ela queria. Porém agora estou com medo de ela estar apenas carente pelo recente término.

— Eita! É natural não há nada com que se preocupar, você irá perceber quando for a hora.

— Eu tive meu primeiro beijo com 12 anos, e foi natural, então relaxa.

— Entendi. — Elliot não quis falar nada, mas não tem nada de “natural” em uma garota de 12 anos beijando, isso novamente o fazia questionar seu lugar no mundo e como ele se sentia “atrasado” e até mesmo o que as pessoas consideravam naturais. Maya manda mensagem:

— Parabéns, espero que seja feliz, não posso falar mais pois estou em uma “DR” com meu namorado.

— Obrigado, e espero que esteja tudo bem aí no médico. — Elliot não sabia que “DR” era discutir relação.

Passou a noite em claro escrevendo, e com medo:

“Será que sou importante?

Ou apenas algo a ser usado?

Realmente gosta de mim

Ou sou meio para o fim?

Não é querer duvidar

Mas eu tenho medo

Medo desse jeito estranho

Que as pessoas têm para amar

E do que chama de “natural”

Só faz eu me sentir um anormal

Ou atrasado

Só quero que isso seja verdadeiro

Não apenas algo derradeiro

Viajante do Tempo”

Dormiu tarde e mal depois de escrever, e acordou sem nenhuma mensagem de Jennifer, enviou algo para tentar uma conversa, mas ela não recebeu a mensagem, o que o deixou aliviado, mas ainda mais ansioso, passou o sábado jogando e vendo Harry Potter pela primeira vez. O tempo passava e nada acalmava seus pensamentos, nenhuma mensagem de Jennifer, nenhuma reunião de poesias para ir ao sábado, jogava e nada. Quando foi 20:30 da noite, recebeu uma mensagem de Jennifer:

— Oi, como foi seu dia?

— Oi, foi tranquilo, e o seu? — Elliot não quis revelar sua ansiedade ou insegurança.

— Foi bom, porém eu preciso conversar com você sobre algo que descobri.

— Okay....

— Eu estou grávida. — Mandou um emoji de vergonha e um com a mão no rosto.

Elliot estava em choque, primeiro pela ideia de que ela já havia feito sexo, enquanto ele ainda nem havia beijado, e como alguém que escolheu se casar primeiro para se relacionar sexualmente, e agora a noção de que ele não pertence ao mundo era maior do que antes, e estava apaixonado por uma garota grávida. Ele não sabia o que fazer, era demais para alguém que nem havia beijado, ele não tinha a maturidade para lidar com isso e depois de se acalmar respondeu:

— E o que você vai fazer?

— Primeiro falar com o pai do bebê.

— E depois?

— Ter o bebê, isso muda algo entre nós Elliot? — Agora ele que tinha medo de ser magoado, estava prestes a magoar alguém, e era alguém que realmente queria estar junto mas ele não estava pronto para algo tão complicado e não queria magoar ela.

— Sinto Muito Jennifer, eu não estou pronto para algo assim, é demais para mim, ainda serei seu amigo se quiser, me perdoe se magoei você.

— Eu entendo Elliot, fica tranquilo.

E foi a última mensagem de Jennifer por duas semanas.

IV

Na segunda feira após a conversa com Jennifer pelo celular, após sua rotina de procura de emprego, faculdade a noite encontrou-se com Thalia para a assembleia dos poetas, onde recitou o poema:

“Não estou pronto

Para o que pudéssemos ter

Queria muito

Mas é demais para mim

Sou um estranho

Não compreendo as coisas

Temo compreender

E me perder

Eu quero você

Mas não desse jeito

Como me dói o peito

Saber que feri a ti

Como dói-me

Pois não tem como consolar

E que afinal de contas

Não poderei te amar

Viajante do Tempo”

Aplaudido por alguns, ignorado por outros, isso se tornara a assembleia dos poetas para Elliot, foi de encontro a Thalia e sentou-se ao lado dela, ouviu em silêncio as pessoas recitarem poesias, algumas fofas, outras lindas, outras degradantes e outras até ofensivas. Quando acabou a reunião Suzana foi ver ele, e fez um sorriso malicioso perguntando:

— E então? Seu apaixonado! Teve seu primeiro beijo?

— Não, não vai rolar nada entre eu e ela.

— Por quê? — Perguntou Thalia com um olhar confuso. Eles começaram a andar para fora, e Elliot com o andar triste e respirar pesado, ao cruzar a porta suspira e responde:

— Ela está grávida, me mandou mensagem no sábado à noite.

