A Margarida da Calçada
Maria Clara Bruno
Tipo: Conto ou Crônica
Postado: 06/10/21 10:28
Editado: 06/10/21 11:02
Gênero(s): Drama Reflexivo
Avaliação: Não avaliado
Tempo de Leitura: 6min a 8min
Apreciadores: 5
Comentários: 5
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Palavras: 986
Este texto foi escrito para o concurso "Concurso de Primavera - Flores Protagonistas" A primavera está iniciando e com ela um novo concurso se esgueira pelos corredores da Academia de Contos trazendo as cores desta estação encantadora, A Primavera. Ver mais sobre o concurso!
Livre para todos os públicos
Notas de Cabeçalho

Olá gente, muito bom dia! Como estão?

Devo dizer que achei difícil escolher uma flor favorita, no início. Gosto muito de flores, e não sei o nome da maioria, somente algumas, do tempo em que minha curiosidade me levou a pesquisar os significados de algumas delas. Mas, quando parei para refletir sobre o concurso, em meu coração lembrei das margaridas.

Sempre me encantou como elas podiam crescer, simples, nas rachaduras da calçada. Eu achava (acho, ainda) lindo e inspirador como elas podem ser tão pequenas e tão bonitas.

O significado das margaridas são pureza, inocência, virgindade, sensibilidade, paz, bondade e afeto. Seu nome vem do latim de "pérola" e, em inglês (daisy) seu nome parece ser nascido de "Days-eye" ou "Olho do dia". Referências a esse site https://www.significados.com.br/flor-margarida/ pelos significados.

Enfim, espero que gostem do conto!

Capítulo Único A Margarida da Calçada

Da janela que a rachadura de concreto fazia, ela se esticou e se debruçou. Os braços, esverdeadas e macias folhas, formavam um apoio para a cabeça; o cabelo loiro e o chapéu branco faziam a loucura de mostrar que ali na secura, no sol e na rachadura nascia uma flor, delicada e fresca. Contrastante com o cinza, via-se olhando para o céu, voltada a ele. O sol parecia a chamar pelo nome, de forma serena, suave, tão doce quanto o mel que produziam as abelhas.

Margarida, era o que o sol dizia.

E, conforme chamava, ao caule que chamava de corpo respondia, se erguendo ao sol, embora pendendo como uma donzela debruçada sobre o parapeito da janela. Ainda que tivesse acabado de, enfim, desabrochar, alguém já devia ter pisado onde era sua casa pequenina, seu corpo sem medida. Logo o bom dia da estrela diurna tocava seus ouvidos, discretos, escondidos sob o cabelo, e a língua mexia-se dentro da boca, somente para auxiliar no esboço de um sorriso, e se esqueciam todas as tristezas, e o caule pendente.

- Bom dia!

E ela sentia, no resplandecer da alegria das primeiras horas da manhã, que finalmente a primavera lhe cumprimentava, e suas irmãs flores acenavam com o balançar do vento. Pétalas se abriam, folhas se tornavam brilhantes como cetim, refletindo as gotas do orvalho que encerrava seu turno, também sorrindo para o sol. Primavera. As irmãs rosas abriam suas pétalas, cacheados cabelos que pendiam, e se mantinham intactos, no ar! Viviam elas no jardim ao lado da calçada de concreto, decorando uma cerca oposta à margarida. A pequena, simples flor do campo cresceu em uma terra tão improvável, com o sol escaldante da rachadura e a irrigação as vezes suave, as vezes agressiva da chuva que vinha por vezes cumprimentá-la. Arqueada sobre o peitoril da rachadura, ela encarava o jardim. Rosas, crisântemos, Girassóis e bem-me-queres, mesmo a pequena arvore podada no jardim dava seu bom dia. E, diante do esplendor alheio, a margarida fazia-se senão se perguntar:

Como seria a primavera, se não houvesse outras flores?

Achava-se, ali, apagada pela beleza das outras flores, que tinham como adorno a grama verde, magnífica do jardim. As rosas, famosas pelo amor, cantavam sua canção apaixonada, encarando as pessoas que passavam pela rua. E, impressionados, os humanos comentavam ao passar:

“Oh, que belas rosas! O perfume dos jasmins chega tão próximo de mim, como se estivesse ao meu lado! Ah, primavera! Lindo jardim”

E a calçada que lhe servia de adorno mais parecia uma triste camisola, larga e sem brilho. Suas folhas a decoravam, mas, no olhar da pequena margarida - que se sentia destruída - parecia que suas folhas eram opacas, mal tocadas pelo orvalho noturno. E as rosas resplandeciam.

Observou a grama verde, bem aparada; os arbustos cortados em formatos exuberantes que transpareciam riqueza, classe, paixão. E, olhava ao seu redor, na rachadura de concreto que havia brotado, com sorte, no meio da calçada. Passavam as pessoas por ela e mal olhavam, mal viam sob seus pés a flor tão pequena a encará-los de volta. Os olhos entristecidos da pequena viam-se encharcados; não sabia se pelo orvalho que ainda restava, ou pelas lágrimas. Sem ser vista, como seria sua primavera? Fitou mais uma vez o jardim, que parecia ainda mais belo, com o brilho da água em seus olhos. As flores ali, cada uma chamava a atenção de um transeunte diferente. Uma senhora feliz cumprimentou os girassóis, uma donzela apaixonada debruçou-se sobre as rosas, um poeta de passagem sorriu para os jasmins, e fez um pequeno haikai, que ali mesmo recitou. Algumas pessoas riam-se, e a brisa fresca espalhava o aroma. Despercebida, a margarida tratou de encarar o céu, para soar menos triste.

