Dance, pois dance, ó palhaço universal; revolucione, aniquile: o núcleo terrestre é teu domínio, o núcleo do homem teu flagelo. Torvo, maledicente — perpetua tua risada para ao justo martirizar —, tua dança é mais que sepulcro, que funéreo e decaído, e teu bailar irradia lascívia nos berços da vida mais vestal — risadinhas na alcova da freirinha violada (e rá, e rá e rá!).
Passos loucos que repetem, agonias a reproduzir: as brincadeiras de morte que te efluem plantam medo e colhem verdade no pequenino, covarde Satanás. É o demente, o antagônico: febril espiral desesperada; veio dos elétricos volteios dos círculos abissais da carne, do sangue sufocado em merda, onde fez-se brusco incorrigível, horrível, penetrante sensual — empinado, espolinhado, retorcido e a cantar melosamente…
Menininha, diminuto deusinho da cosmogonia de perfídias. Sempre convida, ó Mestre, ao macabro e multiforme nas formas sangrentas da luxúria (no portão dedilhado por querubins estraçalhados, estuprados, devorados)… Resplandece dentre todos, dançarino das alturas — as cores vivas das divinais abóbadas insanas o brindam e abençoam, caro augusto, reverso bíblico: risonho e sideral!
Do grave, gorgôneo e pesado nada conhece, bailarino do pior: desintegrador aniquilante e bem-aventurado, inventor e reversor das coreografias do próprio espaço, gozador no centro da existência a gargalhar sem remorso — anjo mau, patriarca do caos, um apalermado destruidor. Teu tempo é o de morte, teu sonho: massacrar; sapateia sobre os fetos esmagadinhos, ó venenoso revoluto: faz a querida, doce mãe chorar. Revolucionário do definitivo — maior ator, diretor, público: soberba sombra a recitar a piada infinita.