— É seu!? — Perguntou Suzana abismada, no que resultou no olhar de confuso e decepcionado.

— Que esperma poderoso o meu! Nem beijei ela e agora ela carrega meu filho? Claro que não é meu Suzana, que pergunta, parece que não me conhece.

— Desculpa, vai que.... — Thalia começou a rir da situação.

— Eu não sou como os outros Suzana. — A voz de Elliot era firme e seu olhar sério.

— Desculpa... — Então é por isso que não vai tentar nada com ela? — Interrompeu Thalia com a pergunta.

— Sim, eu não estou pronto para algo assim, poxa eu sou virgem, eu me guardo para me casar e vou namorar alguém que não fez isso, e que vai ter filho com alguém? E eu nunca namorei, isso é complicado demais.

— É uma opção linda Elliot.... — Falou Thalia — Mas parece que você julgou ela por ter transado com o namorado dela. — Interrompeu Suzana.

— Não estou julgando ninguém, é apenas duas realidades diferentes e se ela não estivesse grávida eu namoraria com ela, mas isso é complicado demais, seria melhor eu entrar no relacionamento e complicar ainda mais a vida dela? — Perguntou em um tom de raiva para Suzana.

— Entendi, está certo. — Ela ficou um pouco sem graça e não falou mais nada.

— Sinto muito, mas vai dar tudo certo Elliot. — Falou Thalia, os três andaram no ônibus e ninguém falou mais nada.

O dia seguinte à noite foi para a célula de poesia, recitando outro poema, agora pessoas novas estavam lá, mas Maitê ainda era um incômodo para Elliot que tentava trazer poesia e ela estava lá para suas futilidades, porém Maya fazia muitos pararem, inclusive os dois poetas que buscavam inspiração:

“Eu mostro

Mas ninguém enxerga

Que sou diferente

Não sou como todos

Não quero ser

Mas insistem

Que eu seja

Dizem para

Cada pessoa se aceitar

Mas insistem

Que eu não me aceito

Depois de causarem

Tantas dúvidas

Dizem para eu mudar

Eu só quero

Ser quem sou

Sem tentarem

E sem tanto

Em minha cabeça

Falarem

Viajante do Tempo”

Aplaudido por pouco tempo antes de voltarem a conversar sobre vários temas, Maya se aproximou e o abraçou:

— E então garanhão, conte como foi seu primeiro beijo?

— Não rolou, e não deve vir dela, ela teve que ir embora logo após se declarar, na viagem de final de semana descobriu que estava grávida, e eu decidi não me envolver, não estou pronto para isso, um relacionamento com alguém que está grávida do ex-namorado, é demais para mim, eu nem beijei e é dar um passo maior que a perna.

— Entendo, eu quase perguntei se o filho seria seu, mas lembrei que você é puritano demais. — Ela disse isso dando um sorriso forçado e revirando os olhos.

— Qual o problema que as pessoas têm comigo? Por que eu tenho que “curtir” como vocês? Não sabem me respeitar ou que eu seja diferente.

— Isso é porquê você viveu a vida toda com meninos e doutrinado em uma religião ultrapassada. — Elliot não respondeu nem olhou para ela, com a cara fechada ele saiu para longe de Maya e foi embora deixando-a sozinha.

Cada dia mais confuso, mais perdido e sem referências. Logo que chegou se deitou, as lágrimas rolaram pelo travesseiro, a culpa de ter magoado Jennifer, as pessoas o pressionando a deixar de ser quem é, Elliot estava naufragando em um oceano de desespero e cada vez mais os acontecimentos o puxavam como uma âncora para o abismo.

No dia seguinte acordou com um pedido de desculpas de Maya, ele apenas respondeu “desculpada” e não disse mais nada, porém Geórgia começou a conversar com ele, e a semana se passou, não quis conversar com Maya ou Suzana, muito menos Alcides pois já estava com outra namorada, e as coisas iam bem com Geórgia, a conversa foi ótima durante aquela semana e a seguinte.

V

Elliot não quis ir para a célula de poesia para evitar ver Maya, continuava rejeitando as mensagens dela, e falava apenas com Geórgia e ela começou a dar sinais de que estava realmente interessada nele e Elliot não estava pensando nisso, no domingo ia a igreja, mas ainda estava cheio de dúvidas, embora nunca duvidou de sua fé, duvidava de Deus e seus propósitos para ele e desta vez não tinha alguém para conversar que o entendesse, e para piorar a situação Geórgia quis marcar um encontro e Elliot pensando em apenas sair com uma amiga marcou para a primeira semana de março. Sendo a terceira semana de fevereiro, Jennifer decidiu mandar mensagem para Elliot:

— Oi, tudo bom? Faz um tempinho né?

