Poderia ter sido diferente, talvez, quem sabe...
se você tivesse me conhecido antes
do mundo me destruir completamente,
ou se eu tivesse tido menos medo de enfrentar
as pessoas, as situações e meus próprios medos,
talvez se eu tivesse algum tipo de poder e controle total
sobre tudo o que eu quero, faço, penso, falo e sinto...
Talvez se eu não fosse tão desinteressante e desinteressada,
talvez se eu ainda acreditasse em algo além da gente...
Mas se eu ao menos tivesse uma alma boa
o suficiente para ser convencida
por uma força superior que está bem, bem longe da humanidade
então talvez orações fossem de fato ouvidas,
então a vida seria mais fácil.
Mas aí, talvez eu não seria eu mesma
e você não seria tudo que é você...
De quê adianta ser perfeito?
Talvez se os antepassados
tivessem sido criados com mais empatia, respeito e cuidado,
talvez então, eles teriam nos acolhido da forma correta
sem repassar os imensos traumas e crendices limitantes
de geração, para geração...
Até respingar em nós
dois pequenos seres humaninhos assustados
que viraram adultos cheios de ódio:
dois artistas únicos e completamente desconhecidos
dois idiotas cuidadosos
dois grandes mentirosos
dois corpos em movimento.
Você e eu.
Eu quero para sempre nós,
e eu não quero te perder (jamais),
mas devido às últimas catástrofes,
eu só gostaria de saber
onde foi que eu perdi a conta?
Quando foi que meu motor e engrenagens
começaram a falhar?
me diz, por favor, eu não quero...
e eu não posso perder isso aqui!
Foi minha risada rasgada que desagrada os ouvidos?
Com certeza foram meus espirros supersônicos ou os cabelos no ralo da pia...
Ou meus pedidos diários intermináveis:
tome, vá, chegue, peça, pegue, compre, traga, fume, evapore
ria, pule, corra, ande, coma, lave, durma, ame, beije
lamba, bata, morda, assopre, molhe, regue, seque, voe
Ah, meu amorzinho...
Eu sei bem como eu posso ser infernal às vezes
(ou todos os dias).
Me pergunto ainda se foi o meu desânimo, a minha preguiça
minhas roupas, meu corpo ou minhas unhas inexistentes
os palavrões e xingamentos repentinos
as panelas e portas batendo
a minha desorganização e os banhos dia sim dia não
a louça que fica na pia até eu ter coragem de lavar
meus quadros péssimos que gastam muita tinta
meus poemas dolorosos e sem nenhuma rima
ou talvez foram minhas músicas tristes e desafinadas
que atiçam as piores memórias e sentidos?
O que pode ter sido?
Será que foi a cidade?
O estado?
O país?
A crise capitalista na América Latina?
O Planeta Terra ou o Sistema Solar?
Essa realidade ou as vidas passadas
das quais não nos lembramos mais?
Eu fico tentando encontrar motivos, razões,
explicações, pistas
evidências, provas
do real motivo pelo qual
você e eu
continuamos num campo de guerra
contra monstros invisíveis e cruéis demais.
Eu não quero te perder,
mas por amar você,
(e nós, e nossa vida livre, e todas as nossas cores)
aconteça o que acontecer,
eu sempre vou lutar e acreditar
em um final feliz
em que nós dois estejamos bem.
E hoje eu só fiquei chorando até mais tarde,
para não derramar ainda mais escuridão em você.
Eu quero te ver feliz, saudável e bem.
Pois eu preciso ser assim também.
Você me acompanha?
Até o fim dos tempos?
Até onde der?
Minha mão só se encaixa na sua,
Eu só sei pensar em uma vida que tenha você.