As poucas nuvens que o cobriam pareciam singelas, viajantes sem destino. Cada uma se assemelhava a uma flor, delicada e fresca; juvenil como a estação. As pétalas pareciam fofas, acompanhadas tão devotamente pelas sépalas; eram uma. Tudo exalava beleza, paixão. Tudo era amor, e temor para a margarida.

Envolvida em seus próprios pensamentos, ela pouco notou a presença de um sapato em sua direção. Quando viu, tragicamente lembrou que flores não podiam se mover – com exceção das plantas carnívoras, mas aquelas eram belamente traiçoeiras – e ficou ali, esperando seu fim. Pisoteada por alguém tão maior e mais feroz que ela, se via em desamparo, quando um gritinho no horizonte apareceu. Uma menina, pequena como ela, agitada como um girassol, perfumada como um jasmim e rosada como a rosa, correu até o homem que quase a atingiu. Viu que o alto gigante sorriu para a menina, e indagou o motivo de ela tê-lo parado tão abruptamente. A moleca, com inocência, apontou para a margarida. Por trás das lentes do senhor, a flor via que ele encarou, tão costumeiro, como se já houvesse visto muitas iguais a ela.

Mas, curioso, ele indagou:

- Por que tão afobada, se é só uma margarida? Tem tantas como esta.

- Porque, papai, ela parece comigo!

Nesse instante, a menina se sentou ao seu lado. A flor, vendo nos olhos dela tanto amor quanto nunca imaginou que receberia, nada mais pode fazer além de abrir mais suas pétalas, esticar seus bracinhos de folha, e dançar balançando o caule com o vento que vinha. Nunca se viu na vida uma flor tão feliz e tão formosa quanto aquela margarida. A criança sorriu; e ela também.

Se fosse um sonho, pediria ao céu para nunca mais acordar. Se fosse delírio, naquela doce ilusão preferia ficar.

A menina se levantou e, singela como criança, pôs um palito fino ao lado de seu caule, de forma a sustentá-la, mesmo que de forma estabanada.

Estava bem. Sua essência era frágil, porém, como parte da primavera, coloria todos os olhos que a viam, com a pureza e simplicidade, junto com todas as flores, todos os sorrisos. Se agora estamos falando da menina ou da margarida, ninguém sabe; e o resto é história...

❖❖❖
Notas de Rodapé

Eu espero de coração que tenha sido prazerosa sua leitura!

Com alegria escrevi, e com mais alegria entrego meus textos a você que está lendo!

Um grande abraço, leitor!

Fiquem com Deus

Apreciadores (5)
Comentários (5)
Postado 10/10/21 13:24

Que texto mais fofinho!!

No começo eu estava tão triste pela Margarida, mas quando a menina sorriu para ela, e ela sorriu de volta para a menina, tudo se iluminou!!

Adorei também o último parágrafo, por estar falando de ambas, de uma forma tão doce!!

Parabéns pelo lindo texto, Srta. Maria Clara <3

Postado 13/10/21 09:50

Olá Meiling! Muito obrogada, fico muito feliz que gostou do texto <3

Postado 02/11/21 19:08

Querida Maria,

Gostei da vida da sua Margarida, resistente, resiliente e bela ao seu modo.

A forma como deu sentimentos e desejos para ela foi esplendorosa, me tocou.

Obrigada por participar do concurso

Boa sorte

Postado 03/11/21 13:48

Obrigada, Lady Lotus!

Fico grata por ter participado do concurdo e por poder ler suas impressões sobre o texto!

Postado 03/11/21 08:58

Que fofo~~~

É de um charme encantador essa sua obra, Maria Clara Bruno! Essa pureza que transborda ao longo do texto todo é de encher os olhos e seu final deixa um gostinho de querer um pouco mais dessa guerreira loira e delicada.

Muito obrigado por compartilhar sua obra e participar do concurso!! Adorei essa pequenina flor ♥️

Assinado uma pequena vampira.

Postado 03/11/21 13:47

Muitíssimo obrigada, Shizu! Fico feliz que pude passar tal sentimento pelo meu texto, do fundo do coração! Muito obrigada pelo concurso, o tema foi inspirador.

Att: Maria Clara

Postado 14/02/22 15:24

Noss, fiquei num crima depresso no começo do texto uahuaha mas é sempre bom lembrar que ainda temos tanta coisa boa no mundo. Gostei muito do jeito que você escreveu, não só o final, mas principalmente a própria margarida em sua perseverança. Ficou lindo, amg~

~K.D.War

Postado 19/02/22 12:23

Obrigada, de coração! Haha não queria deixar ninguém triste no começo, mas um texto inteiramente feliz, ao mesmo tempo, seria dificíl!

A perseverança é, de fato, o que mais admiro nas margaridas. Fico feliz de ter passado isso!

Um abraço

Postado 17/10/22 18:11

Que margarida fofinha. Deu vontade de apertar e tacar num potinho!

Parabéns!