— Como você está? Me desculpe por ter magoado você!

— Está tudo bem Elliot, eu fui no médico e eu.... Perdi o bebê. — Ela mandou um emoji triste.

— Eu sinto muito. — Ele disse mas ficou em dúvida se ela o perdeu ou abortou mas preferiu não perguntar e esquecer a questão, já tinha muita coisa que o perturbava e não queria iniciar uma discussão ou debate sobre suas morais cristãs.

— O que acha de conversarmos e quem sabe voltarmos de onde paramos? — Nesse momento Elliot não sabia o que fazer, afinal estava para sair com Geórgia que demonstrava cada vez mais interesse e até um sentimento por ele, e não sabendo que poderia sair como amigo de Geórgia e iniciar algo com Jennifer, sua honestidade foi uma faca que cortou duas almas.

— Eu estou conhecendo outra garota...

— Entendi, tá bom então Elliot, fique bem! — Jennifer não falou mais com Elliot.

— Sinto muito. — Ela não respondeu nada.

Elliot ainda desempregado, sem faculdade, e sentindo o peso de ter magoado alguém que gostava tanto duas vezes. Alcides o viu cabisbaixo quando chegou do emprego, e estava animado:

— O que houve com você? Está desanimado.

— Eu magoei a Jennifer de novo.

— Não sabia que a tinha magoado uma vez, o que aconteceu?

— A primeira vez, foi no final de semana que ela viajou, e ela descobriu que estava grávida, preferi não me relacionar com ela porque seria complicado demais para mim, eu nem beijei e minha namorada estaria grávida de outro cara.

— Realmente, não está errado.

— Obrigado por nem cogitar que o filho era meu. — Alcides sentou do lado dele no sofá e fez uma careta que demonstrava o absurdo daquele pensamento.

— Você ter um filho, quem pensa isso não sabe o quão centrado você é nos princípios.

— Então... Eu continuei conversando com Geórgia que está interessado em mim, e marquei de sair com ela, e Jennifer disse que perdeu o bebê e queria saber se poderíamos tentar e eu falei que estava conhecendo a Geórgia. — Alcides arregalou os olhos para Elliot e colocou a mão na cara.

— Por que? Por que? Por que!!? Por que fez isso?

— Eu estava sendo sincero.

— Cara, você poderia ter saído com a Geórgia como amigo, sem nada e ainda se relacionar com Jennifer! — Elliot olhou para Alcides de forma confusa.

— Poderia?

— Sim!!

— Mas Geórgia parece realmente gostar de mim.

— Mas você sente o mesmo por ela?

— Acho que não, mas é que seria um encontro.

— Cara, você poderia ter saído com ela como amigo e se relacionar com Jennifer, Geórgia pode gostar de você e você ir tentando dar uma chance mas ainda pensando em outra e se ela já está pensando em você deste jeito, ela já gosta de você e mesmo que dê uma chance se não corresponder a magoará. — Elliot não acreditava que estava ouvindo isso de Alcides e estava assustado com o erro que cometera, além de magoar Jennifer acabaria magoando Geórgia. — Eu nunca pensei dessa forma, obrigado, preciso pensar no que vou fazer. — Se levantou e foi até seu quarto onde escreveu:

“Eu falhei

Fracassei

E alguém incrível magoei

E outra inocente

Magoarei

Fui egoísta

E medroso

Ingênuo e odioso

Talvez eu não mereça ser amado

Apenas punido

Por magoar pessoas

Invés de amá-las

Viajante do Tempo”

Ele dormiu e acordou com mensagens de Geórgia, toda carinhosa e amorosa, agora percebendo o erro que cometeu, não sentia nada por ela, nem um pouco. Passou a manhã evitando as mensagens dela, não queria de jeito nenhum conversar porque teria que ser sincero e isso a magoaria demais, fez tudo que sempre fazia, procurou emprego jogou, viu filmes, procurou faculdade, e tomou coragem para fazer o que precisava, e ao anoitecer antes de enviar a mensagem Alcides chegou:

— Cara, esqueci de te dizer que consegui outro emprego!

— Parabéns. — Elliot já começara a se sentir pior por ainda estar desempregado e seu amigo estava no segundo emprego, mesmo que feliz pelo amigo, sentir-se inútil era impossível.

— E para você consegui uma entrevista amanhã de manhã! — Elliot pulou de alegria do sofá e abraçou seu amigo.

— Obrigado, muito obrigado, que horas?

— Nove da manhã, podemos ir juntos aí você se arruma certinho e creio que dará tudo certo!

— Beleza, pode deixar, novamente muito obrigado! — Elliot ficou esperançoso.

Preferiu não ter a conversa com Geórgia para não o deixar preocupado ou triste para a entrevista. Na manhã seguinte ele vestiu uma roupa social, e foi com seu amigo, a entrevista foi ótima e ele voltou com alegria e quando tomou coragem enviou uma mensagem para Geórgia:

“Oi, bom dia, espero que tenha dormido bem, desculpa não estar muito falante, mas estes dias tem acontecido muita loucura e preciso ser sincero com você, você parece gostar muito de mim e infelizmente eu não consigo retribuir este sentimento, e eu não quero arriscar tentar algo com e você se apegar mais ainda a mim, podemos ser amigos se quiser, se não quiser eu entendo”.

Esperou ansiosamente pela resposta de emprego e de Geórgia que respondeu:

“Oi, eu dormi sim, eu agradeço a sinceridade pois assim é melhor mesmo, pois não fico mais apegada, só preciso de um tempo, beijos”.

Elliot pelo menos estava tranquilo sobre isso, e dois dias passaram e nada do emprego, quando Alcides finalmente chegou:

— E ai, tudo bem?

— Sim, estou bem sim resolvi as coisas com a Geórgia.

— Ótimo, mas eu tenho más notícias sobre o emprego... Eles deram para a sobrinha da gerente. — Elliot ficou triste e era visível em seu rosto.

— Eu entendo.

— Desculpa cara, mas você sabe que posso ajudar em qualquer coisa de despesas, e ainda tem o dinheiro do orfanato certo?

— Sim, mas eu não queria continuar precisando dele.

— Vai dar certo, uma hora você consegue ter. — Elliot apenas se levantou e foi para seu quarto, decidiu tentar mandar mensagem para Jennifer em um ato ousado de tentar se reconciliar.

— Jennifer, tudo bom? Podemos conversar? Por favor! Ela demorou a responder.

— Oi, o que você quer?

— Eu cometi um erro, me desculpe!

— Que erro? Está desculpado!

— Eu não deveria ter dito não para você, me desculpe, eu não sinto nada pela outra, eu gosto mesmo é de você! Quer tentar dessa vez? Podemos nos acertar?

— Não! Não quero Elliot! Seremos só amigos!

— Entendo!

Ele estava novamente quebrado, mas dessa vez tinha consciência de que tudo isso foi consequência de seus atos, chorando por sentir a perda e pela culpa, isolou-se escrevendo:

“Foi culpa minha

Mas por que não me perdoar

E aceitar?

Passei tanto tempo

Em seu olhar

E estava com outro

Agora comigo

Devo não errar?

A primeira vez

Foi condição sua

E eu achei melhor

Seguir

Agora foi você

Que não me quis

Dessa vez deve ser definitivo

Porque nos acertaríamos?

Sem ser por um sentimento em comum

Pensei que seríamos nós

Mas apenas apertei

O nó que me sufoca

Viajante do Tempo”

Elliot passou o final de fevereiro sem sair de seu quarto, tomou coragem e decidiu ir na primeira reunião da Caverna e recitar seu poema, e assim o fez, aplausos bem recebido mas sem o rosto de Jennifer, ela não estava lá no final foi anunciado uma célula da caverna com local e lugar marcado, na região sul da cidade em um campo de futebol, Elliot se animou com a ideia, e decidiu ir apenas lá, não estava a fim de conversar com Thalia, Maya menos ainda, Suzana começara a deixar de ser “amorosa” e ser chata. A célula seria na semana seguinte, o qual Elliot só podia esperar.

VI

Fui desanimado para a célula da Caverna do Poeta, como pude cometer tantos erros? Magoar pessoas? Eu deveria ser melhor que isso, mas parece injusto que Jennifer não queira me dar uma segunda chance, afinal passei seis meses apaixonado por ela, e era doloroso pois ela estava com outro, isso parece ser birra, a mágoa a está impedindo de pensar perdoar devidamente, só espero que consiga ter reconhecimento nesta nova célula, nenhum reconhecimento é demais para um poeta, portanto que não o mude ou se torne arrogante. Ao chegar no campo de futebol, tinha um grupo de 20 pessoas, me aproximei nos cumprimentamos e chegou a hora das poesias, logo eu fui e recitei:

“Eu a magoei

Não a culpo

Apenas não compreendo

Como um sentimento tão bom

Pode ser mais fraco

Que a mágoa?

Dói

Mas fiz o possível

Pedi perdão a ti

Mas teu amor

Eu perdi...

Viajante do Tempo”

Aplausos, e nos conhecemos andando para cumprimentar outro rapaz me esbarrei com uma garota, ela era e baixinha, 1,57 de altura, parda ou melhor como dizem “da cor do pecado”, cabelos castanhos claro e escorridos, olhos pretos nem parecia uma adulta e com sua voz de criança:

— Me desculpe.

— Está tudo bem, prazer me chamo Elliot.

— Kate, muito prazer, gostei do seu poema, já vi você pela Caverna do Poeta uma vez, você tem talento.

— Obrigado, nunca te vi por lá.

— Fui apenas uma vez, muita gente, mas adorei essa ideia de célula.

— Entendi, então o que você costuma fazer por aqui?

— Eu trabalho em uma revendedora de carros e faço faculdade de engenharia, e você?

— Bom, eu quero fazer o curso de letras, mas ainda não consegui e estou desempregado...

— Mas isso é só uma fase, logo você consegue. — Conversávamos olhando diretamente nos olhos, era tão linda como uma boneca.

— Você quer sair para comer alguma coisa? — Ainda estava cedo, 21:00 e sexta-feira esperei que ela aceitasse.

— Pode ser, onde nós vamos? — Perguntou animada.

— Que tal uma pizzaria?

— Adorei, vamos por aqui, meu carro está logo ali! — Eu fui animado, mas um tanto intimidado, ela já conquistara tanto e eu nada.

Andei ao lado dela, e quando me deparei com o carro, era pequeno, me esforcei para entrar, e fomos para uma pizzaria no centro, entramos, um garçom ofereceu uma mesa referindo-se a nós como um casal, embora ao mesmo tempo dissemos que não éramos, não foi um incômodo mas um elogio, nos sentamos e pedimos pizza, que noite mágica, conversamos a noite toda, desde filmes a livros, infância e tudo mais:

— Mas você não conheceu seus pais amor? — Ela soltou aquele apelido de forma tão natural que avermelhei de vergonha e de alegria. — Me desculpa, é que eu me apego rápido e você é tão gentil e bonito.

— Tudo bem, eu gostei. — Eu sorri com vergonha, foi uma das poucas vezes que uma menina linda me elogiara, eu estendi a mão para ela e ela segurou minha mão, ficamos tão felizes, meus olhos lacrimejaram de alegria. — Então... Anjo. — Continuei e ela sorriu maravilhosamente. — Nenhum menino do orfanato conhece os pais, só sabemos que crescemos lá, se fomos abandonados ou aconteceu algo com os pais, não temos ideia.

— Entendi, me desculpa pela pergunta.

— Está tranquilo, tinha que saber de alguma forma.

Ficamos até 00:00 jogando conversa fora, quando o garçom pediu para irmos pois iriam fechar, pagamos as contas e então ela me levou para minha casa:

— Adorei te conhecer, Anjo. — Ela sorriu

— Eu digo o mesmo, Amor. — E ela se aproximou, foi um imã que me levou a ela e ela a mim, nossos lábios se tocaram eu esqueci o desconforto do carro pequeno, o gosto era maravilhoso, e sempre queríamos mais, ela terminou com um pequeno selinho em mim:

— Acho que é hora de eu ir amor, me passa seu contato né.

— Claro. — Eu passei, entrei e estava nas nuvens, o céu estava mais estrelado, só podia escrever para mostrar a ela:

“Conhecer você

De forma tão inesperada

De forma tão apaixonada

Poesia personificada

Nossos olhares se encontrando

Quando nossas mãos se encontraram

Nossas almas se atraíam

E nossos lábios

Selaram

E demonstraram

Tudo que sentimos

Um pelo outro

Foi como se a chave do paraíso

Estivesse em seus lábios

Viajante do Tempo”

Eu estava feliz, apaixonadamente feliz como sempre quis, sem mágoas, sem complicações, apenas dois corações felizes desejando um ao outro.

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